Baloiçou-se com Lana del Rey, mas a dança foi crioula no Meco

A americana Lana del Rey cantou, andou de baloiço e encantou, mas a vitalidade da música crioula de Dino D’ Santiago, Branko ou Conan Osiris marcou, no regresso em marcha demasiado lenta do Super Bock Super Rock ao Meco.

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Branko Andreia Carvalho
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Dino d'Santiago Andreia Carvalho
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The Glockenwise Andreia Carvalho
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,Concerto de rock
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Metronomy Andreia Carvalho
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Metronomy Andreia Carvalho
,Baixo
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The 1975 Andreia Carvalho
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The 1975 Andreia Carvalho

Lana del Rey cantou e encantou a partir de um baloiço disposto no palco. Dino D’ Santiago, Branko e Conan Osiris criaram espaço para a dança. E os Jungle, The 1975 e Metronomy foram apenas assim assim. Foi assim o regresso à Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, para mais uma edição de Super Bock Super Rock que, segundo a organização, terá contado com 30 mil espectadores. 

E o espaço? Longa conversa. A opção de deslocar o recinto para uma zona mais plana e menos areosa parece não ter sido má ideia, apesar de não existirem sombras e da concepção do espaço (ao nível do design e da ocupação ruidosa das marcas) remontar a décadas passadas. E principalmente os acessos continuam a ser um problema sem resolução à vista. Cada um terá tido a sua experiência subjectiva. A nossa foram duas horas para chegar, ao final da tarde, e mais de duas para sair, depois do concerto de Del Rey. Mas uma avaliação mais real ficará para os próximos dias.

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Lana Del Rey numa fotografia disponibilizada pela organização. A cantora não permitiu o trabalho dos fotojornalistas SBSR

Primeiro, Lana del Rey. Quando ela ali se estreou em Portugal, em 2012, andavam os debates à sua volta no auge, com defensores e detractores a esgrimirem argumentos. Poucos anos depois, tornou-se numa figura quase consensual no panorama da cultura pop, com uma vasta legião de fãs acérrimos como se constatou pelos gritos com que foi recebida, e como não se cansou de retribuir, descendo até ao público por duas vezes, demorando-se longamente nesse ritual, sorrindo, assinando autógrafos, recebendo beijos e tirando muitas fotos a quem lhe solicitava.

Parece um corpo estranho no meio daquela algazarra, vestido curto esvoaçante, pose etérea, transportando uma vulnerabilidade genuína, mas também com algo de artificioso, na maneira como parece incorporar os valores do espectáculo à americana de décadas passadas. Parece uma celebridade deslocada, sem a sobranceria da celebridade convencional. E isso assenta-lhe bem.

E o concerto também é isso. De repente, é como se chegassem ao Meco no mesmo helicóptero – tinha que ser, que de carro, ia ser difícil – cantores de outros tempos, de Roy Orbison a Shirley Bassey, passando por Nico, e actrizes também, de Rita Hayworth a Elizabeth Taylor, com a necessária supervisão de David Lynch, e ali pairassem pelo palco, com ela a incorporar tudo isso, enfeitiçada por qualquer coisa que tem tanto de luxuoso como de decadente.

E depois, existe a sua voz, magnífica e confiante, e o aparato cénico, por entre palmeiras, espreguiçadeiras e dois gigantes baloiços, uma Califórnia dos anos 50 em versão exótica no Meco. E as canções, quase sempre instituindo um ambiente sonhador, num alinhamento que foi tanto aos êxitos, como a momentos que fazem parte do novo álbum a editar este ano, Norman Fucking Rockwell.

Pelo meio, claro, muitas juras de amor mutuo entre palco e plateia, elogios a Lisboa que havia visitado durante o dia, e canções como Born to die, Pretty when you cry – cantada deitada no chão com as duas bailarinas de apoio – Blue jeans, Video games (a canção que a revelou e talvez a sua melhor de sempre, com ela a interpretá-la num dos baloiços), Mariners apartment complex (do novo álbum), Venice bitch, National anthem ou Summertime sadness, aquela que melhor resume tudo o que se viu e ouviu, com a sua voz aveludada a transportar com embalo a multidão por entre novelos de romantismo.

