Jovens fãs compram “presentes digitais” para serem mencionados por estrelas do TikTok

A aplicação chinesa permite partilhar vídeos curtos e está a ganhar popularidade entre os utilizadores mais novos.

Foto
Alguns fãs gastaram a mesada toda para ter atenção dos criadores de que mais gostam Reuters/Danish Siddiqui

​Há menores a gastar dinheiro para serem mencionados em vídeos dos utilizadores mais populares no TikTok, uma aplicação de partilha de vídeos que tem vindo recentemente a ganhar popularidade.

As estrelas do TikTok, que é uma plataforma de microvídeos popular entre os mais novos, estão a pedir “presentes digitais” a fãs jovens. Os presentes são animações ou novas funcionalidades para os vídeos, que são compradas no TikTok com dinheiro real. Em troca, às vezes as estrelas mencionam os fãs nos seus vídeos.

Lançada em 2016 na China e no ano seguinte no resto do mundo, o TikTok é uma aplicação da startup chinesa Bytedance para partilhar vídeos curtos, com cerca de 15 segundos, em directo. Muitas vezes, os clips mostram adolescentes a dançar ao som de música popular ou em pequenas comédias. Usada regularmente por cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo, desde 2018 que a aplicação está disponível em 150 mercados, sendo a aplicação móvel mais descarregada nos EUA. De acordo com dados de 2018 da analista GlobalWebIndex, 41% dos utilizadores do TikTok tem entre 16 e 24 anos. Em Portugal, a aplicação é a 22.ª aplicação gratuita mais popular para Android e a 60.ª na loja da Apple.

Os utilizadores podem comprar moedas digitais na plataforma, através dos métodos de pagamento das lojas online do Google e da Apple, e usá-las para adquirir presentes digitais para dar outros utilizadores. Um utilizador que receba muitos presentes digitais ganha “diamantes”, que são um símbolo de estatuto na plataforma)

Uma investigação da BBC, publicada esta quarta-feira, junta casos de vários jovens no Reino Unido (alguns com apenas 13 anos) que gastam até centenas de libras por mês no TikTok para enviar presentes aos utilizadores mais famosos da plataforma. Frequentemente, os pais desconhecem o destino do dinheiro. Em entrevista àquela estação inglesa, os fãs dizem que o objectivo é serem mencionados nos vídeos, ou ajudarem os criadores de que gostam a receberem mais atenção.

Também há quem pague para receber números de telefone das celebridades que admiram. Muitas vezes, porém, saem de mãos a abanar: uma fã inglesa pagou 100 libras para o número de telefone de uma estrela na plataforma, mas a chamada nunca foi atendida. Em declarações à BBC, alguns dos criadores envolvidos nas transacções admitem que se sentem culpados quando percebem que os fãs – que enviam dinheiro em troco de vídeos personalizados ou conversas – são menores de idade e sugerem a criação de barreiras à compra de presentes digitais pelos mais novos.

O PÚBLICO contactou a equipa europeia do TikTok, mas não recebeu resposta até à hora de publicação deste artigo.

A história da BBC sobre o TikTok chega a meio de uma investigação do Reino Unido sobre como o TikTok gere a informação pessoal – nome, localização, email – dos mais novos. Em Fevereiro, a plataforma chinesa concordou em pagar 5,7 milhões de dólares à Comissão de Comércio Federal dos Estados Unidos (FTC), por ter recolhido informação pessoal dos utilizadores com menos de 13 anos sem autorização dos encarregados de educação.

A aplicação já pediu desculpas pelo sucedido, embora descreva o problema como uma “falha técnica”. Num comunicado a circular na imprensa – enviado à BBC e ao jornal chinês Global Times – um porta-voz do TikTok nota que a aplicação “não tolera comportamento enganador” e que a equipa “está motivada a proteger a segurança e privacidade da sua comunidade de utilizadores”. Enviar presentes digitais aos criadores de vídeos não é ilegal: nos termos de serviço, a plataforma apenas proíbe, especificamente, a publicação de material ofensivo, pornográfico, racista, xenófobo ou a sugerir comportamentos perigosos.

Sugerir correcção
Comentar