“Interesse excepcional” permite à Fundação Champalimaud crescer junto ao Tejo

O novo Botton-Champalimaud Pancreatic Centre vai ocupar um edifício com 12 mil metros quadrados. O projecto está em consulta pública.

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Está a decorrer até à próxima terça-feira um debate público sobre a ampliação da Fundação Champalimaud, na zona de Pedrouços, em Lisboa. O projecto contempla a construção de um novo edifício ao lado do que já existe, que funcionará como um hospital e centro de investigação focado no cancro do pâncreas.

O debate público é motivado por se tratar de construção nova em zona ribeirinha, que é proibida de um modo geral – a menos que a câmara declare que a obra tem “interesse excepcional para a cidade”, o que aconteceu neste caso (como tem acontecido em vários outros). Essa declaração foi aprovada na reunião de 11 de Abril, onde o assunto foi levado pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. À excepção do BE, que se absteve, todos os outros partidos votaram a favor.

O novo edifício será construído num terreno, cedido pela Administração do Porto de Lisboa, que é actualmente usado como parque de estacionamento e é bastante idêntico ao que já está construído. A pedra lioz, os janelões na fachada e as formas arredondadas, a fazer lembrar um barco, são elementos que se repetem.

A inspiração náutica está presente na memória descritiva, assinada pelo arquitecto João Nuno Laranjo. Nela se lê que o novo centro ocupará uma “localização privilegiada na zona ribeirinha de Pedrouços e o seu relacionamento com o rio e o oceano, de onde as naus portuguesas partiram em busca do ‘desconhecido’” permitirá continuar “a estabelecer uma ponte inspiradora entre as Descobertas e a sempre actual epopeia das descobertas científicas”.

Esta ampliação da Fundação Champalimaud já está prevista desde o arranque do projecto, há sensivelmente dez anos. O Champalimaud Centre for the Unknown foi desenhado pelo arquitecto Charles Correa e abriu a 5 de Outubro de 2010, no centenário da Implantação da República. O projecto do novo edifício segue as orientações do plano esboçado por Correa, que morreu em 2015.

O pontapé inicial da ampliação foi dado no ano passado, quando a fundação anunciou uma parceria com Mauricio e Charlotte Botton, da família fundadora da Danone, que se comprometeram a doar 50 milhões de euros para a obra.

O Botton-Champalimaud Pancreatic Centre terá três pisos à superfície, com uma fachada longa (153 metros de comprimento), mas mais baixa do que o edifício vizinho. Ali funcionará um centro hospitalar com 48 camas, postos de quimioterapia, gabinetes médicos, salas de exames, laboratórios e ainda um centro cirúrgico. O projecto prevê igualmente dois pisos subterrâneos destinados a 366 lugares de estacionamento e áreas técnicas. No total, ambos os edifícios terão 821 lugares de estacionamento.

À semelhança do que já sucede com o edifício principal da fundação e com várias outras construções à beira-Tejo, este novo centro ficará numa zona com “elevada” vulnerabilidade às inundações e “muito elevada” vulnerabilidade sísmica. Os documentos disponíveis no site da câmara não abordam estes pontos, pois a autarquia remete essa análise para a fase de licenciamento, que deve iniciar-se logo depois de terminada a consulta pública. Este foi um dos motivos para a abstenção do vereador do BE, Manuel Grilo, que diz que a construção nesta zona “deve ser mais ponderada”.

A autarquia debruça-se, sim, sobre as vistas a partir da Capela de São Jerónimo, do Alto do Duque e da Outra Banda, que estão protegidas pelo Plano Director Municipal. “Considerando a já existência do edifício ‘principal’ da Fundação Champalimaud (mais alto e de maior volumetria) e dos edifícios da Docapesca, julga-se que (…) se mantém salvaguardada a actual panorâmica existente”, lê-se numa informação técnica do Departamento de Projectos Estruturantes, que mereceu aprovação das chefias.

Até 11 de Junho, o projecto está disponível online, no edifício municipal do Campo Grande e na sede da Junta de Freguesia de Belém.

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