Ordem paga 36 mil euros para ter enfermeira em telenovela

Bastonária confirma contratos e diz que patrocínio da personagem na telenovela da SIC Nazaré faz parte da estratégia de dignificação e promoção da profissão. A ordem pagou também 70 mil euros por pareceres sobre a sindicância.

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Imagem de um vídeo em que Liliana Santos explica a sua participação na telenovela Ordem dos Enfermeiros

A Ordem dos Enfermeiros (OE) pagou 36.080 euros, mais IVA, para ter uma personagem enfermeira na telenovela da SIC Nazaré. Trata-se da enfermeira Cláudia, personagem interpretada pela actriz Liliana Santos.

De acordo com o contrato, publicado em Agosto no portal BASE de contratação pública e assinado a 25 de Julho de 2019, o “objectivo é a aquisição de serviços de promoção e difusão da profissão de enfermeiro em programa televisivo”.

Esta aquisição foi confirmada ao PÚBLICO pela própria bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco. “Sim, é verdade. Esta situação está inscrita na estratégia de divulgação e dignificação da profissão”, afirmou a bastonária, sublinhando que “não foi por acaso que a palavra ‘enfermeiro’ foi escolhida como a palavra do ano em 2018”.

Ana Rita Cavaco defende que ter uma personagem numa telenovela é uma forma de “pôr a sociedade a pressionar o poder político para as questões que têm envolvido a profissão” e também de “retratar a profissão com tudo o que ela tem inerente para saber o que faz um enfermeiro”.

A bastonária revelou ainda que a Ordem dos Enfermeiros, além de patrocinar esta personagem, dá ainda apoio técnico a uma outra actriz que faz de enfermeira especialista em reabilitação numa outra telenovela, sem qualquer custo. “Foram até promovidas visitas a determinados locais para que as personagens sejam fidedignas à profissão”, disse.

“Esta é uma estratégia que visou romper com a linha seguida pela anterior direcção”, afirmou, acrescentando que é tudo feito com “total transparência e que é por isso que está publicado no BASE”.

Segundo Ana Rita Cavaco, há outras entidades a patrocinar personagens em telenovelas. “A EMEL, por exemplo”, referiu.

70 mil euros por pareceres sobre a sindicância

No portal BASE também foram publicados dois contratos, um de 50 mil euros e outro de 20 mil, que visam a aquisição de pareceres relacionados com a sindicância ordenada pelo Ministério da Saúde em Abril, e que concluiu que há fundamentos para dissolver os órgãos da ordem.

Um dos pareceres foi sobre questões jurídico-administrativas e jurídico-constitucionais resultantes da sindicância e foi contratado ao professor Catedrático na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Paulo Manuel Cunha da Costa Otero, por 50 mil euros.

O outro parecer jurídico foi sobre o processo de sindicância, com especial enfoque na temática da protecção de dados. Por este segundo parecer, a OE pagou 20 mil euros à ASP - Formação e Consultoria, Unipessoal.

 A bastonária confirmou os contratos: “Pagámos o que as pessoas pediram para fazer o trabalho. Não podíamos ficar de braços cruzados depois do ataque da ministra da Saúde. Os pareceres foram para defesa da Ordem dos Enfermeiros.”

“Publicamos todos os procedimentos porque sempre pugnamos por uma gestão de transparência”, sublinhou.

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