Na cozinha vegana do Kind Kitchen não há um rei do prato

Há coisa de um ano, as irmãs Ana e Eva Egmond decidiram que continuar a comer qualquer tipo de alimento de origem animal seria hipócrita. Tornaram-se veganas – e a sua cozinha, aberta a todos na Baixa do Porto, também.

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Ana e Eva Egmond Nelson Garrido
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Nasceu na Baixa do Porto, e rodeado de carne por todos os lados (Pedro dos Frangos, Sabor do Leitão, Conga...), um restaurante 100% vegano que não quer ter um rei no prato. “Na cozinha vegana não há um rei do prato”, sublinham as irmãs Ana e Eva Egmond, que defendem com unhas e dentes o lema Kind Kitchen – gentis com os animais, enérgicas na cozinha.

Be kind to every kind”. O mais recente restaurante vegano no Porto, onde, segundo a HappyCow, há cerca de 20 espaços que não servem qualquer produto de origem animal, quer ser meigo e justo com todas as espécies. Com os animais, logo à partida. Com os veganos, os mais saudáveis e os nem por isso. Com todos os que querem comer bem independentemente de qualquer princípio ético animal.

Naturais de Vila do Conde, Ana e Eva, 28 e 25 anos respectivamente, sempre gostaram de cozinhar e sempre tiveram o sonho de ter um espaço próprio. Entretanto, “há mais ou menos um ano”, e mais ou menos ao mesmo tempo, tornaram-se veganas. “Não nos tornámos veganas de um dia para o outro. Deixei primeiro a carne, depois deixei quase tudo ao mesmo tempo”, conta Ana, cuja metamorfose se deu durante o CouraVeg, congresso internacional anual de Paredes de Coura que se realiza na Quinta das Águias, epicentro de um movimento pelos direitos dos animais e, em sintonia, um laboratório de receitas veganas. “Fui tendo acesso a cada vez mais informação e foi inevitável”, justifica. “Causas não faltam. Há mais razões para ser vegana do que para não ser”, junta Eva. Ana sentiu que esse foi o momento “decisivo”. “Já não há volta a dar. Continuar a comer qualquer tipo de alimento de origem animal é hipócrita.”

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Ana lembra-se de ter pensado: “Também faz bem à saúde, também é bom para o planeta... descobri a pólvora! Isto é que é a forma de se viver. O que é que eu andei a fazer até agora?” Para além disso, a cozinha é “mais divertida e inventiva”. “E não estamos presas àquela coisa do prato com o bife ou a posta de peixe com a salada e o arroz ao lado.” “Ao início”, acrescenta Eva, “pode parecer mais difícil, mas à medida que vamos explorando até se torna mais fácil, mais flexível, mais diversificado. Parece que abrimos a mente e tirámos as palas”.

A dupla ganhou “uma causa mais activa” e isso ajudou a impulsionar o projecto, hoje com uma equipa de cinco pessoas que se multiplica em tarefas entre uma cozinha, que querem aberta, e uma sala de refeições – com um arco com assinatura de Contra (Colectivo RUA) –, que desejam pequena.

O restaurante Kind Kitchen não está preso ao biológico, tenta preservar a comida caseira e tem cuidados ambientais nas pequenas coisas (as garrafas de água filtrada são de vidro, o papel é reciclado, os sacos de lixo biodegradáveis, evitam os sacos de plástico nas compras, todas as embalagens de take away são biodegradáveis). Tem “uma vertente saudável” e uma “parte junk food”, assume Eva, formação em Gestão Hoteleira.

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Para partilhar, em doses generosas, há falafel com molho de iogurte, nuggets de tofu com molho barbecue, húmus com palitos de cenoura e pão de levedação natural torrado (da padaria Garfa), pasta de abacate com chips de milho, nachos "loaded” com feijão preto, tomate cereja, molho chili, pasta de abacate e “queijo” cheddar gratinado ou um mix de dips (húmus, pasta de abacate e molho pesto).

Da carta fazem parte uma página de buddha bowls (Mexican, Thai e Middle East), uma de tostas (húmus e cogumelos, Caprese e tuna melt) e uma de hambúrgueres (cogumelos e feijão, grão e quinoa e seitan schnitzel). Os bolos são fornecidos pelos projectos Vgood e Mr. Tomy. Os legumes e fruta chegam de um produtor de Vila do Conde.

“Temos uma carta que mesmo quem não é vegano consegue apreciar, que desperta o interesse de quem não está habituado e de quem nunca experimentou”, assegura Eva. “A maior parte das pessoas que comem cá não são vegetarianas. Queremos provar que não temos que abdicar das comidas e dos sabores a que estávamos habituadas quando não éramos vegetarianas.”

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