Mais Erasmus, mais emprego e “nada sem os jovens”: estudantes do Porto propõem medidas para a Europa

Em vésperas de eleições europeias, a FAP quis perceber a visão dos jovens em relação ao projecto europeu e apresenta medidas que a UE deve seguir a nível do ensino superior.

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Nuno Ferreira Monteiro

A crise dos refugiados e as alterações climáticas são os principais desafios da União Europeia (UE), pelo menos na visão dos estudantes da Academia do Porto. Estas foram as conclusões retiradas de um questionário promovido pela Federação Académica do Porto (FAP) em Fevereiro que inquiriu 635 jovens. Os estudantes foram também questionados acerca da visão que têm da Europa, com 18% a associar-lhe a premissa “paz e estabilidade” — valor idêntico mereceu a palavra “mobilidade”. Nesta mesma linha, o Erasmus +, com a preferência de 32% dos auscultados, é o programa europeu que os jovens reconhecem mais facilmente.

Com base no mesmo inquérito, a FAP criou o Somos Academia. Somos Europa, um documento estratégico com as principais reflexões e medidas da associação académica com vista às eleições europeias que se realizam a 26 de Maio. Entre elas, destacam-se, no campo do ensino superior, a internacionalização do ensino, que, de acordo com a Federação Académica, deve ser feita, sobretudo, através do reforço do programa Erasmus.

Num encontro com jornalistas nesta quinta-feira, o presidente da FAP, João Pedro Videira, sublinhou que “apenas 2% dos jovens portugueses elegíveis para o programa beneficiaram dele”, deixando de fora a grande maioria. Para contrariar este número, manifestamente inferior ao de outros países, a federação quer que as instituições comunitárias se certifiquem de que há uma “devida publicitação” dos apoios destinados aos estudantes candidatos a mobilidade e que estas ajudas sejam consolidadas, de forma a “aumentar” os números de participação de estudantes “dos Estados-membros que se encontrem abaixo da média europeia”.

Outra medida que pode fomentar a mobilidade internacional dos jovens, e que não passa pelos fundos comunitários, é a harmonização do reconhecimento de graus e diplomas em toda a UE. Na visão de João Pedro Videira, “há casos específicos, nomeadamente ao nível dos cursos de Tecnologias de Saúde que, de forma a convergirem com o mercado europeu, foram reformulados recentemente, mas que o mercado nacional não tem capacidade de resposta para absorver”. Ou seja, é difícil para os recém-formados encontrar trabalho em empresas portuguesas. O contrário também acontece com cursos feitos em Portugal que lá fora não têm equivalência directa.

“Nada para os jovens sem os jovens”

Na área da Ciência, a FAP defende uma melhor coordenação e articulação entre os projectos de investigação a nível europeu. “Em Espanha pode estar a produzir-se conhecimento numa determinada área financiada pelos fundos europeus e em Portugal podemos estar a replicar ou duplicar essa investigação. Não há sinergia.” Para a federação, a solução pode passar pela criação de uma Rede Europeia de Ciência e Investigação.

Todas as propostas parecem confluir no sentido de promover mais condições aos jovens aquando da sua emancipação: “Estas políticas de desenvolvimento e inovação têm que estar articuladas com as políticas de emprego e políticas económicas.” Assegurar emprego é uma das prioridades do dirigente que, como tal, defende a livre circulação dos trabalhadores e a criação de um sistema europeu de pensões que contemple e contabilize todo o tempo de trabalho de um cidadão, independentemente do país em que a actividade profissional foi praticada.

A igualdade de género também não ficou esquecida, com a FAP a defender oportunidades iguais em matéria salarial e parental, assim como protecção contra a discriminação, seja esta de género, racial ou religiosa. No que diz respeito a medidas mais abrangentes, João reclama uma maior atenção das leis, e dos próprios decisores, para com os jovens: “Nada para os jovens sem os jovens”. Nesse sentido, defende que organismos que lidam com este grupo etário deveriam ser consultados sempre que estão a ser discutidas questões que lhes digam respeito.

Só assim, através da inclusão dos jovens nas tomadas de decisão, será possível criar espaços de construção de cidadania e, assim, reforçar o projecto europeu e a crença dos jovens neste mesmo ideal. “Com isto vamos reduzir o défice democrático porque quem tem ganho eleições para o Parlamento Europeu e para as instituições nacionais é o partido da abstenção.”

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