O PS e o desapego à esquerda: foi bom, “ajudou”, mas agora o PS precisa de “não ter bloqueios e inércias”

Carlos César entrou em modo campanha eleitoral sem freio. Nestas jornadas parlamentares do partido, o líder parlamentar acena com os “aventureirismos”, “radicalismos” que nos levariam “a caminhos de penúria”.

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Rui Gaudêncio

Na segunda-feira, a ligação aos partidos à esquerda foi resumida a um “gosto” pelo apoio que foram dando ao longo da legislatura, sobretudo para a aprovação de “quatro orçamentos”. Esta terça-feira passou a uma “ajuda da maioria parlamentar”. Para o futuro, Carlos César não fala, mas trilha o caminho que quer para o PS: ser mais forte, sem nunca dizer a expressão “maioria absoluta”, para ter um caminho “sem bloqueios, sem constantes dificuldades, sem inércias”.

O presidente do grupo parlamentar socialista dedicou estas jornadas parlamentares a fazer um balanço da legislatura e, numa altura em que não se está a conseguir entender com os parceiros à esquerda – sobretudo na lei de bases da saúde, mas também noutras matérias –, acentuou a descolagem à maioria que tem sustentado o Governo, num ensaio geral para aquele que será o discurso dos socialistas em campanha eleitoral para as legislativas de Outubro.

“Se é verdade que tivemos a ajuda da maioria parlamentar, tivemos por outro lado a dificílima, mas bem-sucedida missão de recuperar a confiança, recuperar a economia, de equilibrar as finanças públicas”, começou por dizer para logo de seguida preparar o discurso catastrófico. Esta política só foi possível graças ao PS que não permitiu “aventuras orçamentais que nos levariam ao colapso financeiro, à insustentabilidade e à desconfiança internacional e ao regresso a caminhos de penúria em que vivemos em anos anteriores”.

Se outrora o sucesso do Governo se devia ao PS com o apoio dos parceiros, agora estes caem em desgraça no discurso e passam a um apêndice que serve para mostrar que não foi por eles que os indicadores da economia melhoraram. No discurso de abertura das jornadas parlamentares, César lembrou que os investidores, que permitiram a recuperação da economia, não ficaram em Portugal “enamorados pelos comunistas ou pela esquerda do BE”. “Deveu-se a políticas no centro das quais esteve e está o PS”, reforçou.

A palavra do dia é “ajuda”. É a uma “ajuda” que a coligação sui generis com PCP, BE e PEV foi resumida por Carlos César por duas vezes no discurso. “Contámos com a ajuda dos outros partidos, mas o PS precisa de contar mais, precisa de ter mais força, para prosseguir este caminho sem bloqueios, sem constantes dificuldades, sem inércias, e para isso nós precisamos de uma grande votação, de uma grande manifestação de confiança dos portugueses”, pediu no final do discurso.

Antes, tinha referido no que se concretizou essa “ajuda”. “Contra a maioria das expectativas, o PS assegurou durante quatro anos a estabilidade política e assegurou a aprovação dos quatro orçamentos do Estado, isto sem contributo do CDS ou PSD, apesar de não termos rejeitado o apoio de qualquer partido”, disse. Sem mais. Quatro orçamentos e estabilidade.

Socialistas “aprenderam com o passado”

Numa frase enigmática – que ficou no ar que poderia ser em relação à coligação com os partidos à esquerda ou em relação ao governo socialista de José Sócrates – César repetiu a ideia que os socialistas “aprenderam com o passado”.

“É muito importante olhar para trás, mas só é útil olhar para trás para vermos melhor em frente. É isso que o PS tem feito e que provou saber fazer. Aprendemos com os nossos erros e ao longo desta legislatura renovámos um contrato de confiança que representou enormes progressos no bem-estar das famílias”, disse.

Socialistas e bloquistas estão de costas voltadas por causa da lei de base da saúde e César não se cansa de o referir nos vários discursos que tem feito nestas jornadas. O líder parlamentar pede a aprovação da legislação que “substitui a concorrência pela colaboração e que só não será aprovada se o radicalismo de alguns se sobrepuser ao objectivo da lei”, referiu.

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