Dia da Memória e Pesar

Derrotada há 74 anos, a maligna ideologia nazi lamentavelmente não veio a ser totalmente erradicada e ainda hoje, de vez em quando, levanta a cabeça. Vemos em alguns países da Europa as suas abomináveis manifestações.

Hoje, a 22 de junho, completa-se 78 anos desde o início da Grande Guerra Patriótica, a mais terrível, trágica e sangrenta na história do meu país. Pelas 4h00 da madrugada as tropas hitleristas atacaram, sem declaração da guerra, a URSS, a nossa terra e o nosso povo.

O Terceiro Reich parecia e de facto era o colosso invencível – os Estados europeus que atacara foram esmagados em umas semanas ou até dias, com pouco custo para os agressores. Assim tinha sido até que esta máquina militar violenta decidiu cruzar a fronteira com a URSS.

A Grande Guerra Patriótica durou 1418 dias cheios de dor, morte e destruição. A União Soviética, o país de enorme território, o maior no mundo, foi devastada. A maioria dos cidadãos soviéticos perdeu membros da família, ninguém escapou sem ser afetado. 

Pagámos um preço altíssimo, em termos humanos (26,6 milhões de vítimas) e materiais, para o inimigo da humanidade e da civilização ser vencido e a Europa se tornar livre da peste castanha. O povo soviético, atuando junto com os aliados, desempenhou o papel crucial na derrota dos nazis na Segunda Guerra Mundial. Mesmo quando foi aberta a 2.ª frente na Europa, em 6 de junho de 1944, a URSS continuava a enfrentar os dois terços do potencial ofensivo de Hitler. O flanco Leste foi o palco das maiores batalhas e operações da Segunda Guerra Mundial, tendo a defesa de Moscovo (setembro de 1941-abril de 1942) e de Estalingrado (julho de 1942-fevereiro de 1943) entre estas. Bem como a operação ofensiva Bagration (23 de junho a 29 de agosto de 1944) – talvez a maior batalha na história da humanidade, que envolveu do lado soviético mais de 1,2 milhões de pessoas, 9,5 mil morteiros, 1350 aviões e até mil blindados, resultando na libertação dos territórios da Bielorrússia, Lituânia e Leste da Polónia dos invasores nazis e extermínio do agrupamento “Centro” das suas tropas.

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Proclamado, em 1996, na Rússia, o Dia da Memória e Pesar, 22 de junho é o motivo para homenagearmos os nossos heróis, milhões dos quais deram as suas vidas por uma causa nobre e justa – a defender, até à última gota de sangue, a Pátria, a inteira civilização humana, o mundo, o futuro. É a oportunidade para agradecermos muito sinceramente, outra vez, aos nossos antepassados, vencedores na Grande Guerra Patriótica, por podermos, nós e os nossos filhos, desfrutar da vida e paz nestes dias.

É muito importante que em Portugal também se conserva a memória destorcida sobre os acontecimentos trágicos da época. Há organizações e instituições nacionais empenhadas na divulgação da verdade sobre a Segunda Guerra Mundial – por exemplo, Conselho Português para a Paz e Cooperação, União de Resistentes Antifascistas Portugueses, entre outras.

Um facto bastante emblemático: após a publicação neste jornal, no dia 8 de junho, da breve nota do adido de imprensa da nossa missão diplomática, por via da qual se referiu ao histórico desembarque na Normandia das tropas dos Aliados, passámos a receber dezenas de cartas, e-mails e comentários nas redes sociais dos leitores portugueses que demonstram com toda a clareza a sua forte convicção: as lições da história nunca podem ser esquecidas.

Recordando hoje o início da guerra terrível, o sacrifício irrecuperável do soldado e do povo soviéticos, percebemos ainda melhor o valor máximo da paz que existe graças aos nossos pais e avós, pensamos no que devemos empreender, nós próprios e junto com os parceiros estrangeiros, para a preservar e consolidar.

Derrotada há 74 anos, a maligna ideologia nazi lamentavelmente não veio a ser totalmente erradicada e ainda hoje, de vez em quando, levanta a cabeça. Vemos em alguns países da Europa as suas abomináveis manifestações – desfiles de glorificação aos colaboradores dos fascistas, atos de profanação dos monumentos aos soldados soviéticos, etc.

Neste sentido gostaria de fazer relembrar, que, como nos ensina a história, há problemas que podem ser resolvidos só em conjunto. Assim aconteceu nos anos 40 do século passado, quando os aliados na coligação anti-Hitler, apesar das sérias divergências políticas e ideológicas entre si, as superaram e se uniram no combate contra o inimigo comum da humanidade.

Atualmente, quando temos tantos desafios urgentes na agenda, tais como o terrorismo internacional, é indispensável unir os nossos esforços, deixando de lado as discordâncias sobre estes ou aqueles assuntos. Apenas assim venceremos.

É necessário lembrar isto sempre – sobretudo no Dia da Memória e Pesar e face ao próximo jubileu dos 75 anos da Grande Vitória que se celebrará em 9 de maio de 2020.

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