Um reality show de instagrammers. Como a TVI quer combater queda de audiências

O novo programa estreia-se a 25 de Maio e quer atrair uma população mais jovem. Depois de perder a liderança, a TVI quer mostrar que “está viva” e pronta para o combate de audiências com a SIC.

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Bruno Santos: "A TVI tem um ADN de vencedores, um historial de liderança, de não cruzarmos os braços" Daniel Rocha

A direcção da TVI está decidida em apostar em “novos programas” e na renovação de algumas caras do canal como estratégia para fazer frente à queda de audiências dos últimos dois meses.

Em Fevereiro — e pela primeira vez em 12 anos e meio —, a SIC tornou-se a estação mais vista. Desde então, a estação de Paço de Arcos consolidou a sua liderança nos 21,6%, contra 19,4% da TVI. Depois do cancelamento do programa Quem Quer Casar Com O Meu Filho, que não resistiu aos maus números e críticas da audiência, o canal volta a apostar no formato de reality show: Like Me estreia-se a 25 de Maio e será protagonizado por influencers portugueses à procura de seguidores.

“É mais um atrevimento da TVI porque o mais fácil seria recorrer mais uma vez a um Love On Top [reality show em torno de relações amorosas]”, explica ao PÚBLICO o director-geral de antena e de programas da TVI, Bruno Santos, reconhecendo que é uma resposta ao crescimento que a rival SIC tem conquistado nos últimos meses.

“É uma espécie de reacção e necessidade que temos para provar que estamos alive and kicking [vivos e prontos para a luta, tradução livre]. A TVI tem um ADN de vencedores, um historial de liderança, de não cruzarmos os braços. De mostrarmos que estamos activos e que temos muita consistência estratégica no nosso posicionamento sobre isso”, vincou.

O programa irá funcionar em conjunto com uma aplicação para telemóveis, onde estarão registados os perfis de todos os concorrentes. Independentemente da sua “influência” nas redes sociais como o Instagram, Facebook ou YouTube, todos eles começam com uma base de zero seguidores a partir do momento em que entram no programa e serão os espectadores a eleger o “mais popular”. “O próprio nome do programa é uma reflexão social”, atira o director-geral de antena e de programas.

Para o responsável pela grelha da TVI, este programa vem mostrar como é que os canais alternativos podem ser integrados na televisão tradicional. “Muita gente fala do divórcio entre a televisão, o canal aberto, e as novas redes sociais e a nova forma de consumir [conteúdos], mas este programa mostra o contrário”, afirma Bruno Santos.

“O que queremos é, não perdendo o público tradicional da televisão, atrair públicos de camadas mais jovens que pouco a pouco se estavam a desligar das FTA [free to air], canais em sinal aberto]”, diz.

O insucesso do programa Quem Quer Casar Com O Meu Filho não desanimou a direcção da estação. “Chegámos à conclusão de que o formato não estava como achávamos que devia estar e tirámo-lo da grelha. É muito difícil encontrar um formato vencedor. As pessoas acham que é sempre a mesma coisa, é sempre a mesma história, mas queixam-se daquilo que elas gostam, porque quando oferecemos outra coisa recusam. Vivemos com essa contradição”, comenta Bruno Santos, que afasta o peso das acusações de machismo que o programa recebeu.

“Não. Não teve nada a ver. Até acho que o programa não tinha nada disso. A TVI não tem nenhuma consciência pesada em relação a isso. Acho até que somos o canal mais inclusivo de todos”, assevera, apesar das queixas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). 

“Acho que há uma vontade muito grande de uma certa ala da sociedade de finalmente publicar que os realitys shows morreram. As pessoas adorariam que os reality shows fossem banidos da face da Terra”, avalia. Mas a realidade, acredita Bruno Santos, é diferente: “Antes pelo contrário, acho que as pessoas gostam do reality show como gostam de novelas”. 

Além do novo reality show, o canal irá apresentar uma nova rubrica no Você Na TV! já esta terça-feira. O programa das manhãs, que tem sido um dos que mais fustigados na corrida pelas audiências, irá ter um concurso de culinária, cujo júri é composto pelo chef Olivier da Costa, pela chef Sofia Mesquita e por um terceiro jurado, um convidado famoso que irá mudar todos os dias.

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O apresentador da TVI irá voltar a conduzir o Masterchef Rui Gaudêncio

Goucha não está de saída

Manuel Luís Goucha não está a preparar a sua saída da TVI, pelo menos “a curto ou médio prazo”, garante o director-geral de programas. “Ele não está a ser afastado. Até fizemos questão de comunicar nisso”, diz Bruno Santos, que justifica a decisão de entregar a apresentação exclusiva do A Tua Cara Não Me É Estranha à sua colega do programa da manhã, Maria Cerqueira Gomes, com a sobrecarga da agenda do apresentador, que irá conduzir o Masterchef. “Não tem nada a ver com um afastamento do Manuel. O Manuel continua a ser o apresentador mais importante da TVI.”

“Não é que a Maria Cerqueira Gomes seja propriamente nova, mas fez um caminho muito rápido. Entrou numa fase escaldante da televisão em aberto e agora vai para os holofotes da nossa audiência, o que é muito importante para nós e para ela”, acrescenta.

Quanto ao sucesso da rubrica Gente Que Não Sabe Estar, que escapa à queda das audiências, o director-geral dos programas levanta o véu para dizer que as eleições trarão novidades, mas não diz quais. Com rasgados elogios ao apresentador, Ricardo Araújo Pereira, o director-geral da grelha afasta uma autonomização da rubrica para um programa próprio. “Em equipa que ganha não se mexe. Ele está a prestar um serviço visível, não só ao nível das audiências, mas na repercussão mediática, porque mete o dedo na ferida. Há uma geração que começa a perceber de política e do que está a acontecer através de Ricardo Araújo Pereira. Tem uma capacidade convocatória.”

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