Igreja de Santa Clara vai retomar obras e será “devolvida” à cidade em 2020

Monumento nacional desde 1910, a igreja portuense tinha visto a sua restauração suspensa por um embargo. A 26 de Agosto, a empreitada, considerada de “superior interesse público”, vai ser retomada

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Havia “riscos estruturais graves se a intervenção não fosse feita”, considera a DRCN Maria João Gala

Primeiro foram as térmitas e uma urgente intervenção para “salvar” o santo, acomodado num altar em risco de ser destruído por essa praga de insectos. Estávamos em 2015 e a igreja de Santa Clara, considerada um dos mais belos exemplos do barroco joanino no Porto, iniciava a sua primeira fase de obras. Depois dessa, várias se seguiriam, de maior ou menor dimensão. Mas a “maior empreitada de todas”, que havia sido travada no final do ano passado, só agora vai avançar. A 26 de Agosto, fecham-se as portas do espaço para iniciar a recuperação de “toda a nave central da igreja”. Se tudo correr bem, a obra estará concluída durante o último semestre de 2020.

O processo tinha sido freado com uma impugnação do concurso público, feito por uma das empresas concorrentes. Agora, tendo o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga levantado esse embargo e o Tribunal de Contas emitido um visto prévio, a empreitada pode arrancar, confirmou ao PÚBLICO António Ponte, da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN).

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Desde 2014, têm sido várias as operações feitas neste local, monumento nacional desde 1910 Maria João Gala

A argumentação baseou-se no “superior interesse público” da obra. A igreja de Santa Clara - parte do anterior Convento, nacionalizado em 1900, e cujo edifício convive paredes meias com a sede do Comando Metropolitano do Porto da PSP, no antigo claustro da estrutura - “é uma das maiores joias do Barroco português e monumento nacional”, começa por dizer o director regional, António Ponte. E havia “riscos estruturais graves se a intervenção não fosse feita”. Além disso, como a empreitada tem apoios comunitários e estes têm prazos para serem utilizados, o seu adiamento podia significar a “perda de capacidade para avançar”.

Esta intervenção, a de maior dimensão até agora, vai obrigar ao fecho da igreja durante um ano - ao contrário do que aconteceu noutras, onde os encerramentos foram sendo pontuais - e representa um investimento de 827 mil euros. “Os trabalhos de conservação e restauro do recheio artístico da igreja implicam o tratamento, limpeza e consolidação de toda a talha pintada ou dourada, da escultura e imaginária, das pinturas sobre tela e de pintura mural, de granitos e, ainda, trabalhos de consolidação de estruturas dos retábulos”, descreve a DRCN.

Desde 2014, têm sido várias as operações feitas neste local, monumento nacional desde 1910 e situado na zona da cidade reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade. Já concluídos, por exemplo, foram trabalhos estruturais e de conservação e restauro os dois níveis do coro do antigo convento.  

A chamada “Operação Igreja de Santa Clara do Porto” representa um investimento total de dois milhões de euros e é comparticipada em 85% pelo Programa Operacional Norte 2020 Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, com o Mecenato da Irmandade dos Clérigos e a Fundação Millennium BCP. Já prontos para arrancar estão também trabalhos de “conservação e restauro da sacristia” e também uma recuperação do “centro de acolhimento”, acrescenta António Ponte.

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A curto prazo serão também iniciados os “trabalhos de beneficiação dos paramentos exteriores, dos acessos de público e das instalações eléctricas e os trabalhos de conservação e restauro do órgão e dos portais em cantaria de granitos”.

Esta infra-estrutura “constitui um relevante testemunho de um conjunto monástico feminino que integra uma vasta rede de património religioso”, aponta a DRCN. Juntamente com a igreja de São Francisco, dizem, é “um dos melhores exemplares das denominadas igrejas forradas a ouro do barroco joanino, conservando a sua estrutura arquitetónica gótica, que remonta ao século XV”.

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