Votar para a Europa

Neste momento em que surgem vários movimentos e partidos de extrema-direita em toda a Europa, os nossos políticos entretêm-se a discutir as suas diferenças domésticas, esquecendo o essencial destas eleições europeias.

Passados 50 anos da nossa pequena guerra académica Coimbrã contra o regime é fácil emocionarmo-nos às lágrimas com a evocação do Zeca Afonso no Coliseu, no dia 25 de Abril.

Nós, os da foto da época no disco LP do Adriano Correia de Oliveira, podemos hoje afirmar, do alto dos nossos corações cansados de 70 anos, que valeu a pena. Longo foi o caminho daquela aprendizagem, caminhando para sermos livres.

Isto também vem a propósito das próximas eleições europeias.

Apesar de sermos chamados a eleger os 21 deputados portugueses do próximo Parlamento Europeu (PE) com 751 deputados, não há nenhum partido político que nos fale da Europa.

Somos 168 milhões de eleitores europeus representados por 203 partidos políticos em toda a Europa.

É extraordinário que tanto à direita como à esquerda, os nossos partidos políticos silenciam a importância do Parlamento Europeu na futura escolha, decisiva, dos próximos líderes da União Europeia: o presidente da Comissão Europeia, o presidente do Parlamento Europeu, o presidente do Banco Central Europeu e os vários comissários europeus.

Neste momento em que surgem vários movimentos e partidos de extrema-direita em toda a Europa, os nossos políticos entretêm-se a discutir as suas diferenças domésticas, esquecendo o essencial destas eleições europeias.

É verdade que o nosso pequeno e pobre país tem muitos problemas para resolver e alguns desses problemas têm agora propostas de resolução que denotam uma grande arrogância de quem não sabe fazer. Como a recente proposta em gastar milhões de euros para reduzir a metade o tempo do trajecto ferroviário entre Lisboa e Porto, quando todo o interior do país não tem qualquer ferrovia.

Mas as lacunas e os obstáculos ao nosso desenvolvimento económico não deveriam esconder o que está em causa agora, e já, nesta Europa, da qual os portugueses não querem desistir.

A esmagadora maioria dos portugueses não quer sair desta Europa da moeda única e da livre circulação de pessoas e bens.

Desde 2014, os 751 deputados do Parlamento Europeu estão distribuídos por oito grupos políticos, dos quais quatro constituem a maioria dos deputados que serão decisivos nas escolhas, acima mencionadas, da futura liderança da UE: o grupo socialista europeu (S&D) com 191, o grupo popular europeu (PPE) com 221, o grupo dos liberais democratas (ALDE) com 67 e o grupo ecologista Os Verdes (Green/EFA) com 50 deputados.

O grupo do PPE inclui sete deputados portugueses do Partido Social Democrata e do CDS. Este grupo do PPE tem vindo a ser muito criticado por ter feito apenas uma advertência à Hungria, onde o Estado de Direito tem vindo a ser posto em causa pelo senhor Viktor Órban.

Questionado por um estudante, sobre a ineficácia dessa advertência versus uma expulsão não realizada pelo PPE, o deputado Paulo Rangel respondeu que também o Partido Socialista tinha convidado os primeiros-ministros da Roménia e de Malta para a recente reunião em Lisboa da Internacional Socialista. É a típica resposta às asneiras, dos miúdos do pátio da escola.

Também a Alemanha, que detém o maior número de deputados no Parlamento Europeu (96), apresenta-se agora a estas eleições com um novo partido de extrema-direita (AfD) que detém um enorme peso eleitoral contra a democracia.

No caso do grupo Os Verdes, que têm vindo a ser uma força política crescente em toda a Europa, estes não têm em Portugal uma representação partidária autónoma.

O grupo socialista S&D, com 191 deputados, contém oito deputados do PS, o grupo ALDE, com 67 deputados, contém dois deputados do MPT e o grupo GUE/NGL, com 52 deputados, contém quatro portugueses, três do PCP e um do BE.

A minha conclusão é simples. Se não quisermos que os próximos líderes europeus sejam escolhidos por grupos políticos do PE onde a representação da extrema-direita dos Salvini, dos Órban, dos AfD alemães e das Le Pen está a crescer, então o voto terá de ser nos deputados europeus do Partido Socialista. E isto mesmo não gostando da escolha do seu cabeça de lista. Não há volta a dar-lhe.

Não sei quantos simpáticos deputados do Livre, do Bloco de Esquerda e do PCP serão eleitos nestas eleições europeias, mas sei que não terão um peso numérico determinante para a eleição dos próximos líderes da União Europeia.

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