João Gilberto: Brasil recorda o pai da bossa nova

João Gilberto, que morreu este sábado aos 88 anos, é recordado pelos artistas que nasceram graças a ele.

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A morte de João Gilberto, considerado o pai da bossa nova, ecoa por todo o mundo e tem gerado reacções de personalidades ligadas às artes, cultura e política.

Artistas brasileiros como Gal Costa, Daniela Mercury e Caetano Veloso lamentaram publicamente a morte do compositor, este sábado, no Rio de Janeiro, aos 88 anos.

“Se foi João Gilberto o maior génio da música brasileira. Influência definitiva no meu canto. Fará muita falta mas o seu legado é importantíssimo para o Brasil e para o mundo”, escreveu a cantora Gal Costa, na rede social Instagram.

“João mudou para sempre a música do mundo. Ele ensinou a delicadeza ao Brasil, trouxe a modernidade. É uma perda irreparável. Eu, pessoalmente, sentirei saudade do homem que teve uma influência decisiva no meu canto”, afirmou a cantora. 

Foi com a palavra “mestre” que a cantora brasileira Daniela Mercury se referiu a João Gilberto na sua mensagem de despedida.

“Vai minha tristeza e diz a ele que sem ele não pode ser. Um génio que revolucionou para sempre a música popular brasileira. João criou a bossa nova e me influenciou imensamente. Um dia ele me disse que eu era de sua família. E sou mesmo. Ele ensinou todos nós a cantar da forma mais bela do mundo. Vá em paz, mestre”, declarou a artista.

Num vídeo enviado ao canal de televisão GloboNews, o músico e escritor brasileiro Caetano Veloso, um confesso seguidor de João Gilberto, lamentou a morte do compositor, declarando a sua importância ao longo da sua carreira. Caetano Veloso, que esteve recentemente em Portugal, classificou João Gilberto como um dos maiores músicos brasileiros de sempre.

“Acabo de saber que João Gilberto morreu. É um acontecimento de imensa importância para mim. Porque, tudo somado, João Gilberto é, no meu ponto de vista, o maior artista de todos. No momento exacto, preciso da minha vida, ele apareceu dando sentido mais profundo à percepção das artes em qualquer estágio. Nem sei o que dizer pelo facto de que ele deixou de existir como pessoa física”, afirmou Caetano Veloso.

Também Gilberto Gil assinalou a morte do músico com um vídeo no Instagram, em que escreveu na legenda da publicação “Para João, a música, a poesia e o amor”.

Maria Bethânia foi outra das artistas a usar as redes sociais para prestar tributo a João Gilberto: “Luto. A cultura brasileira perde hoje uma personalidade lendária, o Pai da bossa nova, João Gilberto. Todo e total respeito e reverência a essa entidade da Música Brasileira. Descanse em Paz”, escreveu.

O escritor, dramaturgo e autor de telenovelas brasileiras Walcyr Carrasco lamentou o desaparecimento de “um dos músicos mais importantes e influentes do Brasil”.

“Quem nos deixou hoje foi João Gilberto, aos 88 anos. Um dos pais da bossa nova e um dos músicos mais importantes e influentes do Brasil. Descanse em paz. Meus sentimentos aos familiares e amigos”, disse Carrasco no Instagram.

Ruy Castro, jornalista e biografo lamentou a morte de Gilberto. Descreveu-o como alguém sempre em busca da perfeição. “Ele tinha um conhecimento monumental do passado musical brasileiro, do samba. E foi isso que permitiu a ele fazer bossa nova. Ele queria aperfeiçoar a perfeição”, disse, citado pela Jovem Pan.

O escritor é o autor da biografia Chega de Saudade, que conta histórias da bossa nova, entre elas a de João Gilberto. “Ouçam seus discos. Quem sabe isso vai nos inspirar para que o Brasil volte a fazer melhor música popular. Música com qualidade e interesse”, disse. 

Nelson Motta, jornalista, compositor e letrista brasileiro escreveu no jornal O Globo que “quem foi tocado pela música de João nunca mais foi o mesmo, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Chico Buarque, Rita Lee, Jorge Benjor, e até Tim Maia, tiveram nele mais que um ídolo, um farol, um anjo de leveza, delicadeza e suinguie”.

“Todos os que o conheceram podem me confirmar: João é uma das pessoas mais inteligentes entre tantos artistas que conheci e tive o privilégio de conhecer”, acrescentou. 

Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil, lamentou a morte de João Gilberto. Instado a comentar a morte do músico, Bolsonaro foi breve e disse, segundo a Folha de São Paulo, que “era uma pessoa conhecida”. E acrescentou “nossos sentimentos à família, está ok?”.

O compositor João Gilberto, um dos nomes mais importantes da música brasileira, morreu em sua casa, no Rio de Janeiro, revelou o seu filho João Marcelo Gilberto. João Marcelo Gilberto anunciou a morte do pai na rede social Facebook, enaltecendo “a sua luta nobre” e a tentativa de “manter a dignidade”, apesar de ter perdido “a sua autonomia”.

O cantor e compositor, considerado o precursor do género musical bossa nova e grande responsável pela sua disseminação pelo mundo, vivia arruinado e em solidão no Rio de Janeiro. 

Derivado do samba e com influências do jazz, o estilo bossa nova surgiu no fim da década de 1950 pelas mãos de João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e de jovens cantores e compositores da classe média do Rio de Janeiro.

O álbum que marcou o início da bossa nova, Chega de saudade, foi composto por Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980). João Gilberto deu voz à versão mais conhecida da música, lançada em Agosto de 1958. Em 1961, o cantor e compositor concluiu a trilogia de álbuns que, de acordo com o portal da Globo, “apresentaram a bossa nova ao mundo": Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961).

A causa da sua morte ainda não foi revelada.

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