Depois da greve estudantil, há greve geral pelo clima marcada para 27 de Setembro

“Sem acção contra as alterações climáticas não há espécie humana para discutir outras coisas ou ter outros problemas”, defendem os jovens activistas Alice Gato e Gil Ubaldo.

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Joana Bourgard/Rádio Renascença

Estamos em campanha eleitoral para as europeias e vários partidos incluíram referências às alterações climáticas em programas e discursos. É apenas oportunismo político ou começam a estar preocupados com este assunto?
Gil Ubaldo (G.U.): Nunca podemos excluir oportunismo político. O que é facto é que alguns dos partidos candidatos às europeias sempre demonstraram preocupações ambientais. Outros nem tanto, até recentemente. Temos de ver no que é que isso se vai traduzir: medidas e trabalho em Bruxelas ou palavras soltas?

Vocês defendem uma das medidas recentemente discutidas no Parlamento, o direito de voto aos 16 anos?
G.U.: Eu já posso votar, vou fazê-lo pela primeira vez no domingo e estou muito entusiasmado.
Alice Gato (A.G.): Eu defenderia. Temos pessoas tão jovens e tão preocupadas a fazer tão mais do que outras que têm direito a votar e não usufruem dele — isso deixa-nos a pensar se não faz sentido podermos votar aos 16. E somos nós quem, de facto, está mais preocupado com esta temática, pelo que temos visto, mas não só. Espero que esta preocupação cresça e para Setembro está marcada uma greve geral para admitir que este não é um problema só da nossa geração.

Mas greve geral como?
G.U.: Uma greve geral que gostávamos que tivesse o apoio de sindicatos e organizações, vamos enviar uma convocatória. É uma greve geral da sociedade, portuguesa e mundial. As alterações climáticas não podem ser um ponto em muitos, são o ponto. Sem acção contra as alterações climáticas não há outros pontos, não há espécie humana para discutir outras coisas ou ter outros problemas. Não há planeta B.

E já há uma data?
A.G.: 27 de Setembro.

E é possível ser-se um jovem activista ambiental em 2019 e praticar um consumo consciente ou as palavras diferem muito na acção do dia-a-dia?
A.G.: Que sentido faz dizerem-nos para não usarmos plástico se a indústria que o produz continua a crescer por todo o mundo? É culpar pessoas que podem não ter outra escolha para mascarar o que está a ser feito a grande escala. Os políticos têm varrido o problema para debaixo do tapete, alegando que as pessoas é que têm que se preocupar com o ambiente.
G.U.: Apontar o dedo a quem não fecha a torneira ao lavar os dentes é uma forma de tornar invisível o cerne da questão: as indústrias altamente poluentes e a inacção governamental que não proíbe este tipo de ataques ao ambiente.

No rescaldo do protesto de Março, Greta Thunberg disse que “os jovens saíram à rua, mas nada mudou”. Ainda acreditam que esta frase vai deixar de fazer sentido?
A.G.: Espero que sim. Falava-se muito pouco ou quase nada de alterações climáticas na comunicação social, do nada surgiu a greve e o Extinction Rebellion — e isto fez todo um alarido.
G.U.: Quando dizemos que isto é o começo pode ser ingrato para com aquelas pessoas que estão nesta luta há décadas, mas os jovens nunca estiveram tão predispostos a fazer coisas diferentes. Ou acontece uma mudança rápida até 2030 ou estamos condenados. Já estamos em crise, mergulhados nela, literalmente. Não há outra escolha senão abanar com os alicerces.
A.G.: Se estivermos calados em casa, de certeza que o processo vai ser mais demorado.

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