Futuro da Sonae passa a partir de agora a ter a assinatura de Cláudia Azevedo

Grupo terá, pela primeira vez na sua história, uma mulher na presidência da comissão executiva. Paulo Azevedo mantém-se como chairman da empresa.

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Cláudia Azevedo assume gestão activa da Sonae Nelson Garrido

Cláudia Azevedo, filha de Belmiro de Azevedo, falecido em Novembro de 2017, foi esta terça-feira eleita administradora executiva da Sonae SGPS para o triénio 2019-2022, assumindo a presidência da comissão executiva (CEO), cargo até agora ocupado pelo irmão, Paulo Azevedo, e, simultaneamente, por Ângelo Paupério. Com funções executivas foi ainda eleito João Dolores, também uma estreia no conselho de administração, e que assumirá a função de administrador financeiro (CFO).

A eleição dos novos órgãos sociais da Sonae (proprietária do PÚBLICO) ocorreu esta terça-feira, 30 de Abril, em assembleia geral de accionistas, e formaliza uma transição que já tinha sido anunciada em Julho de 2018.

Paulo Azevedo, que chegou à presidência da comissão executiva da Sonae em 2007, em plena crise financeira internacional, e a chairman em 2015, sucedendo a Belmiro de Azevedo, vai manter-se neste cargo por mais três exercícios.

Para a administração de um dos maiores grupos privados portugueses, com um volume de negócios de 5951 milhões de euros, Cláudia “convidou” mais duas mulheres, mas sem funções executivas: Fuencisla Clemares, directora geral da Google para Portugal e Espanha, e Margaret Lorraine Trainer, que já prestou serviços de consultoria à Sonae.

A composição do CA para o próximo triénio, que foi alargado de oito para 10 membros, inclui, mas sem funções executivas, Paulo Azevedo, e dois gestores “históricos” do grupo, Ângelo Paupério, e Carlos Moreira da Silva, para além de José Manuel Neves Adelino, Marcelo Faria de Lima e Philippe Cyriel Elodie Haspeslagh.

Em comunicado ao mercado, divulgado ao início da noite, a Sonae informou que aguarda autorização do Banco de Portugal para formalizar a designação de Paulo Azevedo para presidente do conselho de administração e para a constituição de uma comissão executiva composta por Cláudia Azevedo (presidente) e João Pedro Dolores. Este formalismo, relativamente ao Banco de Portugal, prende-se com o facto de a Sonae ter uma licença para operar como entidade emissora de moeda electrónica, no âmbito da qual lançou o Cartão Universo (de pagamento, com possibilidade de crédito).

O anúncio de Cláudia Azevedo para a administração da Sonae SGPS foi justificado com o facto de se adequar “de modo particular ao perfil mais recentemente assumido pelo grupo”, ou seja, uma vertente mais tecnológica, a que a gestora já esteve ligada nos últimos anos. “É uma responsabilidade que aceito, com a convicção de quem olha para o futuro e tem a confiança de ter nos valores Sonae a determinação e optimismo necessários para enfrentar os desafios que seguramente surgirão”, assumiu Cláudia Azevedo, nas primeiras declarações sobre a sua escolha.

Cláudia Azevedo está ligada aos negócios do grupo há mais de duas décadas, tendo presidido, inclusive, à comissão executiva da Sonae Capital, outro ramo de negócios maioritariamente controlado pela família Azevedo. A sua nomeação para a Sonae SGPS, holding que agrega vários negócios, com destaque para o retalho alimentar e especializado, centros comerciais e telecomunicações, foi feita pela Efanor Investimentos, que reúne as participações da família, e que é o maior accionista da Sonae SGPS.

A mais nova de três irmãos, licenciada em Gestão pela Universidade Católica do Porto e MBA pelo INSEAD, “herda” um grupo com “um balanço forte, com capacidade para responder aos novos desafios”, nas palavras de Paulo Azevedo, que lembrou que isso foi conseguido pela inversão, nos últimos anos, da estrutura de capitais, com a redução do endividamento a um terço e o correspondente aumentando dos capitais próprios.

Paulo Azevedo, que no último exercício apresentou “o maior volume de vendas de sempre, com todos os negócios do grupo a crescer”, admitiu, no entanto, que gostava de “ter feito mais vertente da internacionalização dos negócios”, um desafio que, como reconheceu, deixa para a nova equipa de gestão. Ainda assim, admitiu que a aposta em novos modelos de negócio (wholesale, online, serviços e franchising) foi ganha, passando de um volume de vendas de 525 milhões para 884 milhões de euros, quatro anos depois. Excluindo as exportações, a Sonae está actualmente presente em 74 países, através de operações, prestação de serviços a terceiros, escritórios de representação, acordos de franchising e parcerias.

Apesar da crescente aposta na área tecnológica, financeira ou na saúde e bem-estar, o maior negócio do grupo está no retalho alimentar (hipers e supermercados Continente), e no mercado nacional. Em 2018, a Sonae tentou fazer uma dispersão de parte do capital da Sonae MC, operação que visava alavancar futuros investimentos, mas a operação acabou por ser retirada por falta de condições de mercado. Este é outro dos dossiers “quentes” que transita para a gestão de Cláudia Azevedo, que vai ter de contar com a concorrência de novos players, como a Mercadona.

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