Japão-Coreia do Sul: um conflito regional com impacto em todo o mundo

Fornecimento mundial de chips — dominado actualmente pelas empresas coreanas — pode ser afectado pelo conflito comercial entre o Japão e a Coreia do Sul. O único vencedor do prolongamento desta tensão pode ser a China.

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O conflito entre o Japão e a Coreia que se tornou agora também numa guerra comercial entre os dois países constitui uma ameaça para o normal funcionamento da indústria de tecnologia à escala mundial, quebrando um dos principais canais de oferta internacional de chips. E, contra a vontade dos seus principais protagonistas, o único vencedor do prolongamento da tensão pode ser a China.

Ao impor restrições à exportação para a Coreia do Sul de três tipos de material considerados sensíveis, o Japão pode desencadear alterações significativas no fornecimento de chips em todo o mundo. Isto acontece porque, de acordo com os dados mais recentes publicados Associação do Comércio Internacional da Coreia, duas empresas do país – a Samsung e a SK Hynix – dominam em conjunto um pouco mais de 60% do mercado mundial de chips para a indústria tecnológica. E para fabricarem esses chips usam maioritariamente os materiais que importam do Japão e que agora, enquanto o conflito entre os dois países se mantiver, terão mais dificuldade em obter.

Isto constitui uma ameaça directa para a economia coreana, que veria um dos seus principais sectores em dificuldades, mas também um problema para todas as outras empresas mundiais que têm contado com a Samsung e da SK Hynix para o fornecimento de chips.

Para já, as empresas coreanas, no meio de ambiente tenso entre os dois países em que os humores da opinião pública podem ser determinantes, têm optado por declarações prudentes. Num comunicado citado pela CNN, a Samsung limitou-se a afirmar que “está a avaliar a situação actual e a rever um conjunto de medidas para minimizar o impacto na produção”.

Não se pense contudo que, entre Coreia e Japão, só a Coreia é que tem a perder com o conflito. O grau de interligação entre as duas economias é tão forte que o potencial de perdas para ambos os lados de uma sucessão de retaliações é muito elevado. Há diversas áreas em que o Japão depende de produtos coreanos para a sua normal actividade económica.

Para já, um beneficiado possível deste conflito é a China. A enfrentar um conflito comercial com os Estados Unidos que está a ameaçar muitas das suas indústrias, a China pode receber dos seus vizinhos uma prenda inesperada. É na China que estão os concorrentes mais próximos dos produtores coreanos de chips e, num cenário em que estes fiquem limitados na sua capacidade de fornecer os mercados, empresas chinesas como a Huawei ficam com uma oportunidade de os substituir.

Se tal acontecer, a China fica, nas discussões que mantém com os Estados Unidos, com mais um pequeno trunfo na hora de contabilizar os prejuízos que cada um dos países pode infligir ao outro. Este pode ser um motivo para que os EUA, concentrados como estão em sair vencedores da guerra comercial com Pequim, estimulem os seus aliados asiáticos a chegar a um entendimento, o mais rapidamente possível.

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