A estrela rock que tem um arrependimento

Na Bora, ao lado de Peter Sagan, só poderia estar outro homem bizarro como o eslovaco. E está.

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O arrependimento de Oss: não ter parado para beber uma cerveja no Alpe d'Huez REUTERS/Benoit Tessier

Daniel Oss é, neste momento, a grande “estrela rock” do World Tour, quer pelo aspecto físico – cabelo e tatuagens de roqueiro –, quer por ter mesmo uma guitarra na mão. Diz que, se fosse uma estrela rock, gostaria de ser Iggy Pop, Kurt Cobain ou Sid Vicious.

“Toco umas coisas. Não posso dizer que toque grande coisa, porque não sou assim tão bom. Mas, quando oiço algo bom, tento chegar a casa e replicar. Adoro o instrumento e as regras numa banda. E acho que encaixo bem numa banda: não sou o líder, sendo guitarrista, mas acredito que, sem a guitarra elétrica, a música soa mal. Com ela soa melhor”.

A forma de ver o papel que teria numa banda é semelhante à forma como se vê no ciclismo. Daniel Oss é amigo, gregário e um dos lançadores de Sagan. Não é o líder da “banda”, mas tem um papel essencial. E está confortável com isso, sabendo que trabalha para alguém que ganha mais do que os outros.

“Ele não é um campeão normal. Tenho ambições, mas percebo que o Sagan é de outro nível e não me importo de trabalhar para ele”, diz, apesar de não descartar as conquistas em nome próprio – escassas, até hoje.

“Ainda tenho o sonho de ganhar corridas, mas, depois de dez anos, já conheço o meu limite. Não posso dizer que, amanhã, vou ganhar uma clássica, mas posso dizer que, amanhã, se tiver uma oportunidade, posso ser um bom outsider”.

Aos 32 anos, este italiano, que começou no skate, assume que nem sequer gostava de ciclismo: “Mesmo depois de começar a correr, eu não via ciclismo. Competia, mas não queria saber de ciclismo”. E talvez esta falta de paixão tenha levado ao novo projecto deste “artista” fã de rock, punk, pistachos e coelho com polenta.

“Depois de um Giro, eu estava muito cansado e, num café com os meus amigos, disse ‘basta, não quero ver mais bicicletas’. Mas estava a mentir, eu adoro a minha bicicleta. E pensei ‘ok, quero ver a minha bicicleta, mas de outra forma, noutro contexto’. E decidi começar o projecto #justride, que consistiu em fazer viagens com a bicicleta. Fiz cerca de 200km por dia, com paragens para almoçar e conhecer pessoas. Redescobri o amor pelo ciclismo”.

Como qualquer estrela rock, Daniel Oss tem as suas loucuras. No fundo, cumpre o “requisito” para ser parceiro de Sagan: “Tenho um arrependimento: uma vez, quis parar para beber uma cerveja com os adeptos, em pleno Alpe d’Huez. Estava no meu quinto Tour. Mas não parei. E ainda hoje me arrependo disso”.

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