Lítio, um metal para o futuro de Portugal?

Será que Portugal pode-se dar ao luxo de perder esta oportunidade internacional? O que é que no desenvolvimento da fileira tecnológica do lítio pode impedir as outras atividades humanas?

O ser humano foi evoluindo ao longo dos tempos. Logo nos primórdios do seu desenvolvimento, aproveitou recursos que estavam ao seu alcance para melhorar as suas condições de vida. Na altura que era coletor e por isso nómada, foi alterando a paisagem de uma forma muito leve e até impercetível. Mas já nessa altura começou a utilizar ferramentas a partir de recursos geológicos, sendo a mais famosa a utilização do sílex. Nessa altura, o homem começa a alterar o seu meio ambiente. A Idade da Pedra permite ao homem desde o Paleolítico evoluir continuamente em conhecimento até ao Neolítico. Mas há um salto tecnológico quando percebe que pode utilizar os metais em seu benefício. A utilização do cobre, a partir da metalurgia de vários minerais, quer em adornos, quer em ferramentas, passa a ser generalizado, por exemplo, na Europa.

Em Portugal, certamente começou no sul do País, há mais de 5000 anos. E ainda nos dias de hoje, as minas de Neves-Corvo e Aljustrel são um forte alicerce do desenvolvimento do Alentejo, mas também de todo o País. As minas de Aljustrel (que tiveram exploração a céu aberto e agora é subterrânea há muitos anos) tiveram um forte desenvolvimento durante a Época Romana, e desde essa altura até ao século XX, a sua exploração não seguia regras ambientais, pois não havia legislação nem preocupações ambientais que a isso a obrigassem. Já o exemplo das minas de Neves-Corvo, que abriu no final da década de 80 do século passado, quando Portugal já pertencia à Comunidade Europeia (e por isso sujeita às suas regras ambientais), é um exemplo mundial de respeito pela Natureza.

A Idade do Bronze fica marcada por mais um salto no conhecimento quando o Homem, na sua incansável procura de melhores condições de vida, se apercebe que há uma liga natural, que dá maior dureza aos seus utensílios de metal. A dureza do bronze relativamente ao cobre resulta da mistura com outro metal, o estanho. O estanho é um metal que abunda no Norte e Centro de Portugal, e desde a pré-história foi explorado. Estão atualmente a ser desenvolvidos trabalhos de investigação sobre a sua utilização nos Castros, que tanto caracterizam o nosso Noroeste Peninsular. Terão começado com a exploração dos depósitos de cassiterite nos rios, mas terá sido mais uma vez o forte desenvolvimento trazido pela civilização romana que terá levado à procura deste recurso geológico na sua fonte primária.

Uma dessas fontes eram os pegmatitos. Estas são rochas parecidas mas distintas dos granitos, que podem ter vários tipos de metais, incluindo o estanho e o lítio. Já no século passado foram fonte de desenvolvimento das zonas interiores de Portugal, da qual destaco a zona do Barroso. Até aos anos 60 do século passado, principalmente durante a primeira e segunda guerras mundiais, foram fonte de sustento nesta região e conviveram com as outra atividades humanas, como a agricultura e a pecuária de uma forma complementar, ajudando a que esta região fosse sustentável do ponto de vista territorial e humano.

Atualmente em Portugal já existem explorações de pegmatitos com lítio para a Indústria Cerâmica e Vidreira, em filões onde minerais de lítio como a montebrasite, lepidolite, espodumena e a petalite são dominantes. Contudo, como já escrevi há quase uma década, a utilização das reservas certas de teor superior a 1% de Li2O nos filões ricos em espodumena na região do Barroso deveriam ser já encaradas como sendo de minérios de lítio convertível em carbonato ou hidróxido de lítio. Apesar de haver já reservas significativas dentro das concessões mineiras já atribuídas, é necessário realizar trabalhos de prospecção em áreas de todas as regiões referidas, como actualmente está a acontecer por todo o mundo, com campanhas de sondagens extensas já a decorrer.

De facto, na actualidade do mercado mundial, apesar das principais fontes de lítio serem salmouras litiníferas, a espodumena é um minério de lítio nomeadamente na China, Austrália e Brasil e voltará a ser muito proximamente nos EUA, Canadá e Rússia. Na Europa (cuja Comunidade Europeia, em Julho de 2010, preocupada com a dependência externa das suas indústrias em termos de matérias-primas, publicou o estudo “Critical raw materials for the EU” onde o lítio está largamente referido), está prevista entrar proximamente em laboração na Finlândia a primeira mina de lítio para a obtenção de compostos para baterias a partir da espodumena. Refira-se que os teores de lítio e as reservas são equivalentes às já identificadas em Portugal na região do Barroso-Alvão, pelo que no nosso país se deve também estudar e fomentar a utilização das suas melhores reservas na obtenção deste componente para as baterias.

Esta Indústria Mineira, para além de ser praticamente não poluente quando comparada com a antiga Indústria Mineira do passado em Portugal, terá a característica de ser limitada no espaço físico e temporal e, sendo associada a uma indústria transformadora do lítio a desenvolver nas mesmas regiões do interior (das mais pobres do País e da Europa), poderá até ser considerada como uma das soluções para ajudar a diminuir a desertificação populacional e o empobrecimento económico nestas regiões.

Será que Portugal pode-se dar ao luxo de perder esta oportunidade internacional? O que é que no desenvolvimento da fileira tecnológica do lítio pode impedir as outras atividades humanas?

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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