Web Summit poderá sair do Parque das Nações

Em causa estará a falta de sintonia entre o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e o presidente da Fundação AIP, Jorge Rocha de Matos, relativamente à ampliação da FIL.

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Fernando Medina, o primeiro-ministro António Costa e Paddy Cosgrave, co-fundador da Web Summit na sessão de abertura da 3ª edição da feira tecnológica, no Altice Arena Miguel Manso

A Web Summit poderá vir a realizar-se noutro espaço que não a ​Feira Internacional de Lisboa (FIL), na zona do Parque das Nações. Segundo a edição deste sábado do jornal Expresso, há pelo menos duas localizações alternativas em cima da mesa: a Foz do Trancão, entre os municípios de Lisboa e Loures, e a zona de Carnide, na capital.

A mudança não ocorrerá no curto prazo. Ao que tudo indica, a edição deste ano da feira tecnológica, a realizar-se entre 4 e 7 de Novembro, permanecerá no Altice Arena e nos pavilhões da FIL, no Parque das Nações. Porém, nos próximos anos, a feira tecnológica poderá vir a realizar-se noutros locais.

De acordo com o Expresso, em causa está a falta de consenso entre o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e o presidente da Fundação AIP (proprietária da FIL), Jorge Rocha de Matos, em torno da ampliação da FIL. Neste sentido, avança o mesmo jornal que Fernando Medina e Paddy Cosgrave, que lidera a Web Summit, poderão estar a estudar locais alternativos caso o acordo de ampliação da FIL acabe por falhar.

Entre as possíveis alternativas para um novo espaço de exposições estará então a Foz do Trancão (onde se irão realizar as Jornadas Mundiais da Juventude, em 2021), e um local junto à Feira Popular, em Carnide. Pedrouços, entre Lisboa e Oeiras, terá sido também, a dado momento, uma hipótese a considerar, mas o Expresso indica que este local foi entretanto posto de lado, uma vez que está prevista a implementação de um campus do mar” naquela zona ribeirinha entre Belém e Algés.

Na semana passada, Paddy Cosgrave anunciou no Twitter que tinha andado por Lisboa à procura de “uma nova bonita localização” para “um centro de conferências completamente novo”, projecto que não estaria relacionado com a ampliação da FIL.

Porém, fonte oficial da Câmara Municipal de Lisboa ouvida pelo Expresso confirmou que os três locais referidos estiveram efectivamente na agenda do líder da Web Summit. “Alguns dos locais foram esses”, disse fonte do gabinete de Medina citada pelo jornal.

Já o Presidente da CML ter-se-á escusado a responder sobre se acompanhou Cosgrave durante a sua visita a Lisboa, confirmando apenas, cita o Expresso, que “a CML colaborou no levantamento de possíveis locais e discutiu com a equipa as conclusões” do mesmo, que foi “realizado com o apoio de consultores internacionais”.

Fontes ouvidas pelo mesmo jornal sublinham que a procura de locais alternativos tem particular importância tendo em conta a incerteza quanto à ampliação da FIL e o impasse entre Medina e o presidente da Fundação AIP.

Conforme noticiou o PÚBLICO no domingo passado, a Câmara de Lisboa arrisca-se a ter de pagar uma pesada indemnização à Web Summit já este ano, caso não consiga garantir a primeira fase de ampliação da FIL, onde a feira tecnológica se realiza anualmente.

O acordo celebrado entre o Estado, a autarquia e a Connected Intelligence Limited (CIL), empresa que organiza a Web Summit, deixa nas mãos da autarquia a responsabilidade de assegurar o alargamento do recinto da FIL, no Parque das Nações, e estabelece que já em Outubro este deva ter mais 13 mil metros quadrados do que actualmente. Caso a meta não seja cumprida, e segundo o acordo a que o PÚBLICO teve acesso, a câmara pode vir a ter de “pagar em dinheiro à CIL os danos”.

O valor a pagar pela câmara será calculado através de uma fórmula em que entram a área de recinto necessária para a Web Summit, a área efectivamente disponível e as receitas esperadas nessa edição. O documento não refere, contudo, valores concretos.

O contracto estipula que o crescimento da FIL “será realizado em duas fases”, devendo a primeira delas “ser concluída até ao dia 1 de Outubro de 2019”. Nessa data, a câmara “deverá garantir um mínimo de 53 mil metros quadrados de área de exposição permanente e 18 mil metros quadrados de área de exposição temporária.”

Actualmente a FIL tem 41 mil metros quadrados de área expositiva. Até 1 de Outubro de 2021, segundo o acordo, a câmara já “deverá fornecer um mínimo de 90 mil metros quadrados de área de exposição permanente” para que a feira possa acolher um maior número de participantes.

Ainda assim, a indemnização do município à Web Summit por incumprimento dos compromissos será a última solução. “Se, em qualquer ano, a CML deixar, por qualquer razão, de satisfazer as etapas relevantes, então as partes deverão cooperar para encontrarem soluções provisórias adequadas para receber a exposição esperada”, diz-se. Só no caso de o consenso não ser possível “no prazo de três meses” é que a câmara se arrisca a pagar indemnização. E nunca sem antes haver “um pedido escrito por parte da CIL.”

O acordo, que foi assinado no fim de 2018 e entrou em vigor a 1 de Janeiro deste ano, era para ter sido votado no início do mês numa reunião da câmara de Lisboa, mas Fernando Medina adiou a sua discussão para que os vereadores pudessem esclarecer dúvidas, visto que o contrato não foi distribuído previamente aos eleitos.

O documento, ao qual o PÚBLICO teve acesso, foi celebrado entre o Estado, a câmara lisboeta (“partes portuguesas”), o Turismo de Portugal, a Associação de Turismo de Lisboa, a Aicep, o IAPMEI (“entidades públicas”) e a CIL, liderada por Paddy Cosgrave, com vista à permanência da Web Summit em Lisboa até 2028.

Caso a CIL decida rescindir o contrato antes de 2028, o acordo prevê ainda que a empresa terá de pagar “uma indemnização correspondente ao impacto económico abdicado da Web Summit”, que ronda os 340 milhões de euros por ano.

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