Quem me dera que a praia de Odeceixe fosse um segredo

Fica no Algarve mas ainda sabe a Alentejo. A praia de Odeceixe é de uma beleza de encher o olho. E, entre mar e ribeira, não lhe faltam encantos.

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Praia de Odeceixe Rui Gaudêncio
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Adegas Rui Gaudêncio
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Adegas Rui Gaudêncio
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Ribeira de Seixe Rui Gaudêncio
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Ribeira de Seixe Rui Gaudêncio

Quem não gostaria de ter uma praia assim só para si? Guardá-la, como um segredo de poucos, uma praia só para os amigos do peito? Um paraíso, quase para o ano todo, onde se possa passear entre as memórias das férias grandes de outros tempos e as novas memórias criadas em cenário de beleza visceral? Mas, se bem que todos temos direito aos nossos grandes sonhos e pequenos egoísmos, o certo é que esta nossa praia já não é segredo nenhum, nem é só para alguns felizardos.

É para todos e é, já há uns bons anos, uma das estrelas da costa portuguesa, entre declarações de amor na imprensa internacional, presença nas listas das melhores praias da Europa (no outro dia chamaram-lhe um dos “tesouros escondidos” europeus), visitantes ilustres (como os Kruder & Dorfmeister a apoiarem os bombeiros locais)​ e a principesca confirmação de ser uma das 7 Maravilhas - Praias de Portugal. Felizmente, não faltam espaço nem atracções paralelas ao maravilhoso areal da praia de Odeceixe, ali posta em sossego em localização mais que perfeita, a unir o Alentejo e o Algarve. E, como se não bastasse, com mais (pelo menos) duas jóias: uma mais pequena e resguardada praia ao lado, com atributos muito próprios, e uma praia fluvial, criada pela ribeira do Seixe, cujas águas vêm fresquinhas da Serra de Monchique e que aqui desagua.

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Posicionada oficialmente no concelho de Aljezur, mas com o de Odemira logo ali, a beleza desta praia da Costa Vicentina sob protecção do parque natural, começa logo quando só a adivinhamos na lonjura: começa nos caminhos que ladeiam o vale da ribeira e que nos conduzem à praia desde a estrada e da vila, ainda a uns bons 3 km. O caminho vai serpenteando até à praia e dá-nos a ver os campos agrícolas que a ribeira alimenta.

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É num instante que desaguamos na praia oceânica, ainda a piscar o olho à praia fluvial que a foz da ribeira cria, à “piscina” que enche, às lagoas que desenha. Este encontro de águas doces e salgadas é um dos prazeres de Odeceixe. Depois, é um grande areal até às ondas do mar, encaixado entre “altaneiras arribas de xisto e grauvaques, característicos desta região”, como resume o Turismo de Aljezur. Uma praia de encher o olho, que se vai reinventando conforme as marés e o caudal da ribeira – e que na maré vazia parece infinita. Do lado sul, fica a pequena área urbanizada, aldeola de veraneio com os serviços de apoio ao visitante, incluindo bons restaurantes de peixe fresco, bares e esplanadas para ir ficando para o espectáculo do pôr-do-sol. 

E fica aqui também outra maravilha, a praia das Adegas, que vive despida de preconceitos: é uma das nove praias naturistas oficiais do país. É acessível pelo areal quando a maré está baixa e sempre por uma escadaria. Protegida na enseada, é praia de belas e grandes poças (umas simpáticas “piscinas”) e há aqui um outro mundo: grutas que se abrem nas formações rochosas. Tem uma gruta profunda, longa até escuridão, garante de sombra, frescor e intimidade.

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Seja a partir das funduras de uma gruta, seja vindo da ribeira, seja de uma altaneira esplanada, a praia de Odeceixe é sempre um contínuo de imagens admiráveis, por mais que hoje em dia seja muito concorrida nas épocas de férias. Mas, embora possa custar um pouco elevar-se da preguiça do areal e das ondas, fica o conselho: não há vista mais bonita da praia do que lá de cima da imensa arriba do lado direito. Faça o esforço, suba até à Ponta Branca (coroada precisamente por sedimentos branquinhos), tenha cuidado com o precipício e beba a paisagem de olhos bem abertos. Entre o mar e o areal, os campos férteis e o casario, além do serpentear da ribeira, até nos ficam a faltar adjectivos. O banhista declara-se encantado e torna-se incapaz de guardar o segredo.

