Jogos com 40 graus, álcool proibido e queixas de exploração laboral. Como vai ser o Mundial do Qatar

Michel Platini foi detido na terça-feira por suspeita de corrupção na atribuição da organização do Campeonato do Mundo de 2022 ao Qatar.

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Vários casos polémicos envolvem a realização do Mundial 2022 no Qatar Noushad Thekkayil

Michel Platini, ex-estrela do futebol francês e ex-presidente da UEFA, foi detido esta terça feira por suspeitas de corrupção relacionadas com a atribuição da organização do Campeonato do Mundo de 2022 ao Qatar.

A investigação está centrada num almoço, a 23 de Novembro de 2010 no Eliseu, que teve a presença de Platini, Nicolas Sarkozy, Tamim bin Hamad al-Thani, actual Emir do Qatar, e o Xeque Hamad Bem Jassem, na altura primeiro-ministro e ministro das Relações Externas do país do Médio Oriente.

Mas esta não foi a única polémica relacionada com a organização do Campeonato do Mundo naquela zona do planeta.

Jogos no inverno e de manhã por causa do calor

Logo após o anúncio da localização da maior competição de selecções do mundo de 2022, os agentes do futebol ficaram preocupados com uma questão essencial: o clima. As altas temperaturas do Verão catari, que podem chegar aos 50ºC, podiam pôr em causa o espectáculo do torneio e até pôr em causa a saúde dos atletas.

A FIFA, em 2015, anunciou que a final do Mundial do Qatar vai ser realizada no dia 18 de Dezembro e o jogo de inauguração está marcado para 21 de Novembro (alguns jogos poderão realizar-se de manhã, às 11h locais, por causa das elevadas temperaturas). Isto quer dizer que, pela primeira vez na história do futebol, um Campeonato do Mundo realizado no hemisfério norte se vai realizar no Inverno. Esta medida vai obrigar os campeonatos europeus a parar e essa foi uma das lutas que a FIFA teve que travar, principalmente com a Federação Inglesa, devido à aproximação ao dia 26 de Dezembro, dia em que se realiza o tradicional Boxing Day, em que os principais campeonatos britânicos realizam uma jornada.

Suspeitas de exploração dos trabalhadores

O enorme projecto apresentado pelo Qatar para receber o Campeonato do Mundo, exigia uma enorme intervenção no que toca à construção de novas infra-estruturas. Para uma noção mais real do projecto, este previa a construção de uma cidade completa no meio do deserto. A nova Lusail City vai ter marinas, centros comerciais, áreas de lazer e entretenimento, áreas residenciais, campos de golfe, praias e, claro, os estádios.

Contudo, foram levantadas ao longo dos anos questões sobre as condições a que os trabalhadores estão a ser submetidos na construção dessas infra-estruturas. Segundo uma investigação do The Guardian de 2013, existiam casos de trabalhadores que não recebiam salários há vários meses, trabalhadores a quem lhes era negada água gratuitamente enquanto trabalhavam debaixo do calor do deserto e que eram confiscados passaportes regularmente. A mesma investigação denunciava mortes súbitas de trabalhadores, quase diariamente, devido a ataques cardíacos.

A Amnistia Internacional também criticou a exploração laboral dos trabalhadores imigrantes que, segundo o estudo da organização, viviam em condições sub-humanos e sem direitos básicos e que carecem de autorizações para entrar e sair do país, assim como de mudar de empresa ou empregador.

Os atrasos na construção das infra-estruturas necessárias para receber o Mundial no Qatar e as condições dos trabalhadores têm alarmado a FIFA, ao ponto do órgão soberano do futebol mundial ter criado uma comissão de avaliação do trabalho no país.

As investigações de corrupção

A detenção de Michel Platini foi o auge deste caso. Além de Platini, o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, está a ser investigado por alegadamente ter recebido subornos para apoiar a candidatura do Qatar à organização do Mundial de futebol de 2022.

A venda do Paris Saint-Germain a um proprietário catari, que ocorreu em 2011, um ano depois da vitória do Qatar na organização do Campeonato do Mundo, poderá ter feito parte dos subornos.

Além destes subornos, a investigação ao já citado almoço no Palácio do Eliseu, apenas dez dias antes da votação, podem manchar a organização por parte do país do Médio Oriente.

32 ou 48 selecções em prova

A FIFA, liderada pelo italiano Gianni Infantino, tinha a intenção e chegou mesmo a estudar a hipótese do Campeonato do Mundo de 2022 ser alargado a 48 selecções, ao invés das 32 que têm competido nas últimas edições da competição.

O alargamento acabou por não se efectivar, muito graças à falta de países vizinhos do Qatar que estivessem na disposição de fazer parte da organização do torneio. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos não têm relações com o Qatar. Omã e Kuwait eram as esperanças da FIFA, mas ambos os países se afastaram do projecto.

Assim, o Campeonato do Mundo de 2022 vai continuar com 32 equipas. A primeira edição do Mundial com 48 selecções deverá acontecer em 2026, no tornei organizado pelos Estados Unidos da América, pelo Canadá e pelo México, como já estava previamente definido pela FIFA.

Restrições ao álcool

No Qatar, país muçulmano, beber em público constitui uma infracção à lei e transportar bebidas alcoólicas para aquele país é proibido. O secretário-geral do comité organizador, Hassan Al-Thawadi, garantiu “em definitivo” que “não haverá consumo de álcool nas ruas, nos parques e nos espaços públicos”. “Somos contra a venda de álcool nos estádios e nas imediações”, acrescentou. Vai, contudo, haver locais específicos onde os adeptos poderão consumir bebidas alcoólicas.

O fabricante de cerveja norte-americano Budweiser é um dos principais patrocinadores da FIFA. No Mundial de 2014, o organismo obteve do Brasil a suspensão temporária da lei que proíbe as bebidas alcoólicas nos recintos desportivos.

A 1 de Janeiro deste ano, o Qatar aumentou drasticamente os impostos sobre o álcool, bebidas energéticas e o tabaco.

 

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