Nuno trocou o trabalho pelo YouTube, Liliana é influencer em part time, já Susana debate-se para viver do blogue

No Congresso Internacional Labour 2030, na Alfândega do Porto, debateu-se se “ser influenciador é uma profissão”. Pode ser, mas não é fácil.

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Liliana Santos, Tiago Froufe, a jornalista Vanda Jorge, que moderou o debate, Nuno Agonia e Susana Ribeiro, no Porto DR

A história de Nuno Agonia como youtuber começa, na Póvoa de Varzim, quando lhe é diagnosticada tuberculose e tem de deixar de trabalhar na área informática por dificuldade de mobilidade. A partir de casa, Nuno cria um canal de YouTube para falar sobre tecnologia. Hoje tem mais de um milhão de subscritores, deixou o emprego e dedica-se a 100% à plataforma, conta durante o Congresso Internacional Labour 2030, no Porto, onde se debateu o futuro do trabalho

Se Nuno Agonia se dedica a tempo inteiro, a actriz Liliana Santos utiliza as redes sociais para dar conselhos de beleza, moda, bem-estar ou gastronomia, é uma influencer e recebe por isso. Já a jornalista freelancer Susana Ribeiro dedica-se ao seu blogue, mas também a organizar viagens, levando turistas a diferentes partes do mundo. Contudo, tem de fazer outras actividades para completar o seu rendimento.  Os três, assim como o empresário Tiago Froufe, marcaram presença no colóquio sobre o futuro do trabalho, em que se debatia se “Ser influenciador é uma profissão?”. Actualmente, cerca de 20 milhões de pessoas são consideradas influencers e fazem das redes sociais a sua principal fonte de rendimentos, refere a organização do evento, que terminou na sexta-feira. 

“Chegas a um ponto que percebes que é possível ganhar dinheiro”, diz Nuno Agonia ao PÚBLICO. “O Nuno vive só disto. É rentável. Pode ganhar muito dinheiro dependendo da publicação que faz”, divulga Tiago Froufe, responsável pela agência Luvin, que representa o informático. Para Froufe, “vale a pena trabalhar nesta área, porque é rentável. E quanto mais tempo dedicar e conteúdo tiver, mais retorno tem”. Como tem vindo a acontecer com o informático desde que há cinco anos começou esta actividade, quase por brincadeira e para ocupar o tempo e que, por vídeo, pode ganhar três mil euros.

Se Nuno vive exclusivamente dos rendimentos que esta plataforma de partilha de vídeos lhe dá, a actriz Liliana Santos divide o tempo entre os bastidores das novelas e as partilhas de posts no Instagram. “A Liliana a ganha dinheiro com isto”, mas é difícil quantificar quanto mensalmente, porque depende muito, continua Froufe, que tem uma dúzia de celebridades agenciadas, entre apresentadores de televisão, como Cristina Ferreira, actores, como Liliana Santos; ou influenciadores digitais que criam conteúdos, como o youtuber Nuno Agonia. “Recebemos muitos pedidos de marcas de beleza, cosmética e gastronomia. E depois orçamentamos”, explica o empresário.

Um “extra simpático”

No caso de Liliana Santos, que interpreta a enfermeira Cláudia na novela Nazaré, paga pela Ordem dos Enfermeiros, a visibilidade como actriz ajudou-a no seu lançamento nas redes sociais, hoje já com 223 mil seguidores no Instagram. “Os actores entram nesta área por terem muita visibilidade, e ser mais fácil chegar ao público. E isso também aconteceu comigo”, conta ao PÚBLICO, explicando que “muitas pessoas pedem conselhos no Instagram sobre beleza, bem-estar e gastronomia”. Os seguidores chegam a perguntar quantas vezes vai a actriz ao ginásio, o tipo de alimentação que tem ou qual o creme que utiliza. Liliana admite que no início não foi fácil, porque tinha de ter tempo e disposição para ter uma comunicação “sempre activa”. “Hoje em dia, já faz parte da minha vida de uma forma natural. Só tens de dar a cara e publicitar a marca o mais que puderes”, sublinha. Aliás, continua: “o Instagram é um extra muito simpático, fácil para mim, porque estou a falar de coisas de que gosto, desde maquilhagem, bem-estar e gastronomia. Adoro cozinhar!” 

“As camadas mais jovens ambicionam ter esta vida, porque parece tudo muito fácil”, diz Nuno Agonia. Mas no início não foi. Só há dois anos é que as marcas começaram a contactá-lo para mostrar os produtos. Primeiro apresentava telemóveis de amigos e de conhecidos. “Agora uma marca pergunta, por exemplo: Nuno, estarias interessado em fazer análise e mostrar este smartphone? Se vir que é bom para o meu público, então acordamos valores.” E como é efectuado o pagamento? “É como outro trabalho qualquer”, responde. “Sou pago pelo YouTube, a Google. Também há trabalho que faço para agências de publicidade, que são mediados pela agência que me representa, em que é acordado um valor por um serviço, seja de um telemóvel ou de um carro”, exemplifica.

No YouTube, em dez minutos, Nuno aparece a desembrulhar produtos, como telemóveis e a explicar como funcionam. Muitas vezes, fá-lo em directo. “Tenho um grande à vontade e há vídeos que funcionam melhor sem preparação. Por exemplo, o abrir a caixa com o produto é uma experiência e um momento de entretenimento”, argumenta, boné na cabeça, com o seu estilo muito próprio de youtuber a que acostumou os seus seguidores. “O teu carisma é superimportante”, elucida, entusiasmado. E sem disparates ou asneiras, porque muitos seguidores são crianças que o abordam na rua para pedir autógrafos e tirar fotografias com ele.

Susana Ribeiro, também presente no encontro, é fundadora do site de viagens Viaje Comigo e confessa que ganha tanto como quando era jornalista. “Muitas pessoas perguntam-me se consigo viver disto. Tudo depende do estilo de vida que se tem, mas continuo a ganhar pouco”, diz a blogger cujo site, já com seis anos, tem mais de dois milhões de visualizações por ano. “Não me considerando bem uma influencier, porque não sou uma figura pública, sou paga pelo trabalho que faço, que é exactamente o que fazia para os meios de comunicação social onde trabalhava”, esclarece.

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A freelancer tornou-se especialista em dar dicas de viagens e inspira mulheres a viajarem sozinhas, é ainda tour leader para vários destinos, através de uma agência de viagens. “Tal como fazia nas publicações onde trabalhava, também no blogue recebo convites para press trips, faço a viagem e escrevo, e não me pagam por isso.” No entanto, Susana complementa o seu rendimento como voz off, fazendo ainda fotografia e produção de conteúdos.

E quais são as principais dificuldades com que se debate quem quer viver das redes sociais? Susana Ribeiro responde que o mais difícil é não ser roubada, quer nos seus textos quer nas fotografias, que pode ver publicados noutros sites. Já Nuno Agonia admite que a maior dificuldade é a gestão de expectativas porque os seguidores querem sempre “mais e melhor”.

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