PSD quer voltar a ouvir Constâncio sobre empréstimo da CGD a Berardo

Antigo governador disse na comissão parlamentar de inquérito que o Banco de Portugal só teve conhecimento das operações de crédito depois.

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Vitor Constâncio na audição parlamentar de 28 de Março LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O PSD quer voltar a ouvir Vítor Constâncio na Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco. Em declarações à TSF, o deputado Duarte Pacheco diz que os sociais-democratas não têm dúvidas de que o ex-governador do Banco de Portugal mentiu na primeira audição.

“Não temos qualquer dúvida que Vítor Constâncio não disse a verdade na primeira comissão de inquérito. Queremos dar-lhe oportunidade para poder refrescar a memória e dizer a verdade ao Parlamento e ao país”, considerou o parlamentar do PSD.

Como o PÚBLICO revelou na edição desta sexta-feira, Vítor Constâncio deu aval ao crédito da CGD a José Berardo para a compra de acções do banco rival, o BCP. De acordo com a documentação a que o PÚBLICO teve acesso, o ex-governador do Banco de Portugal (BdP) autorizou Berardo a levantar 350 milhões de euros junto da CGD para comprar acções do BCP, facto que omitiu perante a comissão parlamentar de inquérito.

“Bem sabemos que no seu primeiro depoimento Vítor Constâncio estava a sofrer um ataque de amnésia e que portanto não se recordava de coisa nenhuma. Neste caso é muito mais do que isso. Estamos a falar de autorizações que foram dadas expressamente para que o assalto ao BCP se verificasse”, comentou Duarte Pacheco. “Temos de pedir o patrocínio de algum medicamento para a memória para podermos ser todos mais esclarecidos”, ironizou o deputado do PSD.

“Este assalto ao BCP teve o ok do Banco Central Português e do drº. Vítor Constâncio - não só pela concessão deste empréstimo a Joe Berardo, como também pelas reuniões que foram promovidas pelo próprio governador do Banco de Portugal com potenciais accionistas”.

A 7 de Março de 2007 Berardo fez chegar ao Banco de Portugal o pedido para reforçar a posição no BCP. Queria passar de uma participação de 3,99% para 9,99%, tornando-se, dessa forma, um accionista de referência no maior banco privado português.

Para financiar esta operação, o empresário iria recorrer a um empréstimo contraído junto da Caixa Geral de Depósitos no valor de 350 milhões de euros, com a promessa de penhora dos títulos que viriam a ser adquiridos. Foram mesmo enviados os contratos de crédito que o empresário tinha firmado com o banco público.

A operação viria a ser aprovada 15 dias mais tarde, numa reunião do conselho de administração do Banco de Portugal, então presidido por Vítor Constâncio. Ao dar aval ao reforço da posição de Joe Berardo no BCP, o regulador não se opôs à forma de financiamento que iria suportar a compra de acções - o empréstimo de 350 milhões da Caixa, sem garantias reais.

Estes factos contrariam o depoimento prestado por Vítor Constâncio durante a audição realizada a 28 de Março: o antigo governador afirmou que desconhecia qual a fonte do financiamento da operação de compra de acções do BCP.

“Claro que [o BdP] só tem conhecimento delas operações de crédito depois (...). Como é óbvio! É natural! Essa ideia de que [o BdP] pode conhecer antes é impossível!”, exclamou, na altura, Constâncio.

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