Vem aí Boris, o terrível

Mais tarde ou mais cedo, o Partido Conservador vai ter Boris como líder. Se for já, vai provar o seu próprio veneno.

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A lista de candidatos à liderança do Partido Conservador é grande. Boris Johnson – que foi o primeiro a defender que o Reino Unido saia da União Europeia sem qualquer acordo, em oposição àquela que foi a luta de Theresa May – é o favorito numa corrida que há anos está na sua cabeça. Todas as movimentações que Boris fez na última década sempre tiveram a liderança dos conservadores como objectivo. Cameron afastou-o do seu círculo próximo, mas ele reconquistou protagonismo ao ser eleito mayor – presidente da Câmara – de Londres.

A decisão – incompreensível para muitos dos seus próximos – de apoiar o “Brexit”​ foi contraditória com várias das suas posições anteriores (sempre foi, de resto, um eurocéptico mas, ao mesmo tempo, um eurófilo, sendo que as duas qualidades não se anulam necessariamente entre si). Foi tomada apenas com um objectivo: assegurar uma futura liderança dos conservadores que estavam maioritariamente a favor do “Brexit”​.

Na época, o gabinete de David Cameron contou à imprensa britânica que Boris, em privado, tinha garantido ao então primeiro-ministro que se iria pronunciar contra a saída da União Europeia. Pouco tempo depois da conversa com Cameron, Boris anunciou que iria fazer campanha pelo “Brexit”​. Um seu texto contra o “Brexit”​ (onde dizia que a saída da União seria uma catástrofe económica e poderia levar à desintegração do Reino Unido) chegou a vir a público. O antigo mayor de Londres justificou-se como pôde perante tamanha contradição – seria uma coisa meio a brincar, disse, para o ajudar no processo de decisão.

Em 2016, Boris teve de desistir quando o seu amigo Michael Gove, agora de novo candidato, se antecipou e abriram os dois caminho à vitória de May.

Boris é perigoso porque não tem convicções. Elas flutuam ao sabor dos seus interesses, como aconteceu no seu apoio quase radical ao “Brexit”​. É uma mistura de Nigel Farage com Trump, mas educado em Eton. A perigosidade da figura já fez tocar as campainhas entre os tories moderados, empenhados em evitar que Boris tome conta da casa.

E, no entanto, é inevitável. Mais tarde ou mais cedo, o Partido Conservador vai ter Boris como líder. Se for já – como dizem as sondagens – Boris, aquele que um dia defendeu que o Reino Unido não devia sair da União, vai provar o seu próprio veneno. E ainda que Boris, ao contrário de Theresa May, esteja disposto a tudo para salvar a pele, os próximos tempos na ilha vão ser absolutamente interessantes.

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