Trump e a guerra permanente

O assanhamento contra o regime venezuelano é um mero pretexto para a última investida de Trump contra Cuba e o restabelecimento das relações entre os dois países no final do segundo mandato de Obama.

O Presidente dos Estados Unidos mantém quatro frentes de guerra em permanência. A guerra comercial com a China, a escolha do Irão como inimigo figadal, a Venezuela de Maduro e, claro, a câmara de representantes liderada pela oposição democrata. Quatro ódios de estimação que gere mais em função dos seus interesses do que dos interesses de uma política externa destinada a combater regimes autocráticos. Se assim não fosse, a Arábia Saudita estaria neste eixo do mal, do qual sempre foi excluída, apesar de desde sempre se saber que foi o wahhabismo saudita quem alimentou o terrorismo da Al-Qaeda ou do Estado Islâmico a troco da venda de armas e contra os interesses ocidentais.

O assanhamento contra o regime venezuelano é um mero pretexto para a última investida de Trump contra Cuba e, consequentemente, contra o restabelecimento das relações entre os dois países no final do segundo mandato de Obama. O governo norte-americano está a incentivar cidadãos e empresas do país a reivindicarem judicialmente a posse de bens expropriados e nacionalizados em 1959 após a revolução cubana, com base na soberba de que os tribunais do país podem estender a sua jurisdição a qualquer ponto do globo. Com isso, Trump joga em dois planos: a ameaça constante a empresas e investimentos de outros países em Cuba e a sua reiterada tentativa de destruir a acção de qualquer organismo multilateral e independente.

Restringir o turismo de cidadãos dos EUA em Cuba, os segundos mais numerosos no país a seguir aos canadianos, proibindo os navios de cruzeiro de atracarem na ilha, com o argumento de que se trata de um castigo pelo apoio ao “regime ilegítimo da Venezuela”, é mais um passo, calculado e ilegítimo, nesse sentido. E o sentido é apenas um: Trump deverá anunciar a sua recandidatura, a 18 de Junho, na Flórida, um dos estados de onde são oriundos os contributos financeiros mais significativos para as campanhas presidenciais e que é considerado essencial para uma vitória eleitoral. Como o comprovam décadas de embargo a Cuba, este tipo de sanções molesta mais o quotidiano de quem lá vive do que o regime propriamente dito. O prolongamento do embargo prolongou o castrismo — o país mudou muito mais com a abertura impulsionada por Obama do que em 60 anos de embargo. As segundas intenções de Trump são as primeiras e a Venezuela e Cuba são meros pretextos.

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