Macron anuncia 18 milhões de ajuda de emergência do G7 para a Amazónia

Bolsonaro manda aviões militares combater as chamas no estado de Rondónia, mas não avança pormenores sobre outras acções para lutar contra os incêndios. Macron critica Presidente do Brasil por comentários sobre primeira-dama francesa.

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Zona de floresta queimada no estado de Rondónia Ricardo Moraes/REUTERS

O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que o grupo das sete nações mais industrializadas (G7) vai dar uma ajuda de emergência de pelo menos 20 milhões de dólares (17,9 milhões de euros) para lidar com os incêndios florestais na Amazónia. O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, não gostou da ideia e, no Twitter, não teceu duros ataques ao chefe de Estado francês, com Macron a responder-lhe à letra. 

“Não podemos aceitar que um Presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazónia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma ‘aliança’ dos países do G7 para ‘salvar’ a Amazónia, como se fossemos uma colónia ou uma terra de ninguém”, reagiu Bolsonaro na rede social, sublinhando que o mínimo que se pode exigir é “respeito à soberania de qualquer país”. 

Em Biarritz, onde se realizou a reunião do G7, Macron disse ter discutido “longamente” sobre os incêndios florestais na Amazónia com Donald Trump, e que o Presidente dos Estados Unidos apoia as iniciativas do G7. Antes, o chefe de Estado francês tinha dito que estavam a ser feitos contactos “com todos os países da Amazónia” para finalizar compromissos concretos ao nível “de meios técnicos e financeiros”. Não fez qualquer menção a uma eventual ajuda para a reflorestação, como inicialmente sugeriu, nem de travar a ratificação do acordo comercial da União Europeia com o Mercosul, assinado em Junho, após duas décadas de negociações. 

Soube-se esta segunda-feira que a maior parte dos 20 milhões prometidos serão destinados ao envio de aviões de combate a incêndios Canadair, segundo garantias da Presidência francesa à AFP. E na próxima Assembleia-Geral das Nações Unidas, no final de Setembro, os sete países mais industrializados vão propor um plano de médio prazo para a reflorestação da Amazónia, tendo como condições o Governo brasileiro trabalhar com ONG e as populações locais. 

Entretanto, no domingo, aviões militares Hércules C-130 começaram a ser usados no estado brasileiro de Rondónia para deitar água sobre os incêndios florestais na Amazónia, em resposta à indignação global com a destruição da floresta tropical. Foi o próprio Presidente Jair Bolsonaro quem o anunciou, através do Twitter, com vídeos do Ministério da Defesa do Brasil.

Bolsonaro anunciou ter autorizado operações militares em sete estados brasileiros para combater os incêndios que lavram descontrolados na floresta, em resposta a pedidos de ajuda dos governadores, disse uma porta-voz do seu gabinete. Esta resposta surgiu quando Macron disse que o G7 estava prestes a chegar a um acordo para “dar ajuda técnica e financeira” aos países afectados pelos incêndios na Amazónia – que este ano estão a lavrar com especial intensidade.

Só no Brasil registaram-se quase 80 mil fogos florestais até 24 de Agosto – o número mais alto desde 2013, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Insultos a Macron

Jair Bolsonaro e o Governo brasileiro têm reagido à preocupação do resto do mundo como se fossem atentados à soberania. Ainda no sábado, o Presidente brasileiro fez um discurso ao país, disponibilizado nas redes sociais, a que chamou “Uma mensagem para o Brasil e para o mundo sobre a nossa Amazónia e a campanha de desinformação fabricada contra nossa soberania nacional”. 

O Presidente e membros do seu Governo escolheram uma estratégia de confronto – e mesmo de insulto – com França e o seu chefe de Estado, Emmanuel Macron, nesta crise diplomática que envolve a Amazónia e o acordo do Mercosul, que afecta os interesses agrícolas (nomeadamente ao nível da exportação de carne) dos dois países. Bolsonaro fez mesmo comentários desfavoráveis à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, no Facebook. O Presidente francês classificou estes comentários como “tristes”, e disse que o “Brasil merece ter um Presidente à altura do cargo.” 

Bolsonaro anunciou ter aceitado a ajuda oferecida pelo primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu de um avião e técnicos especializados para as operações de luta contra os incêndios florestais – repetindo a oferta feita após o colapso da barragem de resíduos da actividade de exploração mineira em Brumadinho, no estado de Minas Gerais, no início deste ano.

O Ministério da Defesa brasileiro disse que há 44 mil militares disponíveis no Norte do país, na região da Amazónia, mas não adiantou quantos seriam mobilizados para lutar contra os incêndios florestais nem o que fariam. E, fora o estado de Rondónia, não há notícia de que estejam a ser mobilizados para combater os incêndios noutros locais. Mas o anúncio surgiu após um fim-de-semana marcado por várias manifestações no Brasil em defesa da Amazónia.

O Presidente da Colômbia, Ivan Duque, anunciou que iria tentar negociar um pacto para a conservação da Amazónia com os outros países que têm a floresta no seu território, primeiro em encontros bilaterais no Peru, esta semana, e em Setembro na Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Já o Presidente Evo Morales da Bolívia, que este ano enfrenta também uma vaga de enormes incêndios florestais, voltou atrás no domingo e agora aceita ajuda internacional para combater o fogo que duplicou de dimensão desde quinta-feira e engoliu até aldeias. Morales está em campanha eleitoral pela reeleição, daqui a dois meses, mas suspendeu as actividades.

Os fogos florestais na Bolívia têm-se concentrado em zonas de floresta perto da fronteira com o Paraguai e o Brasil, atingindo pelo menos um milhão de hectares.

Argentina, Paraguai, Peru, Chile e Espanha ofereceram ajuda à Bolívia.

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