Junho foi um mês negro para a floresta amazónica

A desflorestação de Junho foi 80% superior a igual mês do ano passado. A política ambiental de Bolsonaro ameaça a maior floresta tropical do mundo, denunciou este domingo o New York Times.

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Nos últimos trinta anos, a Amazónia perdeu 953 mil hectares de área protegida UESLEI MARCELINO/REUTERS

Nos primeiros seis meses da presidência de Jair Bolsonaro, a floresta da Amazónia perdeu mais de 1.330 quilómetros quadrados, um aumento de 39% face ao mesmo período do ano passado. Só em Junho a desflorestação aumentou quase 80% face ao mesmo mês do ano passado, de acordo com dados oficiais. E, escreveu o New York Times no domingo, a política ambiental de Bolsonaro a favor dos proprietários de terras e da exploração mineira e agrícola ameaçam a Amazónia.

“Com a eleição do Presidente Jair Bolsonaro, um populista pessoalmente multado por violar as regulamentações ambientais, o Brasil mudou substancialmente de rota, recuando nos esforços que fez para desacelerar o aquecimento global ao preservar a maior floresta tropical do mundo”, escreve o jornal.

Bolsonaro sempre foi claro no que desejava para a Amazónia: transformá-la na “alma económica” do Brasil. Mas, para isso, defende, é preciso mudar o quadro de protecção da floresta: menos regulamentações e área de reservas indígenas e mais empreendimentos mineiros e agrícolas, porventura em parceria com multinacionais dos Estados Unidos. “Temos [na Amazónia] biodiversidade, temos riquezas e minerais, água potável, grandes espaços vazios, áreas turísticas inimagináveis. Temos tudo para alavancar a nossa economia partindo aqui da região amazónica”, disse o chefe de Estado na semana passada.

As críticas à sua política ambiental têm subido de tom e o Presidente brasileiro tem optado por desvalorizá-las chamando-lhes “psicose ambientalista”, ou mesmo negando os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre a desflorestação. Chega ao ponto de acusar o órgão público brasileiro de mentir para denegrir a imagem do Governo, com o INPE a responder que os seus dados possuem uma precisão de 95%.

“Com toda a devastação de que vocês nos acusam de estarmos a fazer e de termos feito no passado, a Amazónia já se teria extinguido”, afirmou Bolsonaro há pouco mais de uma semana em conversa com jornalistas estrangeiros, sublinhando que a comunidade internacional não se deve preocupar com a floresta e que se trata de um assunto soberano: “A Amazónia é nossa, não vossa”.

Nas últimas três décadas, entre 1985 e 2017, a Amazónia perdeu pelo menos 953 mil hectares de áreas protegidas referentes a unidade de conservação e terras indígenas, de acordo com o portal G1, da Globo. As terras desflorestadas foram-no pelo negócio madeireiro e, depois, para cultivo de gado, não esquecendo a mineração.

Os alarmes não têm parado de soar, seja com pressões internacionais, com capas de jornais e revistas ou até mesmo com protestos claros de outros governos. Um dos últimos foi a ameaça feita pelos executivos norueguês e alemão de deixarem de financiar (com 1000 milhões de euros) o Fundo da Amazônia, o maior projecto de cooperação internacional para preservar a floresta amazónica por o Governo brasileiro ter extinto dois dos comités responsáveis pela gestão das verbas.

A floresta amzónica “é uma questão absolutamente crucial para a estabilidade do clima do planeta”, garantiu ao portal G1 Paulo Artaxo, investigador da Universidade de São Paulo, ressalvando que se a desflorestação continuar a este ritmo o Nordeste brasileiro vai-se “desertificar totalmente nos próximos 30 anos, vamos ver alterações profundas no bioma amazónico e mudanças climáticas sem precedentes nos últimos dez milhões de anos”.

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