Exumações no Vaticano reavivam mistério sobre desaparecimento de Emanuela Orlandi

Sepulturas do Cemitério Teutónico do Vaticano são exumadas esta quinta-feira, em busca dos restos mortais de Emanuela Orlandi, desaparecida em 1983, então com 15 anos, no centro de Roma.

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Uma fotografia estará na origem do pedido de exumação solicitada pela família da rapariga desaparecida LUSA/FABIO FRUSTACI

A 22 de Junho de 1983, Emanuela Orlandi regressava a casa depois de uma aula de flauta. Foi vista, pela última vez, numa paragem de autocarro no centro de Roma, em Itália. Depois disso, desapareceu sem deixar rasto. Passados 36 anos sobre o seu desaparecimento, a família recebeu, em Março deste ano, uma carta anónima que mostrava a fotografia de um anjo em cima de um túmulo, no Cemitério Teutónico do Vaticano. Esta quinta-feira, a polícia vai entrar no cemitério fechado ao público para exumar duas sepulturas em busca da rapariga desaparecida.

Emanuela, com 15 anos à altura, era filha de um trabalhador do Banco do Vaticano — este pormenor sempre suscitou dúvidas sobre se alguém no Vaticano teria algo que ver com o seu desaparecimento. Seguiram-se décadas de especulação. Teria sido raptada ou assassinada? Se sim, onde estaria o corpo? As respostas nunca chegaram e a família seguiu, ao longo dos anos, inúmeras pistas e rumores. Até agora. “Muitas pessoas dizem-me: ‘Esquece, desfruta a tua vida, não penses mais sobre isso’”, disse o seu irmão mais velho à BBC. “Mas não consigo. Não conseguirei estar em paz se isto não for resolvido”, acrescentou Pietro Orlandi.

A fotografia era uma pista sobre onde estaria o corpo de Emanuela? A família sabia que tinha de pedir autorização ao Vaticano para entrar no cemitério onde costumam ser sepultados membros de instituições católicas de língua almã. Mas não foi bem sucedida das primeiras vezes que entrou em contacto com a Igreja Católica. A família teve então de apresentar um pedido para que o Vaticano autorizasse a exumação. Um tribunal da cidade do Vaticano concedeu finalmente a autorização.

“Pela primeira vez, o Vaticano demonstra que considera a possibilidade de haver responsabilidades internas no desaparecimento de Emanuela”, insistiu Pietro Orlandi à BBC. Contudo, o gabinete de comunicação do Vaticano afirmou que a polícia entrará no cemitério para investigar a possibilidade de a adolescente ter sido ali enterrada, e não o seu desaparecimento. Essa, disse, é uma jurisdição que compete às autoridades italianas.

Quando a exumação tiver lugar, a família Orlandi poderá estar presente, assim como os familiares das pessoas enterradas nas sepulturas que serão retiradas. Depois disso, serão realizados testes de ADN — um processo que deverá durar semanas. “Seria angustiante para a minha mãe, se os restos de Emanuela fossem encontrados. Ela ainda vive no Vaticano, a apenas 200 ou 300 metros do cemitério. Só de pensar que esteve tão perto da minha irmã tanto tempo sem saber, faz-me sentir mal”, afirmou o irmão. “Na verdade, espero que a Emanuela não esteja lá-”

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