Matemática A: há professores que falam de um exame “pobre” e outros que criticam peso das perguntas difíceis

Como é habitual, a Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação de Professores de Matemática divergem na apreciação do exame. Prova foi realizada por 45 mil alunos do 12.º ano.

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Para o exame de Matemática A estavam inscritos cerca de 48 mil alunos Paulo Pimenta

“Uma prova pobre que não avalia de forma equilibrada a aprendizagem prevista no currículo do ensino secundário nem valoriza adequadamente o trabalho desenvolvido pelos alunos e respectivos professores”. É assim que a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) avalia o exame de Matemática A, realizado nesta terça-feira por alunos do 12.º ano. Estavam inscritos para a prova 47.829 estudantes, compareceram 45.229.

Como exemplo da sua apreciação, a SPM aponta o item 5 do exame, que considera requerer apenas um “raciocínio ao nível do 2.º ciclo de escolaridade”. Nesta questão, especifica a SPM, mais uma vez se pretende mostrar artificialmente as aplicações da Matemática, transcrevendo-se equações supostamente complexas e que enchem o olho, mas pedindo-se aos alunos que apenas substituam o valor de duas variáveis e coloquem em equação uma situação do tipo ‘d excede em 9 milímetros x’ (raciocínio ao nível do 2.º ciclo)”.

Por outro lado, acrescenta esta sociedade científica, “nesse mesmo item, é explicitamente solicitado aos alunos para ‘não justificar a validade do resultado obtido na calculadora’, uma situação que constitui a antítese do método científico”.

Já as reservas colocadas pela Associação de Professores de Matemática (APM) são de natureza diferente. Por exemplo, o facto de cinco em 20 das perguntas da prova serem de difícil resolução. “Parece-nos que para uma certificação da escolaridade obrigatória este é um peso excessivo”, comenta Teresa Moreira, da APM.  

A SPM contesta também que o Instituto de Avaliação Educativa (Iave, responsável pela elaboração e classificação dos exames) tenha proposto de novo um exame com perguntas em alternativa. Esta opção foi já aplicada no exame do ano passado, tendo sido amplamente criticada.

O Iave justificou esta escolha pelo facto de em 2018 terem ido a exame alunos que seguiram programas diferentes: o programa e metas curriculares em vigor e o programa anterior entretanto revogado. Ora, frisa a SPM, no presente ano lectivo “este último já não foi leccionado nas escolas, sendo por isso ainda mais incompreensível esta opção”.  A SPM refere a este respeito que os alunos externos, que não frequentaram as aulas e estudaram ainda pelo anterior programa, “deveriam ter uma prova própria, como sempre foi feito no passado”.

Ao optar por fazer um exame com perguntas em alternativa, o Iave “compromete a correcção técnica das provas” já que um mesmo exame “não pode evidentemente obedecer a dois referenciais distintos”, acusa ainda a SPM.

A representante da APM defende que os alunos precisam de “estabilidade na organização dos exames”, mas adianta que o que está “errado é a manutenção do programa actual”, que foi aprovado durante o mandato de Nuno Crato. “Se não existisse este programa, estas questões não se colocavam”, diz.

Em 2018 a opção por um exame com perguntas em alternativa levou também a problemas na correcção das provas. Três dias depois da realização do exame, o Iave instruiu os professores classificadores que se o aluno tivesseacabado por responder a dois itens das perguntas em alternativa e uma das respostas estivesse correcta, “esta devia ser considerada” para efeitos de cotação. Na prova de exame estava escrito expressamente que o aluno só devia responder a um dos itens.

Duramente criticado por pais e professores, o Iave mudou de rumo na 2.ª fase dos exames, realizada em Julho. Enviou às escolas um esclarecimento, que foi lido a todos os alunos antes de iniciarem o exame, informando que nas perguntas em alternativa se fossem apresentadas duas respostas apenas contaria a primeira.

Notícia actualizada às 19h59. Acrescenta posição da Associação de Professores de Matemática.

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