Combate às fugas e fim das puxadas em cemitérios permite a Lisboa poupar água

Reparação de roturas foi maior responsável pela poupança. Mas no Cemitério do Alto de São João o fim das puxadas também foi significativo.

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Nuno Ferreira Santos

A câmara municipal e as juntas de freguesia de Lisboa conseguiram reduzir para quase metade o consumo de água dos seus equipamentos nos últimos quatro anos. Esta diminuição foi conseguida sobretudo através do controlo de desperdícios e da instalação de novos contadores digitais. A autarquia quer agora usar as águas residuais tratadas na rega de espaços verdes e na lavagem de ruas.

Entre 2014 e 2018, o consumo de água caiu 48,8% no universo municipal, o que fez descer também o peso que a câmara e as juntas têm no bolo total do consumo em Lisboa (de 15% para 7%). Em números absolutos, isto significa que em 2014 foram gastos 8,2 milhões de metros cúbicos de água, enquanto em 2018 foram cerca de 4,2 milhões.

A reparação de fugas de água em jardins, cemitérios e edifícios municipais deu um grande contributo para esta queda. Só no Parque Eduardo VII as intervenções nas roturas e no sistema de rega levaram a uma poupança de 48% -- menos 131 mil metros cúbicos em 2018 face a 2014. Na Praça do Império foram a reparação de fugas e a impermeabilização dos tanques da fonte monumental que originaram uma redução de 35% nos consumos (menos 73 mil metros cúbicos).

Já no Cemitério do Alto de São João foi preciso tratar das fugas, mas também de uma situação mais insólita: havia inúmeras ‘puxadas’ ilegais de água para algumas casas das redondezas. Naquele cemitério, um dos maiores de Lisboa, o consumo de água passou dos 74 mil metros cúbicos em 2014 para os 8 mil em 2018. Também no Cemitério dos Prazeres se verificou uma redução de 61 mil metros cúbicos no último quadriénio. No mesmo período, o Parque da Bela Vista registou uma diminuição de 24% nos consumos, enquanto o edifício da Imprensa Municipal, em Chelas, reduziu o gasto de 46 mil metros cúbicos (em 2014) para 4 mil, no ano passado.

Estes números põem a câmara em contraciclo face à cidade no seu todo, onde o consumo apenas diminuiu ligeiramente (em 2018, menos 1,3% do que em 2014). Os dados da EPAL, empresa que abastece Lisboa, mostram que nos últimos anos o gasto de água tem tido uma tendência crescente – o que não é difícil de explicar: centenas de edifícios devolutos sofreram obras e passaram a ter gente, muitas vezes para usos turísticos e comerciais, que estão tradicionalmente associados a consumos maiores.

Lavar a cidade com os esgotos de casa

A água que a câmara e as juntas gastam nas suas actividades diárias é a da rede, potável, mas 75% dessas coisas não precisam de água potável. O exemplo mais flagrante é a lavagem de ruas, uma competência que está entregue às juntas desde a reorganização administrativa.

A autarquia tem em marcha um plano para usar nessas actividades as águas residuais que saem tratadas das ETAR. É água que não serve para beber mas é boa para regar jardins ou para umas mangueiradas na calçada. O projecto-piloto de reutilização (actualmente abaixo dos 2% da água tratada) vai ser implementado no Parque Tejo, mesmo ao lado da ETAR de Beirolas. Brevemente também entrará em funcionamento um sistema que aproveita na lavagem de ruas a água saída da ETAR de Alcântara.

O objectivo da câmara é chegar a 2025 com uma taxa de reutilização de água a rondar os 20%.

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