Governo quer provas de aferição com patins, mas escolas não têm material

As provas de aferição nacional arrancam esta quinta-feira para os alunos de segundo ano e deixam a claro as desigualdades entre as escolas com mais e menos recursos.

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O Governo não sabe qual o material em falta

Os alunos do 2.º ano do ensino básico começam esta quinta-feira a ser avaliados em Expressões Artísticas e em Educação Física. Depois, são os alunos do 5.º ano e do 8.º ano que farão as provas de aferição também a Educação Física e a disciplinas teóricas, respectivamente. Mas as avaliações não são um desafio só para os alunos. Directores e professores queixam-se da falta de material para a realização das provas. “Isto só vem pôr a nu a falta de material que afecta muitas escolas”, dizem os directores e professores ouvidos pelo Diário de Notícias e pelo Jornal de Notícias. E se o material não existe, então o programa escolar não está a ser cumprido, sublinham.

Para as provas desta quinta-feira, o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) elaborou uma lista com 14 itens. Plintos de ginástica, planos inclinados de espuma, raquetas de praia, bancos suecos, quatro colchões de ginástica, 12 bolas de ginástica rítmica e espaldares são alguns dos materiais exigidos.

No mesmo documento, o IAVE admite que as escolas não tê todo este material e sugere alternativas — mas apenas para cinco itens. É o caso do plano inclinado de espuma (que poderá ser substituído por um trampolim sueco), ou dos espaldares (que podem ser substituídos por uma barra fixa, “a uma altura que permita que os alunos se suspendam ser tocar no chão”).

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Material escolar exigido pelo IAVE para a prova de aferição do 2.º ano IAVE

Além do material, “a realização da prova requer uma sala polivalente, um espaço coberto (um ginásio ou um pavilhão), com área mínima de aproximadamente 80 metros quadrados, livre de obstáculos”, lê-se nas indicações do IAVE. “Este espaço coberto necessita de ter uma parede lisa e livre de obstáculos numa área de 2,5 metros de altura por 2 metros de largura, aproximadamente.”

Governo não sabe qual o material em falta

“Cada vez mais as provas de aferição cumprem o que está previsto no currículo de Educação Física. Se não existe esse material, o programa não está a ser cumprido”, sublinha ao Jornal de Notícias Avelino Azevedo, presidente do Conselho Nacional de Associações de Profissionais de Educação Física e Desporto.

Avelino Azevedo pede ao Ministério da Educação um levantamento do material em falta, para que possa ser feita uma análise detalhada dos resultados das provas de aferição, que revelaram, por exemplo, que quase metade dos alunos do 2.º ano não sabem saltar à corda ou dar uma cambalhota.

Para as provas do 5.º ano a lista é ainda maior. Ao material exigido ao 2.º ano somam-se um trampolim, um boque, uma aparelhagem de som e cinco pares de patins de quatro rodas ou patins em linha para os quais são precisos cinco capacetes.

“Todos os anos há material em falta”, critica Filitino Lima, presidente da Associação nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), em declarações ao Jornal de Notícias.

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Material escolar exigido pelo IAVE para a prova de aferição do 5.º ano IAVE

A exigência de patins em linha é mais uma demonstração. “Muitas não terão. É um material caro”, justifica Filitino Lima. “Se nos obrigam a fazer as provas é preciso dotar as escolas das condições ideais”, assegura.

“No essencial não mudou nada desde o ano passado. As condições físicas mantêm-se. O país que o Ministério não conhece de escolas desertificadas, cada vez com menos alunos e turmas mistas, continua com condições mínimas”, aponta o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, também ao Jornal de Notícias.

Para Manuel Pereira, a falta de material expressa “a falta de equidade” e isso é reflectido nos resultados das provas, uma vez que as escolas com mais recursos se adaptam e melhoram a prática, capazes de dotar os alunos com os materiais exigidos, mas as restantes são obrigadas a improvisar.

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