Antigo director da Caixa desmente Joe Berardo

José Pedro Cabral dos Santos diz que a ideia do crédito da Caixa Geral de Depósitos para compra de acções do BCP partiu de uma carta de Berardo a Carlos Santos Ferreira.

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Cabral dos Santos está a ser ouvido pela segunda vez na comissão de inquérito LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Esta segunda-feira foi dia de audições repetidas na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, para que os deputados entendam melhor o que se passou com a linha de crédito de 350 milhões de euros a Joe Berardo, que serviram para compra de acções do BCP. Esta tarde foi a vez do ex-director de empresas José Pedro Cabral dos Santos, que começou por desmentir o empresário, ao dizer que foi Joe Berardo a pedir o empréstimo e que não foi ideia da Caixa Geral de Depósitos.

Aos deputados, Cabral dos Santos diz que encontrou nos arquivos da CGD uma carta de Berardo endereçada a Carlos Santos Ferreira, na altura presidente do banco público. Nessa missiva, de 10 de Novembro de 2006, Berardo fazia uma proposta de “concessão de linha de crédito” para “financiamento das acções em bolsa do BCP e de acções [de outras empresas] do PSI-20”.

Mais tarde, em resposta ao deputado do PSD Virgílio Macedo, reforçou que antes desta carta não houve nenhuma conversa. “Não fui eu que fui ter com o comendador a oferecer o que quer que fosse”, não explicando se houve alguém que o fez. “Eu nunca falei com o senhor José Berardo para lhe oferecer ou saber se queria crédito para comprar acções do que quer que fosse. Nunca fiz isso”, disse.

“A minha intervenção nesta operação, quem envia o email com a aprovação do crédito da Caixa, sou eu, depois de aprovado em conselho de crédito”, acrescentou. 

A posição do ex-director de empresas da CGD surge porque Joe Berardo referiu, na audição nesta comissão no dia 10 de Maio, que “foi a CGD que propôs o negócio” através de Cabral dos Santos. Berardo respondia então ao deputado Virgílio Macedo. Ao social-democrata, o comendador referiu: “Tentei ajudar a situação dos bancos [quando estes estavam em crise].”

“Na audição, Joe Berardo disse que foi a Caixa que lhe foi ‘bater à porta’”, começou por dizer. Quando lhe perguntaram “quem?, disse o meu nome”, afirmou hoje Cabral dos Santos, que em seguida desmentiu o empresário.

No total, naqueles anos, a CGD concedeu empréstimos de 350 milhões de euros a empresas de Joe Berardo. Primeiro, num crédito de 50 milhões de euros para “refinanciar dívida junto do BCP” que estava contratualizada tendo como garantia acções do próprio banco. Mais tarde, meses depois, é aberta uma linha de crédito de conta-corrente no valor de 350 milhões de euros, que não é toda utilizada. Primeiro, há uma utilização de 260 milhões e depois um pedido para utilização de mais 38 milhões. 

Sobre este assunto, Cabral dos Santos confirmou que na Caixa se sabia que esta linha servia para compra de acções do BCP. “As duas primeiras grandes utilizações são utilizações em que o financiamento da Caixa foi utilizado para liquidar financiamento no BCP que estava garantido por acções e que vêm para a Caixa”, referiu, remetendo para o primeiro empréstimo de 50 milhões de euros.

Durante as audições, tanto a deputada do CDS Cecília Meireles como o deputado do PCP Duarte Alves perguntaram a Cabral dos Santos o porquê de ninguém ter estranhado que uma instituição particular de solidariedade social (a Fundação Berardo) ter pedido um crédito de 350 milhões para compra de acções. Cabral dos Santos disse que esta foi uma situação que “não só não era normal, como não houve mais nenhuma instituição” com aquelas características que tenha pedido um “valor daquela dimensão”. Contudo, disse, ninguém questionou o facto.

Perante esta informação, o deputado Duarte Alves insistiu no assunto, uma vez que o primeiro crédito a Berardo foi dado à empresa Metalgest e o seguinte - o maior de 350 milhões de euros - já o foi à Fundação José Berardo. Porquê? “O balanço da Metalgest não suportava uma operação de 350 milhões de euros, uma vez que tinha um activo de 224 milhões”. Por seu lado, disse o antigo director de empresas, a Fundação tinha activos de 770 milhões, o que explica a opção.

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