Zoomarine na lista negra de duas organizações de direitos dos animais

Relatório da World Animal Protection e da Fundação Change for Animals acusa 12 jardins zoológicos e parques aquáticos de abuso de animais para entretenimento, incluindo o português Zoomarine.

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Filipe Farinha

Um relatório da organização World Animal Protection e da Fundação Change for Animals acusa o Zoomarine, no Algarve, de usar abusivamente golfinhos como entretenimento em espectáculos aquáticos, obrigando-os fazer acrobacias e truques ou a serem utilizados como pranchas de surf dos visitantes. Segundo uma avaliação conjunta destas duas associações internacionais, o Zoomarine é um entre 12 jardins zoológicos e parques aquáticos internacionais que submetem os animais a actividades “cruéis e humilhantes”, causadoras de “grande sofrimento físico e mental”.

As organizações visitaram parques em Portugal, Singapura, Austrália e Estados Unidos e afirmam que assistiram ao tratamento dos golfinhos como “meros adereços para selfies”, enquanto os visitantes os abraçavam, acariciavam ou os beijavam. O problema, sublinham, é que a interacção directa entre animais e humanos é uma circunstância favorável à transmissão de doenças infecciosas entre as espécies.

Esta interacção directa vai contra as linhas orientadoras do bem-estar dos animais defendidas pela World Animal Protection e pela Change for Animals. “Os animais selvagens não são domesticados; devem manter a sua biologia e os seus comportamentos selvagens”, defende-se no relatório. “Para que os animais selvagens interajam ou actuem para os visitantes são utilizados métodos de treino severos que causam um sofrimento terrível.”

Golfinhos a acenar com as barbatanas

A World Animal Protection e a Change for Animals condenam também zoos e parques aquáticos que obrigam os golfinhos a imitar acções humanas, como acenar com as barbatanas, ou ficarem à beira do tanque a fingir que estão a “apanhar sol” na praia. Durante os espectáculos, os golfinhos passam muito tempo à superfície da água — obrigados a observar os treinadores para receberem as “ordens” ou recompensas — o que faz com que tenham os olhos demasiado expostos ao sol, podendo sofrer lesões oculares.

A World Animal Protection considera ainda que manter os golfinhos fechados em pequenos tanques constitui uma “vida desprovida de naturalidade”. Critica também o sistema de recompensas dos golfinhos, descrevendo este treino como “controverso”, pois, em vários casos, envolve a negação de comida aos animais para depois a utilizar como “recompensa”, se uma tarefa for devidamente executada. O barulho da plateia e a repetição de várias actividades ao longo do dia expõem também os animais a um elevado nível de stress.

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Usar os golfinhos como pranchas de surf é uma das actividades criticada pela World Animal Protection e a Fundação Change for Animals DR

Além do ZooMarine, a World Animal Protection e a Change for Animals visitaram 11 zoos e parques aquáticos reconhecidos internacionalmente e pertencentes à Associação Mundial de Zoológicos e Aquários. São eles o Zoo D’Amneville e Puy du Fou em França, o Jungle Cat World e o African Lion Safari no Canadá, o Sea World em San Antonio, Estados Unidos e na Austrália, o Cango Wildlife Ranch e o Mystic Monkeys & Feather Wildlife Park na África do Sul, o Avilon Zoon nas Filipinas, o Ichicara Elephant Kingdom no Japão e o Dolphin Island na Singapura.

Nestes espaços, as associações de protecção dos animais assistiram a actividades como elefantes a serem montados pelos visitantes e a participarem em espectáculos vestidos com adereços no Japão, tigres e leões a serem forçados a participar em espectáculos teatrais em França e orangotangos a terem de posar para fotografias na África do Sul, Filipinas e Canadá.

“Ficámos chocados ao ver grandes felinos em espectáculos ao estilo de gladiadores em grandes anfiteatros, golfinhos a serem usados como pranchas de surf, elefantes a ‘jogar’ basquetebol e chimpanzés vestidos com fraldas e a dirigir scooters”, diz Harry Eckman, director da Change for Animals Foundation. “Todas estas actividades ridículas são uma ameaça clara e presente ao bem-estar dos animais selvagens”, conclui.

Segundo as associações, “estas actividades são horríveis e não devem ter lugar em zoos e parques aquáticos modernos, especialmente aqueles que estão associados à Associação Mundial de Zoológicos e Aquários”, que se descreve como protectora da conservação da natureza e biodiversidade. Neil d’Cruze, consultor da World Animal Protection, acrescenta ainda que as pessoas que visitam um estabelecimento representado pela Associação Mundial de Zoológicos e Aquários “devem poder confiar que não estão a apoiar inadvertidamente atracções cruéis de animais”.

A World Animal Protection e a Fundação Change for Animals investigaram ainda 1200 zoos e parques aquáticos que têm ligações com a Associação Mundial de Zoológicos e Aquários e concluíram que 75% dos estabelecimentos têm pelo menos uma actividade que envolve interacção entre animais selvagens e visitantes.

O PÚBLICO tentou contactar o Zoomarine e obter uma reacção a esta notícia, o que não conseguiu até ao momento.

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