Desconforto na Protecção Civil com MAI. Oposição pressiona Eduardo Cabrita

Ministro da Administração Interna cancelou agenda pública para esta terça-feira. Secretário de Estado na mira de PSD e CDS depois de demissão de adjunto: é pouco, diz a oposição.

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Eduardo Cabrita tem sido pressionado nos últimos dias Miguel Manso

Num fim-de-semana em que os grandes fogos deram algumas tréguas, foi o caso das golas antifumo a dar que fazer ao Ministério da Administração Interna (MAI): aumentou o desconforto na Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), que foi responsabilizada pela compra das golas inflamáveis; demitiu-se um adjunto do secretário de Estado; e PSD e CDS aumentaram o tom do pedido de responsabilidades. Perante o acentuar da polémica, do Governo ouviu-se o silêncio.

Ontem, nenhum responsável do Ministério da Administração Interna falou sobre o caso, ao contrário do que aconteceu durante o fim-de-semana. E o ministro Eduardo Cabrita cancelou a inauguração do novo Centro Distrital de Operações de Socorro de Almeirim, que tinha marcada para esta terça-feira, argumentando com dificuldades de agenda, segundo informação do autarca local. Além disso, o PÚBLICO tentou obter, sem sucesso, uma explicação do secretário de Estado José Artur Neves, sobre o facto de ter responsabilizado a ANEPC pela compra das golas antifumo, e não o seu adjunto, Francisco Ferreira, que acabou por se demitir.

A juntar ao silêncio a que se remeteu o MAI está ainda o facto de, no domingo à noite, o ministro ter defendido, numa cerimónia no Barreiro, que os incêndios não devem “servir para conflitualidades pré-eleitorais nem para controvérsias estéreis”, mas escusando-se, no final, a responder às perguntas dos jornalistas presentes.

Este foi apenas mais um factor de atrito na difícil relação entre a ANEPC e o MAI, que já conheceu episódios como o das opiniões não coincidentes do tenente-general Mourato Nunes, presidente daquela autoridade, e do ministro Eduardo Cabrita, sobre a nova lei orgânica da ANEPC. Ao que o PÚBLICO apurou, caiu mal naquela entidade o facto de o secretário de Estado ter descartado responsabilidades no caso da compra das golas e ter dito que “o processo foi desenvolvido pela Protecção Civil”, quando, na verdade, esteve envolvido desde início, noticiou o Jornal de Notícias, o seu adjunto, que indicou as empresas que foram contactadas para fornecerem as golas polémicas

Francisco Ferreira, que também é líder do PS-Arouca, foi, aliás, a única baixa, até ao momento, deste caso. O adjunto de Artur Neves chegou a publicar um tweet no sábado, depois das primeiras notícias sobre o caso, a dizer que o MAI tinha “pedido esclarecimentos à Protecção Civil” e que tinha sido determinada “a abertura de um inquérito urgente à Inspecção-Geral da Administração Interna”. Frases que envelheceram depressa, dois dias depois, sem necessitar dos resultados do inquérito: Francisco Ferreira pediu “a exoneração do cargo”, informou o MAI numa nota enviada à Lusa.

Mas a oposição quer mais. Rui Rio considerou o caso “gravíssimo” e defendeu que o técnico adjunto de Artur Neves não terá “responsabilidade em tudo”. O líder social-democrata esteve ontem em Vila de Rei, reunido com autarcas de municípios da região centro afectados pelos incêndios, e aos jornalistas considerou que, se tudo o que tem saído nas notícias estiver correcto, a demissão do adjunto não significa que “tudo fique resolvido”. “Aquilo que já temos em cima da mesa é que há uma empresa constituída há muito poucos meses e que se dedica ao sector do turismo e que vende golas para usar durante os incêndios que são elas próprias inflamáveis”, salientou. Rio, citado pela Lusa lembrou ainda que a empresa tem ligação a “um familiar de uma autarca do PS” e que as golas são vendidas a “preços superiores àqueles que são os preços de mercado”.

Também o CDS quer mais do que a demissão de Francisco Ferreira, quer ir “mais longe e mais alto” no apuramento de responsabilidades. Sem nunca pedir directamente a demissão de ninguém, o deputado e dirigente centrista Telmo Correia considerou que o adjunto de Artur Neves não pode ser o “bode expiatório disto tudo”. O caso não pode acabar, disse à Lusa, no “técnico especialista, que é autarca ou dirigente do PS local, com a profissão de padeiro [a profissão anterior de Francisco Ferreira, segundo a Sábado, que terá trabalhado numa pastelaria do irmão em Vila Nova de Gaia]”. “Parece-me muito pouco”, enfatizou.

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