O abacate está em perigo, mas sequenciação do seu genoma pode salvá-lo

O genoma do abacate foi sequenciado, com os cientistas a abrirem o caminho para potenciar a cultura de um dos mais apetecidos frutos do momento.

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Seja à mesa, seja na cosmética, o abacate tem hoje, no mundo inteiro, uma legião de fãs a estimularem uma procura maior do que a oferta, levando à inflação do seu preço: no México, no início de Julho, o preço da caixa de abacate com dez quilos atingiu um novo máximo (650 pesos, isto é, 29,36 euros), reflectindo uma baixa de produção. 

Mas este fenómeno pode ter os dias contados. Um grupo de cientistas do Laboratório Nacional de Genómica para a Biodiversidade (Langebio), no México, da Universidade Técnica do Texas e da Universidade de Buffalo, ambas nos EUA, acaba de publicar uma investigação na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, onde revela a descodificação do genoma do abacate.

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A descoberta revela-se vital por várias razões, mas uma prende-se com o facto de este conhecimento poder vir a ajudar nas plantações de abacate, impulsionando a produção, em número e velocidade, aumentando a resistência da planta às doenças e, até, criar novas variedades com outros sabores e texturas.

A importância para a agricultura é fácil de perceber se se tiver em conta que o mercado global do abacate representa mais de dez mil milhões de euros, ao mesmo tempo que a procura não parece nem estagnar e muito menos reduzir: em 2018, o consumo de abacate nos EUA saldou-se em 1,11 mil milhões de toneladas, mais 9% do que no período homólogo.

Abacate, fruto com história

O abacate é um fruto de características amanteigadas (tem mais de 30% de gorduras), cujas propriedades o tornam apetecível a quem procura uma dieta nutritiva e saudável, mas também às indústrias da cosmética e farmacêutica — é rico em açúcares e vitaminas, sendo uma das frutas com mais elevados teores de proteínas e vitamina A e quantidades úteis de ferro, magnésio e vitaminas C, E e B6.

Tradicionalmente, há quatro grandes tipos de abacate: o Hass, de pele enrugada, e as variedades do México, Guatemala e Índias Orientais. E numa descoberta inédita, o estudo agora publicado revela que o popular Hass, produzido desde os anos de 1920, é um casamento feliz entre as variedades do México e da Guatemala, tendo conseguido identificar o peso de cada uma: 61% do ADN do Hass provém da sua linhagem mexicana e 39% do clã originário da Guatemala.

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Certo é que a história do abacate vai longe, apesar de o estudo não fixar a sua idade específica — esse dado não fazia parte do propósito desta investigação, salvaguarda em comunicado a Universidade de Buffalo. Ainda assim, revela Luis Herrera-Estrella, professor de genómica das plantas da Universidade do Texas, citado no mesmo documento, foi possível determinar que o fruto pertence a um pequeno grupo de plantas chamadas magnoliídeas, que divergiram de outras espécies com flores há cerca de 150 milhões de anos

A investigação mostra ainda que o abacate passou por “dois antigos eventos de ‘poliploidia’, nos quais todo o genoma do organismo foi copiado”. Durante os processos, muitos desses genes duplicados foram excluídos, mas outros “passaram a desenvolver funções novas e úteis”, sendo ainda possível mapear esses genes no abacate actualmente, como é o caso dos envolvidos na regulação da transcrição do ADN.

Além do mais, os cientistas descobriram que os abacates repetiram certas sequências genéticas (repetição em tandem ou em série), a fim de evitar ataques de fungos. “No abacate, vemos uma história comum: dois métodos de duplicação génica, originando resultados funcionais muito diferentes ao longo do tempo.”

“Nas plantas, os genes retidos de eventos de poliploidia muitas vezes estão relacionados com grandes propósitos regulatórios. E os genes mantidos a partir dos eventos de duplicação mais limitados têm a ver com vias biossintéticas onde se produzem esses produtos químicos” para atrair insectos ou combater fungos. “As plantas são excelentes químicos”, conclui Herrera-Estrella.

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