“A cidadania da Catalunha disse não à repressão política”

Pela primeira vez, o independentismo catalão vai ter 22 deputados em Madrid. Todos os independentistas detidos que foram a votos conseguiram ser eleitos. Subida dos socialistas não dá azo a euforias.

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Gabriel Rufián, número dois do ERC, cumprimentado depois da vitória na Catalunha Alberto Estevez/LUSA

A Catalunha votou no domingo e pela primeira vez haverá 22 deputados independentistas catalães no Congresso em Madrid. A afirmação política do independentismo na região poderia ser de outra forma, mas não teria sido mais esclarecedora. Até os cinco independentistas detidos que se apresentaram a sufrágio conseguiram ser eleitos: quatro deputados – Oriol Junqueras, Jordi Sànchez, Jordi Turull, Josep Rull – e um senador – Raül Romeva.

Ao mesmo tempo, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que o seu líder e deputado eleito Oriol Junqueras, desde a prisão, orientou ferreamente num tom de moderação, ganhou as eleições e marcou a sua hegemonia no campo independentista na região, com 15 deputados.

Mesmo o Juntos pela Catalunha (JxCat), de Carles Puigdemont (o exilado ex-presidente do governo catalão e que a Junta Eleitoral Central proibiu esta segunda-feira de ser candidato às eleições europeias), conseguiu evitar a grande queda antecipada pelas sondagens, perdendo apenas um deputado e respirando de alívio.

“A cidadania da Catalunha disse não à repressão e ao 155”, disse a número dois da lista da JxCat ao Congresso de Deputados, Laura Borràs, citada pelo La Vanguardia, referindo-se ao artigo 155.º da Constituição Espanhola que suspendeu a autonomia depois da declaração unilateral de independência de Outubro de 2017. Acto que levou ao exílio de Puigdemont e de membros do seu executivo e à prisão de outros líderes: desde Fevereiro, 18 pessoas estão a ser julgadas pelo tribunal de Audiência Nacional.

Para Gabriel Rufián, número dois da lista da ERC, a seguir a Junqueras, os resultados deste domingo “obrigam o PSOE [Partido Socialista] a sentar-se a uma mesa de negociações e a tirar as togas e os bastões do conflito catalão”. Enquanto Marta Vilalta, porta-voz do partido, ressalvava, de acordo com o ElNacional.cat, que Pedro Sánchez não podia simplesmente ignorar 1,6 milhões de pessoas que escolheram os partidos independentistas na Catalunha, mais 500 mil que em 2016: “Não pode fazer como se nada se tivesse passado”.

Sánchez garantiu na noite eleitoral que não põe “cordões sanitários” à volta de nenhum partido, desde que seja dentro do marco da Constituição, mensagem positiva e negativa ao mesmo tempo, pois o referendo de autodeterminação que tanto exigem os independentistas – e que foi razão para a queda do curto Governo socialista saído da moção de confiança de Junho do ano passado – figura à margem desse marco constitucional.

Os números saídos das urnas dão outras opções a Sánchez sem necessitar dos catalães. Não dão uma maioria confortável como os 180 deputados somados por PSOE (123), Unidas Podemos (42) e ERC (15) – 187 se quiser juntar o JxCat –, mesmo assim permitem ao líder socialista não estar refém da pressão de Barcelona.

Borràs disse esta segunda-feira que “as convicções e exigências” da JxCat  “continuam as mesmas da campanha”, nomeadamente a autodeterminação, mas que perante estes resultados eleitorais “custa imaginar que o PSOE queira falar de um pacto de referendo”.

Porque se é certo que o equilíbrio entre independentistas e constitucionalistas se desfez a favor dos primeiros, o segundo lugar alcançado pelos socialistas catalães (PSC), elegendo 12 deputados (mais cinco que em 2016, numa subida de 350 mil votos), mostram que Sánchez tem apoio local para as suas políticas. Mesmo que os seus cinco deputados tenham sido conquistados à conta da descida em igual número do En Comú Podem (o Podemos catalão).

“As forças independentistas terão que responder à pergunta sobre o que querem fazer em Madrid, qual é o seu objectivo e se querem ser úteis ou não aos catalães”, afirmou a cabeça de lista do PSC, Meritxell Batet, em conferência de imprensa. Para a também ministra da Política Territorial e da Função Pública do Governo espanhol, com este resultado fica garantido que “ninguém poderá falar em nome da Catalunha sem contar com o PSC”. 

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