Alan Turing, pioneiro da computação, será o rosto das notas de 50 libras

O matemático britânico descreveu em 1936 o funcionamento teórico de um computador e descodificou mensagens nazis na II Guerra Mundial.

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O desenho da nota, apresentado pelo Banco de Inglaterra Banco de Inglaterra

Alan Turing, um matemático britânico cujo trabalho vai da computação à inteligência artificial, e que ficou conhecido sobretudo por ter ajudado a descodificar comunicações alemãs durante a II Guerra Mundial, será o rosto da próxima nota de 50 libras.

O desenho da nota foi revelado nesta segunda-feira pelo Banco de Inglaterra. A nova nota de 50 libras é a última no Reino Unido a passar de papel para um polímero que as torna mais resistentes e lhes dá maior longevidade. Deverá entrar em circulação no final de 2021.

“Alan Turing foi um matemático brilhante, cujo trabalho tem tido um impacto enorme na forma como vivemos hoje”, afirmou o governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney. “Enquanto pai da ciência da computação e da inteligência artificial, bem como herói de guerra, as contribuições de Alan Turing foram vastas e pioneiras. Turing é um gigante em cujos ombros muitos estão hoje.”

A decisão foi tomada após seis semanas de consulta pública, durante as quais foram propostas 989 personalidades elegíveis. O Banco de Inglaterra, que tinha escolhido a ciência como tema para a nova nota, fez uma lista de 12 finalistas, entre os quais estavam o famoso físico Stephen Hawking, e Ada Lovelace e Charles Babbage, outros dois pioneiros da computação, que viveram no século XIX.

A nova nota de 50 libras tem uma fotografia do rosto de Turing tirada em 1951, quando o matemático tinha 38 ou 39 anos. Também inclui uma tabela do artigo científico escrito por Turing em 1936, no qual o então jovem matemático descreve o funcionamento de um computador teórico, que viria a ficar conhecido por Máquina de Turing e que abriu caminho aos primeiros computadores do século passado.

Entre outros elementos, a nota tem também uma imagem do ACE, um computador concebido por Turing já depois da II Guerra Mundial, bem como diagramas de uma máquina que Turing ajudou a conceber e que foi usada para decifrar comunicações nazis durante a guerra. As mensagens eram encriptadas por várias versões da afamada máquina Enigma.

A nota exibe ainda uma citação do matemático, retirada de uma entrevista dada em 1949 ao jornal britânico The Times: “Isto é apenas um prelúdio do que está para vir, e apenas a sombra do que vai acontecer.”

O trabalho na descodificação das mensagens nazis é talvez o feito pelo qual Turing é mais conhecido. Mas deu também importantes contributos científicos para outras áreas, incluindo para a inteligência artificial. Em 1951, no artigo Computer Machinery and Intelligence, reflecte sobre a possibilidade de as máquinas pensarem. Nesse artigo aborda temas que são hoje frequentes no mundo da tecnologia, como o da aprendizagem automática.

Turing era homossexual, algo que nunca escondeu do círculo próximo numa altura em que ter relações sexuais com outro homem era um crime no Reino Unido. Em 1952 foi detido e julgado por ter uma relação com um homem. Condenado, optou por evitar a prisão aceitando submeter-se a um ano de injecções de estrogénio, que tinham como objectivo funcionar como uma castração química e que eram vistas como uma pena mais leve. Em 2013, o Reino Unido viria a dar um perdão póstumo a Turing.

Em 1954, Turing foi encontrado morto no seu apartamento, por envenenamento com cianeto. Tinha 41 anos e as autoridades concluíram tratar-se de um suicídio.

Artigo corrigido: o texto indicava inicialmente que Turing tinha morrido em 1952. Morreu em 1954.

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