Melhor um catalão exilado que um catalão preso

Puigdemont ganha nas europeias, Junqueras vence nas municipais e a esquerda republicana conquista Barcelona 88 anos depois. Valls fracassou.

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Maragall festejando a vitória em Barcelona com o rosto de Oriol Junqueras de fundo QUIQUE GARCíA/EPA

Desde 1931 que não ganhava a Câmara de Barcelona “um republicano, progressista e da esquerda republicana”, salientou Ernest Maragall, no fim da noite de umas eleições renhidas em que conquistou a capital catalã a Ada Colau por 4800 votos. A vitória do veterano político é um reflexo do pensamento do eleitorado catalão expresso nas eleições deste domingo e de 28 de Abril: a esquerda independentista vence internamente, o centro-direita independentista ganha externamente. E os socialistas são a força espanholista mais votada, com subida expressiva.

A Esquerda Republicana da Catalunha repetiu a vitória nas eleições municipais na Catalunha, desta vez muito menos expressiva que nas gerais de 28 de Abril; mesmo assim, vitória. Nas europeias, tal como tinha vaticinado Jordi Sànchez, um dos presos políticos do processo independentista de Outubro de 2017, em entrevista ao PÚBLICO, ganhou Carles Puigdemont, o ex-presidente catalão no exílio.

“A minha opinião é que o eleitorado decidiu apoiar Junqueras nestas eleições e Puigdemont nas europeias. Veremos no dia 26 de Maio, quando [Carles] Puigdemont for o vencedor das eleições europeias na Catalunha. As pessoas pedem unidade e a forma de expressar essa unidade é votar em Junqueras numas eleições e em Puigdemont noutras”, afirmava então Sànchez, numa antevisão correcta do que se passaria no domingo.

Aparentemente, o eleitor catalão independentista discerniu que um eurodeputado no exílio pode fazer muito mais pela causa da Catalunha no exterior que um eurodeputado preso (como Oriol Junqueras, o líder da ERC). Resta saber se Puigdemont vai conseguir assumir o lugar no Parlamento Europeu, já que precisa de ir a Espanha para recolher a acta de eleição e o mandado de detenção continua em vigor.

Enquanto o Juntos pela Catalunha (JxCat), de Puigdemont, vencia claramente as europeias, com 28%, contra 21% da ERC, a esquerda independentista arrebatava vereadores ao JxCat um pouco por toda a comunidade, tornando-se na principal força política em vereadores e em votos, embora não em presidências de câmara. Quase 820 mil votos e 3107 vereadores contra 537,5 mil votos e 2779 vereadores do JxCat. Mas em câmaras, a coligação de Puigdemont conseguiu 304 contra 257.

Quanto aos socialistas, confirmaram este domingo a subida do dia 28 de Abril, consolidando-se como a terceira força política na comunidade e a primeira entre os partidos nacionais, sendo mesmo a segunda em termos de votos, embora isso não se reflectisse em eleitos, porque o seu voto é mais forte nos municípios da área metropolitana de Barcelona. Assim essa votação expressiva de mais de 765 mil votos deu apenas para eleger 1315 vereadores e conquistar 53 presidências de câmara. Para se perceber o grau de concentração do eleitorado do PSC, basta dizer que em 2015, com menos 235 mil votos, o PSC elegera 1278 vereadores.

Uma última palavra nestas eleições para Manuel Valls, o ex-primeiro-ministro francês que quis suceder a François Hollande na presidência, mas perdeu as eleições primárias socialistas para Benoît Hamon, foi eleito para a Assembleia Nacional francesa por um fio, abandonou os socialistas para se juntar à República em Marcha, do Presidente Emmanuel Macron, e depois deixou o Parlamento francês porque queria ser presidente da Câmara de Barcelona, cidade onde nasceu em 1962.

Se a carreira política de Valls já estava em queda acelerada depois de não ter conseguido ser em França um Tony Blair moderno ou um Macron antes deste o ser, este domingo queimou a esperança de um renascimento. O político francês havia aterrado para vencer e acabou em quarto lugar: os seis deputados municipais eleitos representam apenas mais um do que o Cidadãos, que o apoiou agora, tinha conseguido em 2015. Um resultado poucochinho para quem havia apontado tão alto. Ficam duas palavras do seu discurso de aceitação da derrota: “Fracassámos, fracassei”.

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