É só rock’n’roll, é mais do que rock’n’roll e o aniversariante Sabotage gosta

O clube no Cais do Sodré, em Lisboa, celebra o seu sexto aniversário a partir desta quinta-feira. Até sábado, três noites de concertos muito de acordo com o espírito da casa. Estão convocados The Parkinsons, Jibóia, Sunflowers ou Fugly.

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Os Parkinsons, velhos conhecidos da casa, serão uns dos protagonistas da festa de aniversário DR

Era editora especializada na música independente que brotava mundo fora e no passado que a antecedia. Era, antes disso, título de uma canção icónica dos Beastie Boys – mas essa é outra história. É agora, ou melhor, é desde 2013, quando José Maria Sousa, Ana Paula Flores e Carlos Costa canalizaram noutra direcção a sua paixão pela música, um clube no Cais do Sodré, em Lisboa, onde palco e plateia estão próximos o suficiente para que quem ocupa o primeiro encare, olhos nos olhos, aqueles que testemunham a acção e que, inevitavelmente, se tornam parte dela. Assim se quer no melhor rock’n’roll, no melhor punk-rock, na música ao vivo, em geral. Assim acontece no Sabotage, o clube que celebra entre esta quinta-feira, 2 de Maio, e o próximo sábado, dia 4, os seus seis anos de vida.

Ao longo dos anos, passaram pelo palco do Sabotage lendas como Kid Congo Powers, os Mutantes, The Pretty Things ou Lydia Lunch. Ali vimos históricos como os Mão MortaTelectu ou os Pop Dell'Arte e uma imensidão de nomes que fazem o presente dentro e fora de portas (Cave Story, Toy, Mistery Lights). Agora, no momento do aniversário, chegam concertos que reflectem a personalidade da sala – Parkinsons, Jibóia, Sunflowers, os espanhóis Biznaga –, concertos a que se sucede a boa selvajaria na pista de dança propiciada por DJs que são, muitas vezes, os próprios músicos que pouco antes vimos em palco. O início de cada noite está marcado para as 22h30. Os bilhetes têm o preço diário de 10€. 

No primeiro dia de festejos, haverá planares intensos e rave cósmica, ou seja, estarão em palco os Löbo, a banda lisboeta que sintetiza o negrume do doom em paisagens instrumentais, qual kosmische à beira de um precipício pós-rock, e os Jibóia, a entidade criada por Óscar Silva que cruza psicadelismo com escalas orientais, que faz o rock’n’roll pulsar em batidas resgatadas aos quatro cantos do mundo – e para além dele (olhos no espaço, sempre). OOOO, o álbum mais recente, gravado por Óscar silva com o baterista Ricardo Martins e o saxofonista Mestre André, aprofunda essa vertente cósmica (olhos postos em Saturno, o de Sun Ra). Depois dos concertos, A Boy Named Sue, o DJ residente da casa, Nuno Rabino, Dr. Feelgood e o ilustrador João Maio Pinto dão som à pista de dança.

Sexta-feira, será dia de punk à séria, de rock’n’roll muito suado. Será noite para repetir outras noites memoráveis, como têm sido todas aquelas em que os Parkinsons surgem no Sabotage. A banda conimbricense nascida em Londres editou o ano passado o óptimo The Shape of Nothing to Come e canções como See no evil ou Heavy metal seriam sempre bom rastilho, mas a verdade é que, neste momento da história, os Parkinsons não precisam de rastilho nenhum. São força viva, empolgante, qualquer que seja a canção que toquem. Estarão em casa, portanto. E terão óptima companhia, na figura de uns espalha-brasas madrilenos chamados Biznaga que fazem do rock’n’roll e da agitação punk cenário para denúncia e activismo social, sem papas na língua. Sentido del espectáculo, com o qual viajaram mundo fora, é o álbum mais recente, e Mediocridad y confort, a primeira canção, uma óptima porta de entrada no universo do quarteto. Findo o concerto dos Parkinsons, Pedro Chau e Vitor Torpedo largarão baixo e guitarra para se juntarem à trupe de DJ, que se completa com Nuno Rabino, o radialista Ricardo Mariano e o realizador Eduardo Morais.

O final de festa será feito a tomar o pulso ao presente. Presente trepidante, frenético. Três bandas que fazem um excitante agora no rock’n’roll português. Será a noite dos Sunflowers, que andam a apresentar Castle Spell, o seu álbum mais recente, em concertos admiráveis pela energia, intenção e liberdade daquele garage psicadélico, daquele punk no fio da navalha, daquela electricidade derramada sem pudor perante o público. Esta será também a noite dos Fugly, eles que transportam consigo, de forma acutilante, as dores e as glórias da sua geração. Fazem-no vestidos de garageiros noise ocupados a transformar em canções vinhetas do quotidiano – Millenial Shit, o primeiro longa-duração, não podia ter título mais certeiro. Com os portuenses Sunflowers e Fugly estarão na noite de despedida os Moon Preachers, duo seixalense que prega a turbulência sónica como catarse salvadora – A Free Spirit Death é o título do álbum de estreia e já explica parte da coisa. Tendo em conta o que serão os concertos, ter para o baile final o DJ Deus do Psicadélico é extraordinariamente apropriado. A divindade não estará sozinha. Nuno Rabino, naturalmente, mas também Johnny Chase, El Fuser e o radialista (e músico, enquanto Acid Acid) Tiago Castro, irão fazer-lhe companhia.

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