E dançou-se com Dino d’ Santiago, Branko e Conan Osiris 

A noite foi dela. Mas não só. Se com ela se balançou, com Dino d’ Santiago, Branko e Conan Osiris dançou-se à séria. O primeiro está nitidamente a viver um bom momento, conseguindo que as canções do álbum Mundu Nôbu se agigantem ao vivo, ou não fosse ele um excelente intérprete-performer, tendo sido capaz de dotar o seu espectáculo – coadjuvado por três instrumentistas – de simplicidade e de arrojo. Em palco é empático, denota carisma, procura o público – no último tema, Nós funaná, fez a festa no meio dele – e sabe como abaná-lo certeiramente. “A minha nação é crioula”, lança ele às tantas, querendo no fim de contas afirmar que Portugal e a Europa são crioulas, mostrando-se consciente das suas raízes, mas também das imensas bricolagens e fluxos que advêm das dinâmicas globais. É por isso que às tantas é capaz de cruzar uma batida de R&B americanizado com funaná cabo-verdiano e tudo flui com espontaneidade, como se Beyoncé tivesse descoberto os Ferro Gaita, ou o contrário, quem sabe?

Em crioulo, ou em português, na companhia de Pedro Mafama ou só, de Como seria à Nova Lisboa, passando por algumas canções novas, Dino D’ Santiago está nitidamente a passar uma fase boa e isso passa de lá para cá. O mesmo se podendo aplicar a Branko que, uma hora depois, no mesmo palco, voltou a mostrar que se soube superar o fim dos Buraka Som Sistema. Sem renegar por completo a adrenalina do kuduro, dotou-a de maior envolvência, procurando linguagens rítmicas mais voluptuosas capazes de acolherem vozes, de Mallu Magalhães a Mayra Andrade, passando por Cosima e Dino D’ Santiago, que estiveram em palco, num espectáculo bem urdido, onde imagens e música vão desenhando uma onda sonora em crescendo que desagua no corpo do publico, que respondeu muito bem ao desafio que lhe foi endereçado.

O mesmo se poderia dizer de Conan Osiris, outro que cresceu imenso desde a última vez que o havíamos visto em palco, fazendo a festa com o público de forma decidida e confiante, com a sua sofisticada bricolagem sonora a provocar bons danos físicos aos muitos que se dispuseram a experienciá-lo. Só vimos parcialmente a sua prestação porque tínhamos esperança que os ingleses The 1975 justificassem a razão de haver uma multidão à sua espera. É verdade que quem se dispôs a vê-los não parece ter dado o seu tempo por mal-empregado, mas aquele rock electrónico, com elementos de R&B, soou um pouco requentado.

Aliás a vibração, a fome de conquista, que se sentiu em Dino, Conan e Branko, foi o oposto do que se vislumbrou na brigada britânica (The 1975, Jungle, Metronomy) do festival. Não deram maus concertos, mas cumpriram apenas os mínimos. Até os Jungle, que noutras ocasiões em palcos portugueses já entusiasmaram bastante, foram apenas o quanto baste. Continuam a viver, em grande medida, dos sucessos do primeiro álbum. O resto que fizeram a partir daí, em comparação, é nitidamente menos inspirado e isso sente-se no concerto. Até começaram esfuziantes, mas depois a coisa foi esmorecendo, apesar da maior parte da assistência não se ter queixado.

Antes disto tudo, ao final da tarde, havia estado em acção Cat Power. Há três anos, a solo, no Centro Cultural de Belém, vimo-lo dar um concerto tépido e confuso. Ali, com os seus músicos, foi outra vez feiticeira, interpretando Mannathan ou The greatest, com o fascínio de sempre. É engraçado porque há seis anos, ela e Lana Del Rey seriam apontadas como a antítese uma da outra. Agora, olhando para as duas, as voltas que a vida da música dá, percebe-se que aquele misto de fatalidade, melancolia e romance tem muitos pontos de contacto. Não é por acaso que agora até têm uma canção em dueto.

O festival prossegue este sábado com Phoenix, Kaytranada, Christine and the Queens, Shame, Charlotte Gainsbourg, Dâm-Funk, Erza Collective, Calexico and Iron & Wire ou Capitão Fausto.

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