França adia exames nacionais por causa do calor extremo

Meteorologistas estimam que os termómetros possam chegar aos 39 graus Celsius. “É impensável deixar os alunos realizarem as provas”, diz o ministro da Educação francês. Exames adiados testam os conhecimentos de mais de 800 mil alunos entre os 14 e os 15 anos.

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Meteorologistas prevêem pico da onda de calor para quinta-feira. Reuters/CHARLES PLATIAU

Está demasiado calor em França e, por isso, os mais de 800 mil alunos entre os 14 e os 15 anos que deveriam prestar provas a nível nacional na quinta e na sexta-feira já não o vão fazer. A decisão do Ministério da Educação francês foi adiar os exames para os dias 1 e 2 de Julho, quando se prevê que as temperaturas já tenham descido. Nos territórios ultramarinos franceses, as provas mantêm-se agendadas para os dias 27 e 28 de Junho.

Em comunicado, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, diz que a “decisão foi tomada para garantir a segurança dos alunos do ensino básico”. E acrescenta: “É impensável deixar os alunos realizarem as provas em salas sobreaquecidas por várias horas. Não queremos correr riscos. Queremos garantir, em todas as circunstâncias, as melhores condições para os alunos.”

As provas em causa, que os franceses chamam “diplôme national du brevet”, servem para avaliar os conhecimentos dos alunos em francês, matemática, história, ciências e uma língua estrangeira no final do ensino básico. Os jovens que, por algum motivo, não consigam fazer o exame na nova data, poderão realizá-lo em Setembro.

Há outros exames em curso que não serão adiados. “Cabe aos responsáveis tomar as medidas necessárias para garantir que os testes são feitos em condições”, acrescenta o comunicado.

“Durante a semana, devemos estar particularmente atentos à saúde dos estudantes, especialmente dos mais novos”, declara o ministro em comunicado. “Cada situação terá que ser avaliada a nível local, a fim de reorganizar as escolas ou até mesmo decidir pelo seu encerramento.”

Segundo a BBC, 50 escolas na região de Essonne, a sul de Paris, já foram encerradas por não estarem devidamente equipadas. O canal BFMTV também diz que, a partir de quinta-feira, escolas nas regiões de Val-de-Marne e Seine-et-Marne, perto de Paris, também vão encerrar.

O episódio de calor extremo, a que os franceses chamam “canicule” — ou canícula —, é “muito sério”, reconhece o ministro da Educação. Estima-se que os termómetros cheguem aos 39 graus Celsius, mas por causa da humidade no ar a temperatura sentida pode chegar aos 47 graus Celsius. Os meteorologistas franceses dizem mesmo que o fenómeno é semelhante aos que foram registados em 1947 e em 2003, quando França passou por duas fortes ondas de calor.

Calor e maus resultados nos exames

Afinal, o calor tem ou não impacto no desempenho dos alunos? Há várias investigações que indicam que sim. Num estudo recente, um grupo de investigadores da Harvard Kennedy School of Government concluiu que nos dias quentes (mais de 32 graus Celsius), o desempenho dos alunos nos exames nacionais cai até 14%.

Uma outra investigação coordenada por Mário Talaia, professor na Universidade de Aveiro, conclui que quando “o ambiente térmico de uma sala de aula não se situa na zona de conforto térmico os resultados da avaliação dos estudantes diminuem 3,9% por cada grau Celsius a mais”.

Recentemente, o PÚBLICO analisou os dados relativos a mais de 200 mil exames nacionais do secundário realizados na 1.ª fase, em Lisboa, entre 2008 e 2018. Conclusão: nas provas que se realizaram em dias mais quentes, as notas tendem a descer. As disciplinas mais afectadas são Física e Química, História e Matemática, que foram aquelas nas quais mais frequentemente os alunos prestaram provas em dias mais quentes, ao longo do período em causa. Já no caso de Português, Geografia e Biologia e Geologia, que tendem a realizar-se em dias em que a temperatura é mais amena, o impacto dos dias mais quentes não é visível.

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