Indústria de cruzeiros lamenta não ter sido ouvida no estudo sobre as emissões dos navios na Europa

Este estudo avaliou as emissões de diferentes poluentes provenientes de 203 navios de cruzeiro de luxo de portos europeus em 2017. E colocou Lisboa em sexto lugar entre as cidades europeias mais expostas à poluição por estes navios — depois de Barcelona, Palma de Maiorca, Veneza, Civitavecchia (Roma) e Southampton.

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De acordo com o estudo, Lisboa foi a cidade europeia que mais navios de cruzeiro recebeu em 2017 Nuno Ferreira Santos

A Cruise Line International Association (CLIA), a associação que representa a indústria de cruzeiros, lamenta o facto de não ter sido ouvida no mais recente estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E) que avaliou o impacto ambiental dos navios de cruzeiros na Europa. “Expressamos a nossa insatisfação com o facto de a Transport & Environment ter divulgado esta análise interna, realizada pela sua própria equipa, sem qualquer discussão ou contribuição da própria indústria de cruzeiros ou dos destinos visitados por nós”, refere a CLIA em comunicado.

Este estudo, divulgado no início de Junho, avaliou as emissões de diferentes poluentes provenientes de 203 navios de cruzeiro de luxo de 50 portos europeus durante o ano de 2017. Uma das conclusões refere, por exemplo, que as emissões de óxidos de azoto — que têm sobretudo origem na queima de combustíveis fósseis (na indústria ou transportes) e estão também na origem de outros poluentes, como as partículas finas e o ozono (ao nível do solo) — dos navios de cruzeiro, em 2017, equivalem a cerca de 15% do total produzido pela frota de automóveis europeus num ano.

Se olharmos para o contexto nacional, o estudo colocou Lisboa em sexto lugar entre as cidades europeias mais expostas à poluição por navios de cruzeiro — depois de Barcelona, Palma de Maiorca, Veneza, Civitavecchia (Roma) e Southampton. 

Esta associação refere ainda que as conclusões divulgadas se baseiam “unicamente nas suposições e não em avaliações, não tendo em consideração o uso de tecnologias de redução de emissões a bordo de navios” e que “a metodologia utilizada para calcular os resultados não foi submetida a análise para validar cientificamente a sua veracidade”. 

A CLIA diz ainda que as empresas que a integram estão “firmemente comprometidas” com um futuro de “emissões zero”, tal como todo o sector marítimo internacional, ainda que a indústria de cruzeiros represente “menos de 1% do transporte marítimo”.

No comunicado, a associação refere que a indústria de cruzeiros foi “impulsionadora da implementação da tecnologia de Limpeza de Gases de Escape (EGCS)”, estando presentes em 111 navios de cruzeiro. Outros 12 estarão a adaptar-se a esta tecnologia, 30 aguardam a reformulação e 27 navios, actualmente em construção, terão já este sistema quando começarem a navegar, de acordo com a informação divulgada pela CLIA. 

A associação sublinha ainda que, em Dezembro, a indústria dos cruzeiros anunciou “o compromisso histórico” de redução do índice de emissões de carbono em toda a frota de cruzeiros em 40% até 2030, lembrando ainda que começou recentemente a navegar a primeira embarcação industrial movida a gás natural liquefeito (GNL) e que mais de um terço dos navios de cruzeiro em construção (25) utilizarão GNL como principal fonte de combustível — ainda que seja igualmente um combustível fóssil. 

O estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente recomenda a ampliação das Áreas de Controlo de Emissões (ECAs, na sigla em inglês) — que estão em vigor apenas nos mares do Norte e Báltico e Canal da Mancha — para os restantes mares europeus, como a costa Atlântica e o Mar Mediterrâneo e que se regulamentem as emissões de óxidos de azoto dos navios existentes, uma vez que estão isentos de limites de emissão. 

No entanto, a indústria de cruzeiros ressalva neste comunicado que o alargamento dos padrões das ECAs à restante costa da UE deverá demorar e, como tal, pede às autoridades competentes que a utilização de circuito aberto e fechado de EGCS continue a ser permitida e que o fornecimento destes combustíveis seja garantido. “Para uma indústria líder como a indústria de cruzeiros, a certeza de que os investimentos necessários serão feitos para garantir o fornecimento e a segurança que será mantida pelas autoridades no futuro são de vital importância. Naturalmente, qualquer nova ECA deve ser considerada em concordância com os procedimentos da OMI [Organização Marítima Internacional] estabelecidos para cada uma das áreas”.

Em relação ao padrão de emissões zero, a associação refere que seria necessário avaliar, mediante as circunstâncias de cada porto, se os sistemas de abastecimento de electricidade no porto são ou não um bom investimento. “Devemos ter em mente que, para efectivamente reduzir as emissões, a electricidade disponível em terra deve vir de fontes limpas e renováveis e, portanto, ser uma solução melhor em comparação com os sistemas GNL ou EGCS instalados a bordo”. Como ainda não existe um sistema-padrão de conexão utilizado a nível mundial, é mais difícil investir nesta tecnologia, reconhece a CLIA, sublinhando que o desenvolvimento de uma área de controlo de emissões zero “é uma aspiração admirável, mas deve ser claramente definida e analisada”. Diz-se ainda disponível para colaborar com todas as entidades para “construir uma Europa mais limpa para todos os nossos cidadãos”.

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