Fed corta taxas de juro pela primeira vez desde 2008

Confirmando as expectativas dos mercados, a Reserva Federal norte-americana decidiu responder preventivamente aos riscos de entrada em recessão da economia dos EUA, num cenário em que a taxa de inflação se mantém abaixo da meta de 2%.

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Jerome Powell, presidente da Fed Reuters/JOSHUA ROBERTS

A Reserva Federal norte-americana concretizou esta quarta-feira, ao fim de nove subidas consecutivas das taxas de juro, uma inversão de rumo na sua política monetária. Cortou a sua taxa de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, no primeiro movimento descendente desde o auge da crise financeira internacional, e deixou a porta aberta para novas descidas nos próximos meses.

A última descida de taxas realizada pela Fed tinha sido em Novembro de 2008, poucas semanas depois da falência do Lehman Brothers. Nessa altura, com a economia a entrar numa das maiores recessões da história e os mercados a cair a pique, a Fed concluía uma série de medidas de estímulo, colocando as taxas de juro a zero.

Agora, a situação é completamente diferente. A economia ainda não concluiu o seu mais longo período de expansão de que há registo, a taxa de desemprego está a níveis historicamente baixos e os mercados accionistas têm registado valorizações significativas. No entanto, com a taxa de inflação consideravelmente abaixo da meta de 2% e a economia a dar os primeiros sinais de poder vir a caminhar para uma recessão, os responsáveis da autoridade monetária norte-americana optaram por não arriscar.

A descida de 0,25 pontos, para um valor entre 2% e 2,25%, na taxa de juro de referência é um ataque preventivo contra uma potencial fragilidade da economia, num cenário em que uma escalada da guerra comercial entre os EUA e a China ou um efeito negativo de um Brexit sem acordo constituem riscos importantes para a conjuntura internacional.

Na conferência de imprensa que se seguiu à decisão – que já era largamente esperada pelos mercados – o presidente da Fed, Jerome Powell explicou que a descida de taxas “pretende criar um seguro contra os riscos descendentes provenientes do fraco crescimento global e das tensões comerciais”.

O que ficou em aberto é aquilo que irá acontecer depois. No comunicado em que anunciou a decisão, a Fed promete “continuar a monitorizar a situação”, mostrando-se disponível para responder a sinais de deterioração da conjuntura. Isto mostra uma vontade de deixar a porta aberta a novas descidas de taxas de juro nos próximos meses. Jerome Powell, no entanto, tentou passar a mensagem que, se tudo correr bem, esta descida não será mais do que “um ajustamento na política a meio do ciclo”.

Esta mensagem do presidente da Fed dirige-se aos que receiam que a Fed possa estar a ser forçada a começar uma guerra prolongada sem que antes se tenha reabastecido de munições. Para além das preocupações em relação aos efeitos que uma nova descida de taxas de juro pode ter em mercados financeiros que já registam fortes valorizações, vários economistas assinalam também o facto de a Fed poder estar a iniciar um ciclo de descida de taxas de juro, partindo de um valor já bastante baixo, o que pode significar que tem pouco espaço de manobra para lutar eficazmente contra eventuais pressões deflacionistas.

A descida de taxas de juro agora realizada tem vindo a ser defendida publicamente pelo presidente norte-americano Donald Trump, que já esta semana, antecipando a acção da Fed, lamentou apenas que a descida não tivesse sido feita mais cedo e de forma ainda mais ambiciosa.

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