Falta de pessoal da Soflusa continua a deixar utentes em terra e até a dormir no cais

As supressões e atrasos deixaram já centenas de pessoas retidas nos terminais mas as reclamações subiram de tom com a falta de barcos à noite.

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Ricardo Lopes

As reclamações dos serviços da empresa Transtejo/Soflusa não são novas mas agravaram-se no último fim-de-semana, em que os utentes tiveram de passar a noite no cais devido à falta de barcos de Lisboa para o Barreiro. Em 2018, mais de 2500 reclamações foram submetidas pelos passageiros, devido a atrasos e supressões dos serviços.

O cenário não mudou e, segundo um aviso publicado no site da Transtejo, estão previstas supressões de pelo menos 30 barcos até ao dia 17 de Maio, devido a “constrangimentos laborais”. Ao PÚBLICO, a empresa explicou que as perturbações registadas resultam do “agravamento das já conhecidas limitações de recursos humanos na empresa, em especial, Mestres”.

Na noite de sexta-feira (10 de Maio) para sábado (11 de Maio), os serviços de ligação fluvial prestados pela empresa Soflusa foram suprimidos, não havendo transportes entre a meia-noite e as 7h30 da manhã. Segundo a empresa, a baixa inesperada de um mestre encarregue dos barcos que fazem a ligação Barreiro-Lisboa-Barreiro e a falta de outro para o substituir obrigou à suspensão desses transportes.

Vários utentes passaram a noite no terminal do Terreiro do Paço nesse intervalo de tempo por não terem meios para chegarem a casa. 

Num comunicado à imprensa, o Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Marcante afirmou terem sido efectuadas “4000 horas extraordinárias” pelos trabalhadores da empresa em 2018. Acrescentou também que “foi feita a admissão de cinco novos trabalhadores”, apesar da prevista reforma de três outros.

O Sindicato argumenta que “as admissões não chegam para as saídas” e que ficam a faltar pelo menos oito novas contratações. Nesse sentido, a Soflusa afirma estar à espera de “autorização para contratação de trabalhadores”.

Utentes insatisfeitos

Ao PÚBLICO, José Encarnação, membro da Comissão de Utentes do Barreiro, afirmou que o problema é a falta de investimento. Segundo o activista, a Comissão tinha já alertado para este problema, avisando que culminaria na falta de material circulante e de pessoal.

O mais urgente, sublinha também este representante dos utentes, é a falta de trabalhadores. As horas extraordinárias levam os trabalhadores actualmente em funções à exaustão física e psicológica. As baixas por questões de saúde, consequência do trabalho extra, condicionam ainda mais um serviço que já escasseia mão-de-obra.

Diariamente, milhares de pessoas usam os serviços da Transtejo e da Soflusa para se deslocarem entre as duas margens do rio Tejo. O transporte fluvial, garantido pela Soflusa, compõe a maioria da oferta disponível para os utentes, estando mais acessível que a linha ferroviária Fertagus. José reforça: não há transportes alternativos para quem vem do Barreiro (e de muitas outras zonas) e trabalha em Lisboa.

Face à situação verificada sexta-feira, José Encarnação prevê um agravamento rápido da situação. “Estamos em situação de pré-ruptura, mas vamos chegar a uma ruptura que terá consequências de ordem pública”, acrescenta.

Humberto Andrade é também utente da Soflusa e depende do serviço diariamente. Ao PÚBLICO, afirmou assistir a uma situação “desesperante” e “completamente descontrolada”. Entende que falta garantir muitas condições aos passageiros, em especial àqueles que dependem quase exclusivamente dos barcos para se deslocarem para o trabalho.

A insatisfação e revolta dos passageiros, para além das reclamações, têm vindo a ser manifestadas também nas redes sociais, através de grupos e publicações, e também petições por um melhor serviço e reforço da frota. 

Texto editado por Ana Fernandes

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