Empresa registou dois acidentes com helicópteros de combate a fogos em dias seguidos

Piloto que morreu esta quinta-feira era comandante dos Bombeiros de Cete e capitão da Força Aérea. Tudo indica que bateu num cabo de alta tensão. Último acidente registara-se na quarta-feira.

Fotogaleria
Gonçalo Dias
Bombeiro
Fotogaleria
Gonçalo Dias
Fotogaleria
LUSA/RUI FARINHA
Fotogaleria
Elementos da Protecção Civil LUSA/RUI FARINHA
Luís Montenegro
Fotogaleria
LUSA/RUI FARINHA

Um emaranhado de fios de alta e baixa tensão saltam à vista de quem passa junto à Escola EB 2, 3 de Sobrado, em Valongo, onde caiu esta quinta-feira um helicóptero de combate aos incêndios, um acidente que provocou a morte do piloto, a única pessoa que seguia no aparelho. A vítima de 35 anos, Noel Ferreira, era capitão da Força Aérea e simultaneamente comandante dos Bombeiros Voluntários de Cete.

A aeronave, um Ecureil B2, estava ao serviço da Afocelca, um agrupamento complementar de empresas criado por sociedades ligadas à indústria da pasta do papel, que se dedica a combater os fogos nas áreas geridas pelos grupos Navigator e Altri e nas suas proximidades. Apesar de pertencer a uma entidade privada, o helicóptero, operado pela empresa Helibravo, fazia parte do dispositivo de combate aos incêndios, a par dos meios aéreos que estão ao serviço da Protecção Civil. 

Orlando Ormazabal, director executivo da Afocelca, adiantou ao PÚBLICO que o acidente ocorreu pelas 16h25 e foi presenciado pelo chefe da equipa helitransportada que tinha saído meia hora antes da base da Afocelca, na Quinta Rei, igualmente em Valongo. “O piloto deixou a equipa no local do incêndio fez um par de lançamentos de água com o balde e [o aparelho] caiu”, relata Orlando Ormazabal que diz que tudo indica que o piloto embateu num cabo de alta tensão.

Quando deu o alerta para o serviço de emergência da Afocelca, o chefe de equipa já dava a indicação que o piloto teria morrido, o que veio a confirmar pouco depois. O helicóptero incendiou-se. Não é claro se caiu sobre as chamas ou se a sua queda deu origem a uma nova ignição, mas Orlando Ormazabal acredita mais na segunda hipótese. “Ele caiu de uma altura de 15 a 20 metros”, completa.

Miguel, 60 anos, um reformado que vive em Sobrado, garante que assistiu a tudo. “Vi o aparelho a embarrar com a cauda num fio de alta tensão, que bateu noutro fio e provocou uma explosão”, descreve o reformado. Várias pessoas no local ouviram igualmente um estrondo e depois uma coluna preta de fumo. As autoridades não deixaram os jornalistas aceder ao local do acidente, já que ao início da noite ainda aguardavam a chegada dos técnicos do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, que irão analisar o incidente e elaborar um relatório detalhado sobre as causas da queda. Mas quem viu garantia que a aeronave tinha ficado completamente destruída pelo fogo. 

O presidente da Helibravo, João Bravo, ainda não estava recomposto do acidente desta quarta-feira de manhã com um Ecureile B3 que estava ao serviço da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil e virou durante a descolagem da base de Pampilhosa da Serra, quando foi obrigado a confrontar-se com uma situação bem pior. A morte de um piloto da Força Aérea “experiente” que trabalhava para si “há três ou quatro campanhas de fogos”, relata. O aparelho, que era da empresa, ficou totalmente destruído pelas chamas. 

Estava na Força Aérea há mais de 15 anos

Contactada pelo PÚBLICO, fonte da Força Aérea Portuguesa confirmou que o piloto prestava também serviço na esquadra 751, sediada na Base Aérea do Montijo. A mesma fonte referiu ainda que o capitão tinha solicitado autorização para pilotar aeronaves da companhia proprietária do helicóptero e que estava autorizado a exercer tal função. O piloto pertenceria à Força Aérea há mais de 15 anos.

Este é o quarto acidente este ano com aeronaves de combate a incêndios, dois ocorreram em Julho com dois aviões Air Tractor e outros dois, com helicópteros Ecureil, em Setembro. Pedro Silveira, da Heliportugal, outra empresa de meios aéreos que opera nos incêndios, sublinha que esta é uma actividade de alto risco e que regista em média uma percentagem de 5 a 6% de acidentes, alguns fatais. “Ou seja num grupo de 20 aparelhos há um que regista um acidente”, explica.

Há menos de um ano, em Dezembro do ano passado, o concelho de Valongo também foi palco de um outro acidente grave com um helicóptero, operado pela empresa Babcock, desta vez ao serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica, que provocou a morte aos quatro ocupantes do aparelho.

No quartel dos Bombeiros de Cete, em Paredes, o ambiente era esta quinta-feira pesado. Semião Fonseca, vice-presidente da assembleia geral, recordava que era o terceiro comandante que via morrer. O primeiro há várias décadas ao serviço dos bombeiros, o que aconteceu igualmente com o segundo. “Este não estava ao serviço dos bombeiros, mas era como se estivesse”, resumia. Orlando Ferreira, adjunto de comando, garante que o comandante era um homem “muito querido na terra” e um visionário. “Dizia-lhe muitas vezes que ele estava dez anos à nossa frente”, conta ainda transtornado com a notícia. Humilde, trabalhador, dedicado e empreendedor são adjectivos que usa para descrever o seu colega. “Ainda ontem estivemos numa reunião nos bombeiros até às 2h30”, desabafa. 

Sugerir correcção
Comentar