Mulheres no YouTube: mais espectadores e menos criadoras — até agora

Plataforma vídeo quer incentivar uma participação das mulheres enquanto criadoras de conteúdos.

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Reuters/Dado Ruvic

Em Portugal, a pesquisa pela palavra empowerment (empoderamento) no YouTube duplicou no último ano. É apenas um entre vários dados que foram apresentados esta quinta-feira no evento “Mulheres no YouTube”, em Lisboa em que estiveram presentes algumas das youtubers portuguesas mais reconhecidas – Rita Serrano, Inês Rochinha, Olívia Ortiz e Owhana – para discutir a presença da mulher na plataforma.

Segundo Melanie Parejo, gestora de parceiros do YouTube em Portugal e Espanha, “cerca de 45% dos utilizadores da plataforma são mulheres” – números do serviço Similarweb. No entanto, a maioria do conteúdo continua a ser criado por homens, aponta, apesar de a percentagem não ter sido divulgada ao PÚBLICO. Contudo, houve um crescimento de 80% de pesquisas relacionadas com as principais criadoras femininas.

Uma das tendências que Melanie Parejo refere durante a apresentação foi o crescimento de vídeos em que as pessoas assumem a sua orientação sexual. Para a mesma, “isto ajuda a acabar com estereótipos e a estarmos conscientes de que as histórias têm várias perspectivas”.

A gestora de parceiros termina a sua intervenção apelando a que mais mulheres criem conteúdo no YouTube. “A criatividade só é possível quando existe diversidade e inclusão. Os dados revelaram que as mulheres têm, em média, 12% menos acesso à internet que os homens em todo o mundo”, concluiu.

Seguiu-se o debate com as youtubers, moderado pela gestora de indústria da Google em Portugal, Inês Santos Lima. Rita Serrano, Inês Rochinha, Olívia Ortiz e Owhana falaram do seu percurso no canal e de preconceitos.

O que têm para dizer

Há cerca de oito anos, ​Inês Rochinha, 26 anos,começou por partilhar vídeos de costura. Actualmente, tem vídeos sobre maquilhagem, penteados e algumas histórias pessoais do dia-a-dia. Com quase 265 mil subscritores, 80% dos quais mulheres, Inês é uma das youtubers mais influentes do momento. “Sou uma storyteller”, define-se.

A primeira vez que sentiu discriminação de género foi quando se fazia o roast yourself. “Em que se criava uma música sobre os nossos defeitos e fiz um rap com o meu namorado na altura. Houve pessoas que chegaram ao meu canal e disseram ‘tu és mulher, não podes gozar, não podes fazer isto, não podes fazer aquilo'”, confessa, acrescentando que considera existir “um preconceito" relativo à profissão de youtuber.

Ao PÚBLICO, Inês salienta que “as mulheres são mais críticas” e que “ligam mais ao detalhe”. Durante o debate refere a importância da autenticidade: “Tudo aquilo que é mostrado é muito romantizado. Quando começamos a mostrar vulnerabilidade há mais empatia.”

Rita Serrano tem cerca de 96 mil subscritores no canal. Ao PÚBLICO informa que a sua audiência é predominantemente feminina — “cerca de 80%”. Começou a partilhar vídeos há três ou quatro anos para estender o negócio de hairstyling. Entretanto a temática evoluiu para histórias mais pessoais. “Quando os comentários são menos simpáticos tento responder o mais calma possível. Dou uma resposta correcta, mas que ponha pessoa no sítio.”

Owhana é tendência no YouTube e está a acumular seguidores (cerca de 456 mil) com a sua boa disposição. Começou o canal em 2016 por influência do namorado (o conhecido Wuant): “Comecei a imitar vozes de desenhos animados. Agora é mais sobre mim. Pego em vídeos que lá fora são tendência e adapto para cá”, explica. “Embora tenha um público predominantemente feminino (60%), os rapazes são mais críticos”, revela. 

Segundo Owhana, o maior medo que teve quando criou o canal foi não corresponder ao “estereótipo” de beleza feminina. “Sendo uma rapariga plus size, tinha receio. Mas apesar de alguns comentários negativos, os positivos superaram”, contou. A jovem revelou ainda que recebe mensagens de jovens inspiradas pela mensagem de positividade corporal que transmite. 

O caso de Olívia Ortiz é diferente, já que vingou primeiro no mundo da televisão – como apresentadora – e só depois, há três anos, criou o seu canal na plataforma. “Senti uma lacuna: a vontade de criar o conteúdo que eu queria”, justifica.

A audiência dos vídeos de Olívia, que tem cerca de 132 mil subscritores, é mais equilibrada (55% são mulheres). O que atraí Olívia nesta plataforma é o seu factor democrático: “O YouTube não discrimina. Qualquer pessoa pode ir para o YouTube, o botão de upload é igual para todos”, defende.

A apresentadora e youtuber afirma não dar importância aos comentários negativos. “Se nos centrarmos na critica negativa vamos estar a limitar a nossa criatividade”, conclui ao PÚBLICO.

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