Directores de maternidades do Norte alertam para “situação caótica”

As administrações do Centro Hospitalar Universitário São João e do Centro Hospitalar Universitário do Porto tinham garantido ontem ao PÚBLICO que estava tudo dentro da normalidade e que o planeamento da gestão dos recursos estava a ser feita num “clima de tranquilidade”.

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PAULO PIMENTA/ARQUIVO

Os directores de 13 hospitais do Norte do país alertam que, à semelhança do que acontece na zona de Lisboa, a falta de médicos está a provocar o “caos” nos serviços de urgência de ginecologia e obstetrícia e mostram-se preocupados com a situação nos próximos meses de Verão, avança o Jornal de Notícias.

Segundo o JN, os directores irão enviar uma carta à ministra da Saúde, Marta Temido, e à Administração Regional de Saúde do Norte (ARS/Norte), onde explicam que, caso continuem impedidos de contratar mais médicos, “não será possível garantir as urgências nos meses de Julho, Agosto e Setembro”. No Verão, além do aumento da procura, o gozo de férias por parte dos profissionais de saúde poderão agravar o cenário.

A “situação caótica” em que se encontram 13 maternidades da Região Norte terá sido avaliada pelos directores de vários serviços de obstetrícia e ginecologia durante uma reunião, no passado dia 13 de Junho, na Ordem dos Médicos, no Porto.

Face a este cenário, o auto-intitulado “Grupo de Reflexão da Saúde da Mulher do Norte” irá enviar uma carta — subscrita por directores dos serviços públicos de obstetrícia e ginecologia de Braga, Bragança, Famalicão, Guimarães, Paredes, Porto, Santa Maria da Feira, Viana do Castelo e Vila Real — ao ministério da Saúde a alertar para a falta de recursos humanos.

O director do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Nossa Senhora da Oliveira (Guimarães), José Manuel Furtado, confirmou ao JN que a reunião serviu para expor à ARS Norte e ao Governo “alguma perturbação” que verifica nos hospitais devido à escassez de médicos e à falta de renovação dos quadros. O problema está, segundo José Manuel Furtado, na distribuição de vagas e na falta de profissionais de saúde — que acabam por ir “para o estrangeiro ou para o serviço privado, que oferece melhores condições”, diz.

Em Lisboa, as urgências de obstetrícia e ginecologia de quatro hospitais irão encerrar rotativamente, uma solução que José Manuel Furtado considera “apenas um recurso”, “uma última medida para ultrapassar as dificuldades”. Porém, avança o JN que alguns serviços do Norte do país também já estão a funcionar “em regime de contingência”.

Já a directora do serviço de ginecologia e obstetrícia da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), Paula Pinheiro, explicou ao JN que o mapa de vagas estipulou “apenas quatro para a região” e confirmou uma “situação crítica” numa grande parte dos serviços. “A situação é de crise no Norte, mas é extensiva a todo o país”, garantiu Paula Pinheiro. Este ano, num total de 45 vagas em todo o país, abriram apenas quatro para médicos especialistas em obstetrícia e ginecologia nos hospitais públicos do Norte (que assistem cerca de 3,7 milhões de utentes), situação que já foi reportada por vários responsáveis de saúde à Ordem dos Médicos.

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, sublinha ao JN que “os médicos estão revoltados” e diz esperar que “o ministério da Saúde tenha uma fundamentação válida para isto”, alertando ainda para as consequências desta “assimetria” na distribuição de vagas.

O Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, viu-se já obrigado a recorrer a prestadores de serviços – duas médicas internas irão trabalhar como tarefeiras – para colmatar a falta de médicos (que saíram por motivo de reforma ou para trabalhar no privado) e “assegurar a escala de serviço” na especialidade de obstetrícia.

Por outro lado, a ARS/Norte diz, segundo o JN, não ter conhecimento da situação.

“Clima de tranquilidade”

Ainda ontem, sexta-feira, a perguntas colocadas pelo PÚBLICO, a administração do Centro Hospitalar Universitário São João garante que a unidade de saúde tem planeado a gestão dos recursos humanos, nomeadamente médicos, para os próximos meses, num “clima de tranquilidade” e explica que, apesar da época estival, não se prevêem impactos relevantes na assistência aos utentes.

Da mesma forma, a administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto assegura que o hospital tem recursos para garantir o normal funcionamento no Verão. Já o conselho de administração de Trás-os-Montes e Alto Douro diz ter identificado nos últimos anos as maiores carências e destaca que tem vindo a realizar uma série de investimentos (ao nível da modernização) e a contratar médicos especialistas, assegurando ainda que, à semelhança do que aconteceu nos anos anteriores, irá haver um esforço adicional para preencher as escalas de serviço de urgência no Verão.

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