Segredos da costa alentejana: Alentejo à borda d’água

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BI

Praia de Odeceixe
Odeceixe, concelho de Aljezur
GPS: 37°26'28.69"N  8°47'53.62
Praia com Bandeira Azul (Odeceixe-Mar) e vigilância durante a época balnear. Acesso por escadas e rampa.
Como chegar: de Norte, pela EN120 (Odemira-Aljezur) até passar a ponte sobre a ribeira do Seixe, virar à direita, seguir pela estrada municipal até à praia (3 km). Há comboio turístico no Verão entre a vila e a praia (1,50€ adultos; grátis crianças -6 anos) 
Serviços de apoio: Parque de estacionamento, instalações sanitárias, bares, informações, zona concessionada na praia
Temperatura média da água (Verão): 18/22ºC
Temperatura média do ar (Verão): 26/28ºC

À volta da praia

A ver o mar
Antes, durante ou depois, não faltam boas opções para sentar-se numa esplanada e admirar o postal ilustrado em movimento da praia. Informal e bem posicionado está o bar do Agapito (na verdade, Kiosk), incontornável para os visitantes e com um chamativo burro a olhar para o mar. As grandes tostas são o ideal para matar o bicho. Aproveite para ver o pôr-do-sol com um gin tónico na mão (já agora, o Sul, o gin luso-alemão que sabe à Costa Vicentina – a culpa é da esteva). Outra boa opção para relaxar (e comer e beber), enquanto dura o Verão: siga para o Bar da Praia.

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Kiosk Agapito Rui Gaudêncio

Um mundo de caminhadas
Odeceixe é ponto de cruzamento de muitas caminhadas. A Rota Vicentina tem aqui passagens pelos seus dois grandes trilhos de interior e costa: pode escolher entre um percurso circular (15 km) que inclui a praia e fazer uma caminhada Odeceixe-Rogil pelas várzeas e caminhos agrícolas (14,5km); ou pode aventurar-se até à vila alentejana de S. Teotónio (caminho interior e fácil mas longo, 19 km), Aljezur (entre o planalto litoral e os campos de batata-doce, milho e amendoim, 19,5 km). Um pouco mais difícil, mas repleto de maravilhas é o passeio pela costa até à Zambujeira do Mar: 18 km (com muitas praias para descobrir, entre Amália, Carvalhal ou Zambujeira). Infos: rotavicentina.com

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Na vila de Odeceixe
Odeceixe desenha-se pela colina até à ribeira. Fica a 3 km da praia e tem o tamanho certo para garantir um Verão familiar, embora nas épocas altas tenha as suas enchentes. Vale a pena serpentear pelas ruas estreitas (as principais repletas de espaços comerciais e alojamentos para turistas) de casas brancas. Sempre a subir, vai dar ao Moinho de Vento, que foi recuperado para funcionamento e é habitualmente visitável no Verão – por estes dias estava encerrado para manutenção, mas deverá voltar a abrir; seja como for, as boas vistas desde o serro são garantidas.

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Artes do bem comer
Na vila não faltam boas propostas de peixe e marisco (e pratos mais serranos) mas pode encaminhar-se para pôr à prova a Taberna do Gabão, um porto seguro e já um clássico da vila criado pelo casal Sílvia e Fernando. Num espaço entre “monte” com quintal e casa de pasto, conta com bons petiscos e pratos bem apurados (da feijoada rica de choco e polvo ao arroz de tamboril e perna de borrego estufada). Outra sugestão mais recente (dois aninhos) é o Altinho – Tapas & Petiscos, um bistrô ligado ao alojamento local das Casas do Moinho (junta altinho e moinho e depressa descobre a localização). Lá em cima, no Altinho há, por exemplo, açorda de cogumelos e folhados de alheira, ou atum braseado em sementes de sésamo com batata-doce de Aljezur e filetes de polvo no seu arroz. Fora de Odeceixe (uns 8 km, no lado alentejano), a morada obrigatória é a Azenha do Mar, restaurante de culto da aldeia piscatória (agora sob nova gerência, mas que garante a continuidade). Detalhes: fecha à 4ª, não aceita reservas, podem ser horas de espera em época alta. Por outro lado, peixe e marisco do melhor, feijoada de choco, caldeirada ou arroz de tamboril para deliciar-se.

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As delícias do Rogil
Dar um salto ao Rogil (10km) é muito boa ideia, especialmente por duas saborosas razões. A primeira é que aqui fica o Pão do Rogil, que se tornou paragem obrigatória na N120. Com mais de meio século (e até uma loja-museu), guarda a tradição nos pães e bolos, mas estão sempre a sair novas ideias do forno a lenha; há pão de alfarroba ou batata-doce, bolos e bolachas artesanais e muito mais – incluindo uma preferência pessoal, a empada de cozido algarvio. Outra substancial razão rogilense: o Museu da Batata Doce, que na verdade é um restaurante onde vale tudo com a batata-doce (mas não só). O menu é variado mas pode ir pela salada de polvo com batata-doce assada, ensopado de borrego com batata-doce frita (mas também feijoada de búzios ou javali estufado), peixe fresco e o bolo de batata-doce e amêndoa. E ainda oferece um surpreendente jardim.

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Massagem ou canoagem?
No areal da praia, a Water Element ocupa a área concessionada, o que significa que não só garante os nadadores salvadores, como propõe preguiça ou movimento, ao gosto do banhista. Há bar na praia, palhotas e espreguiçadeiras, mas também aulas de surf, stand up paddle, bodyboard, aluguer de canoas e caiaques. Até Outubro. (T: 917348441)

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