Rio: com as férias de Costa, o que esteve em causa “foi a morte de mais de 60 pessoas”

Costa desejou que Rio concluísse com “felicidade” as férias. O líder do PSD reage e ataca com tragédia de Pedrógão Grande, mas o primeiro-ministro só entrou de férias 15 dias depois.

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NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

O primeiro a entrar em cena com o tema “férias” foi António Costa, que na sexta-feira, à saída da reunião com o Presidente da República, menosprezou as críticas do líder do PSD, referindo que este tinha passado os últimos 15 dias ausente. Costa desejou a Rio que “concluísse com felicidade o período de descanso”. Rio respondeu neste sábado e de uma forma que lhe é incomum: “O que está aqui em causa neste caso era eu entrar ou não num circo mediático durante quatro ou cinco dias. Mas o que esteve em causa quando ele, pura e simplesmente, não interrompeu as férias foi a morte de mais de 60 pessoas”, afirmou Rio, numa referência ao incêndio em Pedrógão Grande, em 2017.

“Foi de infelicidade enorme aquilo que António Costa ontem referiu e revela que não tinha resposta para aquilo que eu tinha dito”, concluiu em Viseu.

O primeiro-ministro não fez férias durante o incêndio de Pedrógão Grande, entre os dias 17 e 24 de Junho de 2017, mas foi de férias pouco depois, na primeira quinzena de Julho. Naquele incêndio morreram 66 pessoas.

O próprio gabinete de Costa fez questão de esclarecer que o primeiro-ministro não estava de férias durante os incêndios de Junho de 2017. “Em 17 de Junho de 2017, o primeiro-ministro não estava de férias e no dia 18 de manhã estava em Pedrógão reunido com os presidentes de câmara dos concelhos mais atingidos. Os presidentes de câmara da Sertã ou da Pampilhosa, por exemplo, podem confirmá-lo. Os deputados do PSD-Leiria também estiveram com o primeiro-ministro quando visitou o posto de comando.” O gabinete de Costa fez questão de esclarecer que “nos dias seguintes o primeiro-ministro coordenou os apoios de emergência e a preparação dos trabalhos de reconstrução. Esteve presente com o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e - a seu convite - todos os líderes partidários no primeiro funeral”.

Mas, apesar de, tal como a declaração do gabinete refere, Costa só ter ido “de férias no final do mês, como tinha acertado no princípio do ano com o ministro dos Negócios Estrangeiros, que o substituiu”, a ausência do primeiro-ministro pouco tempo depois da tragédia deu azo a uma enorme polémica. 

Neste sábado, além da questão das “férias”, Rui Rio acusou o Governo de ser o “elefante no meio da sala” na questão da crise energética, mas que agora tem a possibilidade de, com “habilidade e inteligência”, conseguir que as duas partes em confronto cheguem a um “ponto de encontro”.

O líder do PSD falava em Viseu, um pouco antes de a Antram (Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias) ter também anunciado que vai pedir a mediação ao Governo, na sequência da intenção do Sindicato Nacional de Motoristas de Mercadorias Perigosas (SNMMP) de suspender a greve desde que retomada a negociação.

Rui Rio espera que se encontre uma solução nos próximos dias. “Tem de se continuar a tentar e esse é o papel que o Governo deve ter, para deixar de ser o elefante na sala que parte tudo, para ser, como no futebol, aqueles árbitros que nem se dá por eles. Esses são os melhores e era assim que o Governo devia estar, com recato, com sentido de Estado, quase sem se dar pela sua presença. Era a melhor forma de ser um mediador”, reforçou.

O presidente do PSD acusou o Governo de ter criado “um teatro” à volta da greve dos motoristas, tal como o fez nas vésperas das eleições europeias com a questão dos professores, e afirmou que o executivo, apesar de ter “mudado de direcção”, sai “enfraquecido”.

“Nos primeiros dias parecia que ganhava politicamente com isto. Neste momento acho exactamente o contrário, acho que os portugueses perceberam que se montou aqui uma farsa demasiado exagerada com fins eleitorais”, frisou.

Também neste sábado, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, veio criticar o PSD e o Bloco de Esquerda, em declarações à Lusa: “Julgo que Catarina Martins está com febre eleitoral, a pensar em 6 de Outubro, e, por isso, acaba por ser a porta-voz da demagogia ao nível de Rui Rio. Aquilo a que assistimos, quer com as declarações de Catarina Martins quer com as de Rui Rio, são de uma profunda demagogia, de uma profunda irresponsabilidade, de quem não está preocupado com o interesse nacional, mas que está preocupado com interesses meramente eleitorais.”

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