Estratego do “Brexit” recebeu 235 mil euros de subsídios da UE

Dominic Cummings, actual conselheiro de Boris Johnson e fundador da campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 2016, é co-proprietário de uma quinta que recebeu verbas avultadas da PAC, diz o jornal britânico The Observer.

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Dominic Cummings acusado de hipocrisia por criticar subsídios de que ele próprio beneficiou PETER NICHOLLS/Reuters

Enquanto defensor da saída do Reino Unido da União Europeia, Dominic Cummings escreveu que os subsídios europeus são “estúpidos” e “beneficiam os donos de terras ricos”. O responsável por trás da campanha para o voto “sim” à saída do Reino Unido da União Europeia, promovido agora a conselheiro do primeiro-ministro, Boris Johnson, recebeu, no entanto, uma soma considerável destes subsídios da UE para uma quinta de que é co-proprietário: 235 mil euros durante os últimos 20 anos, segundo uma investigação do semanário britânico The Observer.

Depois de ter sido nomeado conselheiro de Boris Johnson, Dominic Cummings tem apresentado a “batalha” pelo “Brexit” como sendo travada entre “as elites” e “o povo”, apresentando-se como um outsider que quer fazer frente às elites, acabar com os “subsídios absurdos” que a União Europeia paga e libertar o Reino Unido das regras e regulamentos europeus, diz o Observer.

Os subsídios foram criticados por Cummings porque “foram sonhados nos anos 1950 e 1960”, e o que fazem é “aumentar os preços para os pobres para financiar os agricultores ricos, enquanto prejudicam a agricultura em África” – dizia o então defensor do voto pela saída no seu blogue, após considerar que “a burocracia disfuncional [da União Europeia] é manipulada por interesses empresariais que gostam de usar a maquinaria europeia para esmagar a competição”.

Cummings foi o autor da famosa afirmação de que o dinheiro que o Reino Unido pouparia ao sair da UE poderia permitir que o país gastasse 350 milhões de libras extras no Serviço Nacional de Saúde (NHS). Ao clarificar a polémica afirmação, Cummings admitiu, no blogue, que não há uma verba fixa. Mas os dados das Finanças, continua, permitem dizer: “É de mais ou menos 350 milhões, dos quais recuperamos metade, embora parte seja gasta de maneiras absurdas, como subsídios para os donos de terras muito ricos para que estes façam coisas estúpidas.”

Uma comissão parlamentar na Câmara dos Comuns que investiga a disseminação e de notícias falsas e de desinformação nos meses que antecederam o referendo convocou no ano passado Cummings para prestar declarações, mas este recusou.

Não é claro exactamente quando é que Cummings se tornou co-proprietário da quinta, comprada pelo pai quando se reformou de uma carreira na indústria do petróleo, diz o Observer, mas aparece nos registos desde pelo menos 2013, e viveu no local num dado período com início em 2002; a quinta continuou a receber subsídios depois disso.

A informação vem não só expor a sua incongruência (o Partido Liberal Democrata já o acusou de hipocrisia) como chamar a atenção para o facto de muitos agricultores britânicos receberem também subsídios europeus que vão perder após a saída do Reino Unido da União Europeia – cuja data está marcada para Outubro.

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