Estudo sugere que poucos austríacos sabem o que foi o Holocausto

O estudo indica que poucos austríacos têm conhecimentos sobre o genocídio levado a cabo pelo regime nazi e que a extrema-direita tem vindo a crescer no país.

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O campo de Mauthausen, na Áustria, foi um dos vários centros de extermínio criado pelo regime nazi REUTERS/Herwig Prammer

Um novo estudo mostra que uma fatia significativa da população austríaca tem poucos conhecimentos sobre o Holocausto, apesar de um dos principais campos — o de Mauthausen — estar localizado nos arredores da cidade de Linz e de algumas das principais figuras do regime nazi e responsáveis pelo genocídio serem austríacas.

A investigação, cujos resultados foram divulgados esta quinta-feira, foi levada a cabo pela Claims Conference, uma organização judaica que negoceia indemnizações para as vítimas do Holocausto. Os dados mostram que 56% dos austríacos inquiridos sobre factos relacionados com a Segunda Guerra Mundial desconhecem que seis milhões de pessoas foram mortas pelo regime nazi durante esse período e 36% acreditam que o número de vítimas foi inferior a dois milhões — esta crença aumenta para 42% entre pessoas com idades entre os 18 e 34 anos.

Greg Schneider, organizador da conferência sobre a apresentação de provas contra a Alemanha, afirma que as conclusões do estudo são semelhantes a outros já realizados nos Estados Unidos e no Canadá, mas não esconde a sua surpresa por se tratar de um levantamento levado a cabo num país que sofreu às mãos do regime de Adolf Hitler.

“A tendência é semelhante, o que demonstra uma realidade perturbadora sobre a falta de conhecimentos sobre o Holocausto, mas o que é novo é que esta nova pesquisa foi realizada na região onde ocorreu o Holocausto”, disse Schneider, citado pela Associated Press.

Outro dado aponta para o facto de que 79% dos austríacos sabem que Adolf Hitler nasceu na Áustria, mas somente 14% sabem que Adolf Eichmann, um dos principais orquestradores da “Solução Final”, era de ascendência germano-austríaca. Os resultados, por outro lado, suscitam preocupações sobre o crescimento da extrema-direita, em grande parte devido ao Partido da Liberdade, que está coligado com o partido no Governo e que foi fundado no pós-guerra por antigos membros do Partido Nazi austríaco.

Na semana passada, o vice-presidente da câmara de Braunau am Inn, a cidade natal de Hitler, publicou um texto em que comparava os emigrantes a ratos, replicando a retórica inflamada que o partido nacional-socialista usava contra os judeus. Heinz-Christian Strache, líder do Partido da Liberdade e vice-chanceler austríaco, disse que “é preciso lutar contra a deslocação da população nativa”. Para tal, recorreu ao termo “Bevoelkerungsaustausch” (que significa “intercâmbio entre populações”) que continua a ser utilizado por grupos de extrema-direita e que tem reminiscências da terminologia nazi.

No mesmo inquérito, os cidadãos foram questionados sobre as ideias defendidas pelo Partido da Liberdade e 43% dos inquiridos mostraram-se favoráveis à ideologia de extrema-direita perfilhada pelo partido. Seis por cento afirmaram também que o partido é “patriota” e 42% consideraram que os partidos nacionalistas são xenófobos.

“O maior medo é que algo como o Holocausto possa acontecer outra vez; por isso, acho que é demasiado estrito limitar as preocupações à Áustria”, observou Schneider.

No ano passado, um importante membro do Partido da Liberdade resignou ao cargo depois de ter sido revelado que fazia parte de uma fraternidade de estudantes austríacos que promovia ideais neonazis, incluindo cantar músicas com letras anti-semitas.

Efraim Zuroff, director do Centro Simon Wiesenthal, em Jerusalém, organização que se dedica à captura de membros do partido nacional-socialista alemão desde 1945, disse que os resultados do estudo demonstram que apenas 13% dos inquiridos reconheceram a Áustria como sendo um dos perpetradores do Holocausto, enquanto 68% admitiram que era simultaneamente vítima e agressor.

Greg Schneider, da organização responsável pelo estudo, acrescentou ainda que 42% dos austríacos não estavam familiarizados com a existência do campo de extermínio de Mauthausen, apesar de estar localizado no seu país.

“A falta de conhecimento entre os austríacos revelada por este estudo atribui uma missão não só a professores e políticos, mas a toda a sociedade”, disse Oskar Deutsch, presidente da Comunidade Judaica de Viena e da Áustria.

O estudo inquiriu mil cidadãos austríacos e foi feito entre 22 de Fevereiro e 1 de Março, com uma margem de erro de mais ou de menos 3,1 pontos percentuais.

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