António Costa admite governar em minoria e sem acordos

Líder do PS quer que Portugal continue a ser “uma espécie de aldeia do Astérix da estabilidade” e para isso rejeita um cenário pós-eleitoral à espanhola, onde o BE possa exigir entrar no Governo para garantir governabilidade.

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António Costa pede um "reforço claro" do PS à esquerda e à direita LUSA/RODRIGO ANTUNES

Um ataque claro ao Bloco de Esquerda, elogios ao PCP e a desvalorização do PSD: em entrevista pré-eleitoral ao Expresso, António Costa continua a resistir a pedir expressamente uma maioria absoluta e até admite governar em minoria e sem quaisquer acordos. Mas avisa para a necessidade de ter condições de estabilidade, sobretudo perante o risco de uma recessão económica internacional.

“Eu tenho dito que é fundamental um reforço claro do PS, acho que é preciso evitar uma situação à espanhola, onde tenhamos um PS fraco que conduza a uma situação de ingovernabilidade”, disse o secretário-geral do PS. Costa refere-se à forma como o Unidas Podemos, um partido-irmão do Bloco de Esquerda, exigiu entrar para o governo do socialista Pedro Sanchez para aprovar a sua constituição, o que foi por este recusado, conduzindo o país para um impasse que pode levar a novas eleições, as segundas este ano.

Isso acho que ninguém quer. Um dos factores distintivos de Portugal no conjunto da Europa é sermos praticamente uma espécie de aldeia do Astérix da estabilidade. E isso é uma mais-valia imensa no que pagamos em juros, na capacidade de atrair investimento estrangeiro”, sublinhou o primeiro-ministro. “O grande ganho desta legislatura foi a confiança que o país ganhou em si próprio e que internacionalmente depositam em nós. E o grande factor de estabilidade é o PS. É fundamental que saia reforçado destas eleições.”

Daqui ao ataque ao Bloco de Esquerda, que ao longo deste ano foi dando sinais de que gostaria de estar na próxima solução governativa, foi um passo. “Há um amigo meu que compara o PCP ao Bloco de uma forma muito engraçada: é que o PCP é um verdadeiro partido de massas, o Bloco é um partido de mass media”, disse Costa.

Em contraponto, 0 líder socialista elogiou a “maturidade institucional” do PCP: “Já fez parte dos governos provisórios, já governou grandes Câmaras, tem uma forte presença no mundo autárquico e sindical, não vive na angústia de ter de ser notícia todos os dias ao meio-dia... Isto permite uma estabilidade na sua acção política que lhe dá coerência, sustentabilidade, previsibilidade, e portanto é muito fácil trabalhar com ele.”

Estas questões vinham a propósito da possibilidade de se repetir a actual solução governativa, com acordos escritos, mas aqui António Costa deixa todas as soluções em aberto, porque “só depois das eleições é que saberemos quais são as condições de formação do Governo”. Admite governar em minoria, dizendo que as condições actuais são muito diferentes das do segundo governo de António Guterres, sem qualquer acordo e negociando com todos os outros partidos, incluindo o PAN.

Piscar de olho à direita

“Sem um PS forte não há a devida estabilidade. Fora isso, não faço escolhas de parceiros. Desejamos ganhar com o melhor resultado possível, fazemos uma avaliação muito positiva desta legislatura”, afirma. E tendo em conta “um cenário de muito maior incerteza internacio­nal”, interpela os eleitores para a questão que lhe importa: “Se precisamos de um Governo forte ou de um Governo enfraquecido.”

Sobre o PSD, a conversa é quase residual. Costa confessa não ter lido ainda o programa eleitoral do maior partido da oposição mas do que leu considerou “mau”, por “prometer tudo a todos”, e disse esperar que Rui Rio tenha um pior resultado que Passos Coelho em 2015. Mas não se quis pronunciar sobre a crise da direita, ainda que não esconda que espera ganhar com ela: “Espero ter mais condições para que os portugueses, que há quatro anos tiveram medo daquilo que o PS propunha, tenham confiança que o PS é o partido que garante estabilidade na vida pessoal, económica e política. E que a continuidade de boas políticas passa por um reforço expressivo da posição do PS”.

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