Aqui jaz o IPMA

Os 34 investigadores do IPMA acreditaram num Governo que até chegou a produzir legislação para os integrar na carreira que é a sua. Que fique bem clara a forma como este Governo trata os seus investigadores.

É bem conhecido o mundo das conversas que o vento leva assim que termina o telejornal, da crueldade das promessas vãs e do cinismo malévolo daqueles que prometem o que não pensam cumprir e fazem com que expectativas e planos de vida venham a desembocar num beco sem saída e num desespero sem fim.

O IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) assegura a implementação de estratégias de defesa e proteção de dois temas que estão no topo da agenda mundial: o Mar e a Atmosfera.

O Governo grita o seu empenho no apoio à investigação científica nestes domínios; chegou mesmo a publicar a Norma Transitória do DL 57 de 2016 e a lei 112/2017 (Programa de Regularização Extraordinária de Vínculos Precários na Administração Pública)... só que não a aplicou. Exatamente: não a aplicou!

Por isso, 51% dos membros do Conselho Científico do IPMA continuam com vínculo precário.

Mais: tal facto implica perda de apoios financeiros, uma vez que estes projetos são apoiados por fundos nacionais e europeus, que asseguram o pagamento dos vencimentos. Por exemplo, os investigadores precários são responsáveis por projetos científicos cujo orçamento ascende a 25M€, sendo 8,5M€ alocados para recursos humanos; isto quer dizer que se auto-financiam e terão que ser vistos como um investimento, pois são especialistas na captação de projetos, fundos e parcerias essenciais para o funcionamento da instituição e aumento da competitividade num mercado global.

Os 34 investigadores do IPMA, homologados em Julho de 2018, acreditaram num governo que até chegou a produzir legislação para os integrar na carreira que é a sua – de Investigação – mas que agora diz que ainda está a ponderar. O Conselho Diretivo remete-se ao silêncio ensurdecedor com palavras não escritas, ditas em surdina para não se comprometer... esperam e desesperam: anos de estudos e trabalho de excelência sem saber como vai ser o dia de amanhã... até ao irrecusável apelo de outros trabalhos, fora do País, para uns, a procura de alternativas, para outros.

Portugal, que outrora exportou mão-de-obra barata para todo o mundo, dá-se agora ao luxo de exportar investigadores.

Que fique bem clara a forma como este Governo trata os seus investigadores. Dos 126 trabalhadores precários homologados do IPMA, 100% dos que estavam nas outras carreiras foram integrados enquanto nem um único investigador, nas mesmas condições, viu regularizada a sua situação. Porque é que o Governo discrimina os investigadores do IPMA?

Os subscritores,

Alexandra Silva
Antje Voelker
António Marques
Bárbara Pereira
Bárbara Teixeira
Carlos Cardoso
Catarina Churro
Cátia Bartilotti
Cláudia Afonso
Cristina Lopes
Cristina Nunes
Emília Salgueiro
Filipa Naughton
Florbela Soares
Isabel Gil
Joana Raimundo
Jorge Lobo Arteaga
Laura Ribeiro
Margarida Saavedra
Patrícia Anacleto
Paulo Vasconcelos
Pedro Lino
Pedro Reis Costa
Rachid Omira
Rita Durão
Rui Coelho
Teresa Moura
Teresa Rodrigues
Vitor Magalhães

Os autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico.

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